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Discursos violentos soam alarmes antes das eleições de meio de mandato dos EUA

“Eu proponho a guerra”, dizia um post de sua conta, agora excluída, na plataforma Truth Social de Trump, informou a imprensa americana

Redação Jornal de Brasília

11/10/2022 15h18

Foto: Roberto Schmidt/ AFP

Quando um apoiador de Donald Trump foi morto a tiros pela polícia após atirar em um escritório do FBI no centro-oeste dos Estados Unidos, os investigadores recorreram às redes sociais para confirmar o motivo que já temiam.

Descobriu-se que ele havia falado em liderar uma “insurreição” contra as pessoas que “usurparam” o governo, em vingança pela realização de uma operação de busca e apreensão do FBI na residência do ex-presidente na Flórida em agosto.

“Eu proponho a guerra”, dizia um post de sua conta, agora excluída, na plataforma Truth Social de Trump, informou a imprensa americana. “Matar o FBI assim que o vir”.

Nos 21 meses desde que uma multidão pró-Trump invadiu o Capitólio dos EUA, a retórica violenta e os ataques que a situação encorajou tornaram-se uma tendência cada vez mais preocupante, alertam analistas.

Muitos especialistas se preparam para um aumento no discurso sobre “guerra civil” antes das eleições de 8 de novembro, à medida que o tom da campanha se torna mais belicoso.

No Twitter, as menções de “guerra civil” dispararam horas após a operação do FBI em busca de documentos confidenciais na mansão de Trump em Mar-a-Lago, na Flórida: de 500 tuítes por hora para 6.000, segundo o The New York Times.

Muitas foram chamados diretos ao armamento, prevendo uma guerra ou anos de insurgência.

Uma pesquisa do YouGov, realizada em agosto, mostrou que 54% dos autodenominados “republicanos fortes” acreditam que uma guerra civil é pelo menos “um pouco provável” na próxima década.

Entre eles está o fundador da milícia de extrema-direita Oath Keepers, que declarou após a derrota eleitoral de Trump: “Não vamos sair disso sem uma guerra civil”.

“Libertar Michigan!”

K. Campbell, veterano da inteligência militar, se preocupa com a ameaça de grupos como os Oath Keepers. “Entre os anos 70 e o início dos anos 80, os grupos de esquerda foram a maior ameaça (…) Mas nos últimos anos, os grupos de extrema-direita foram responsáveis pela maioria dos ataques nos Estados Unidos”, disse Campbell, que liderou avaliações de risco de segurança para o governo americano.

Trump invoca repetidamente a possibilidade de tumultos ao enfrentar uma derrota política ou legal.

Seu papel em alimentar a ira no dia do ataque ao Capitólio tem sido amplamente discutido, mas muitas vezes é esquecido que foi sua segunda transgressão deste tipo em meses.

Em abril do ano anterior, Trump instou seus seguidores a “Libertar Michigan!” em meio a uma série de mensagens inflamatórias criticando as restrições pela covid-19 no estado. Dias depois, manifestantes fortemente armados ocuparam a sede do governo de Michigan.

Membros do próprio gabinete de Trump, além do líder republicano no Senado e os democratas da Câmara que o desafiaram, responsabilizaram o ex-presidente pelos distúrbios de 6 de janeiro de 2021 em Washington.

Eles são apoiados por numerosos estudos que mostram uma relação entre retórica agressiva e violência política.

9.600 ameaças em um ano

As autoridades policiais afirmam que a violência de direita é a maior ameaça. O discurso que já foi tabu agora é comum na extrema-direita.

Ameaças contra membros do Congresso atingiram um recorde de 9.625 em 2021, de acordo com dados fornecidos pela Polícia do Capitólio. Há cinco anos, esse número era de 3.939.

Recentemente, uma legisladora democrata progressista foi abordada por um homem armado do lado de fora de sua casa. Outra transmitiu vídeos ao vivo de perseguidores fora do Capitólio.

Os conservadores na Câmara e no Senado também foram alvos de ameaças de morte e vandalismo em suas residências.

Para o condecorado ex-agente da CIA Michael Susong não há “ameaça crível” de guerra civil, embora reconheça que o discurso político “ultrapassou os limites da decência”.

“As plataformas de redes sociais e comunicações globais em tempo real podem exacerbar queixas reais e percebidas”, disse Susong, agora vice-presidente de inteligência global da empresa de gerenciamento de risco Crisis24.

© Agence France-Presse

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