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Mundo

Desinformação protagoniza podcasts americanos

O podcast “War Room”, de Steve Bannon, ex-assessor de Donald Trump, divulgou a maior quantidade de informações falsas em 2020

Redação Jornal de Brasília

09/07/2023 13h17

Foto: Agência Brasil

A desinformação sobre uma variedade de temas, desde fraude eleitoral até vacinas contra a covid-19, alcança milhões de americanos por um meio tão popular quanto opaco: o podcast.

Diversos podcasts – transmissões de áudio que os usuários podem escutar online em seus dispositivos móveis – promovem de forma direta afirmações falsas ou sem provas.

O think-tank The Brookings Institution descobriu que o podcast “War Room”, de Steve Bannon, ex-assessor de Donald Trump, divulgou a maior quantidade de informações falsas – alcançando 135 milhões de downloads – com acusações de fraude eleitoral nas eleições de 2020.

O comentarista Joe Rogan, cujo podcast é o mais popular no Spotify, também usou sua plataforma para promover tratamentos não comprovados contra a covid-19.

Analistas afirmam que as pessoas procuram por programas que reafirmam suas próprias crenças. No entanto, esse formato íntimo e conversacional também contribui para a disseminação descontrolada de desinformação.

“Há algo inerente à relação entre o apresentador e a audiência que confere esse nível de credibilidade, de confiança”, disse à AFP Valerie Wirtschafter, especialista em análise de dados que liderou a pesquisa do centro Brookings.

“E o desafio, é claro, é que qualquer pessoa pode ser um podcaster, pode ter um microfone e começar a falar sobre o que quiser”, acrescentou.

A equipe de Wirtschafter analisou 36.000 episódios e descobriu que 70% dos podcasts mais populares nos Estados Unidos compartilharam pelo menos uma afirmação desacreditada por verificadores de fatos. Muitos questionam as eleições de 2020 ou a pandemia do coronavírus.

Ao contrário das redes sociais, os podcasts oferecem poucas ou nenhuma opção para que a audiência comente ou refute a desinformação. Isso “torna mais fácil espalhar conteúdo falso, enganoso ou infundado com muito pouca supervisão”, destacaram os pesquisadores do centro Brookings em seu relatório de fevereiro.

Grande confiança da audiência

Um estudo do centro Pew de pesquisa – publicado em abril – revelou que cerca da metade dos americanos escuta algum podcast e 87% afirmou que espera que a informação seja precisa, o que representa um nível de confiança mais alto que o de outras mídias.

“A relação com o apresentador é diferente”, explicou à AFP Sylvia Chan-Olmsted, diretora de pesquisa sobre consumo de mídia da Universidade da Flórida.

“É como ter uma conversa um a um; você sente que essa pessoa está falando diretamente com você”, acrescentou. “As pessoas confiam mais e é por isso que tem um impacto maior”.

Responder à desinformação dos podcasts é um desafio, porque ela está descentralizada, baseada principalmente em um ecossistema de plataformas de áudio com diferentes regras de moderação.

O Spotify, por exemplo, possui uma política “perigosa” para proibir conteúdo, mas ao mesmo tempo busca “respeitar a expressão do autor”. A empresa apoiou Rogan em 2022 quando ele foi acusado de espalhar desinformação sobre o coronavírus.

A NewsGuard, uma empresa que avalia a credibilidade de sites da web, anunciou em maio que começará a avaliar a confiabilidade de podcasts populares e que publicará índices de cerca de 200 podcasts até 2024, proporcionando mais transparência à audiência e permitindo que os patrocinadores evitem podcasts com desinformação ou conteúdo que não esteja de acordo com sua marca.

A responsabilidade de combater a desinformação nos podcasts não está clara. Alguns apontam para as plataformas que os hospedam ou para as recomendações dos algoritmos de grandes empresas de tecnologia como Apple, Google e Facebook.

A analista Wirtschafter, do centro Brookings, afirma que governos, os próprios apresentadores de podcasts e o público podem, juntos, ajudar a melhorar a qualidade das informações.

“Remover coisas talvez não seja a melhor solução”, disse a especialista. “Mas adicionar mais contexto, fornecer um ambiente mais rico para que as pessoas possam explorar fatos ou ter conversas, acredito que isso seria extremamente útil”.

© Agence France-Presse

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