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Mundo

Crise no Sri Lanka se agrava com toque de recolher após fuga do presidente

A espiral do caos doméstico na ilha de 22 milhões de habitantes foi impulsionada pela pior crise econômica

FolhaPress

13/07/2022 17h07

Foto: Reprodução/ Twitter

A? iminente renúncia e a fuga do presidente do Sri Lanka, Gotabaya Rajapaksa, não aplacaram a crise na ilha, nem arrefeceram os protestos. A pedido do mandatário que agora está nas Maldivas, o premiê Ranil Wickremesinghe foi nomeado presidente interino nesta quarta (13), dando combustível à insatisfação popular.

Em uma de suas primeiras ações, Wickremesinghe decretou toque de recolher até a manhã de quinta (14). Antes, ele pediu, em discurso televisionado, que o Exército faça o necessário para restaurar a ordem. “Não podemos permitir que os fascistas tomem o controle.”

Manifestantes invadiram o gabinete do premiê, alçando bandeiras nacionais, e entraram em confronto com a polícia. Mais cedo, ele havia dito que trabalharia para decretar um estado de emergência em todo o território, o que ampliaria o poder de atuação das forças militares e da polícia. Até agora, no entanto, não formalizou a medida.

“[Os manifestantes] querem parar o processo parlamentar. Mas devemos respeitar a Constituição. Então as forças de segurança me aconselharam a impor estado de emergência e um toque de recolher. Estou trabalhando para fazer isso”, disse o presidente interino.

Nas ruas, a população pede que Wickremesinghe renuncie ao cargo. Ele, aliás, havia dito no sábado (9) -quando milhares incendiaram sua casa e invadiram a residência oficial de Gotabaya- que estaria disposto a deixar o cargo para apaziguar a crise doméstica. Até aqui, porém, não formalizou nenhum pedido de renúncia.

Aqueles que participam dos atos relatam a percepção de que o premiê representa uma continuidade da tradicional família Rajapaksa. “Queremos que Ranil renuncie”, disse S. Shashidharan, 30, que participava da ocupação do gabinete, à Reuters. “Prendam todos aqueles que ajudaram Gota (o presidente) a escapar.”

O agora presidente interino assumiu como primeiro-ministro após o irmão mais velho de Gotabaya, Mahinda Rajapaksa, ser forçado a renunciar em maio. Wickremesinghe pediu nesta quarta que o Parlamento nomeie um novo premiê para o seu lugar e apelou que o nome seja escolhido em comum acordo pela base governista e a oposição.

O presidente do Parlamento cingalês, Mahinda Yapa Abeywardena, disse ter sido informado por Gotabaya Rajapaksa, por telefone, de que uma carta sua formalizando a renúncia à Presidência chegaria ainda nesta quarta. Ele manteve a data das eleições para o próximo dia 20.

O mandatário, sua esposa e dois seguranças deixaram o principal aeroporto internacional perto de Colombo, a capital econômica do Sri Lanka, em um avião da força aérea, com destino às Maldivas. Pessoas próximas a ele disseram à Reuters que Gotabaya estaria em Malé, capital do arquipélago. De lá, ele partiria em breve para Singapura.

Além de invadir o gabinete do premiê, um grupo de manifestantes também entrou na sede da emissora estatal do país, e, durante uma transmissão ao vivo, um dos participantes exigiu que o canal exiba apenas imagens dos atos até que as demandas das ruas sejam atendidas. O canal, então, foi retirado do ar.

A espiral do caos doméstico na ilha de 22 milhões de habitantes foi impulsionada pela pior crise econômica em pelo menos sete décadas. As políticas adotadas pela família Rajapaksa, no poder, foram apontadas como cruciais para que, em abril, o país suspendesse o pagamento da dívida internacional e começasse a assistir à falta de combustível.

O governo inicialmente promulgou grandes cortes de impostos no final de 2019, almejando cumprir uma promessa de campanha e estimular a economia local. Somada à pandemia de Covid, que fez secar as receitas do turismo -fatia importante do PIB-, no entanto, a medida reduziu o arrecadamento do Estado e a capacidade de compra de combustível.

Somou-se a isso um dos últimos movimentos de Gotabaya, quando proibiu o uso de fertilizantes de origem estrangeira sob a justificativa de promover a agricultura orgânica. Sem tecnologia disponível previamente, agricultores do país tiveram uma das piores colheitas no ano passado, e o preço dos alimentos, por consequência, subiu.

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