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Começa julgamento de ex-ditador da Guiné por massacre ocorrido em 2009

“Estou em um sonho”, declarou Asmau Diallo, presidente da Associação de Vítimas, Pais e Amigos do 28 de setembro de 2009, antes da audiência

Redação Jornal de Brasília

28/09/2022 17h18

Foto: Hissène Habré .AFP/Stringer

O julgamento do ex-ditador da Guiné Musa Dadis Camara e de uma dezena de ex-oficiais militares e do governo começou nesta quarta-feira em um tribunal de Conakry, onde eles deverão responder pelo massacre de 28 de setembro de 2009, que deixou centenas de vítimas.

As vítimas aguardavam o processo há tempos. “Estou em um sonho”, declarou Asmau Diallo, presidente da Associação de Vítimas, Pais e Amigos do 28 de setembro de 2009, antes do início da audiência.

Outra mulher, que não quis ser identificada por causa do estigma social associado aos abusos que sofreu, preparava-se mentalmente para este momento: “Sequer me atrevo a acreditar que meus estupradores estão vivos. O fato de este processo estar acontecendo me alivia.”

Em 28 de setembro de 2009, os Boinas Vermelhas da guarda presidencial, policiais, gendarmes e milicianos reprimiram uma concentração de milhares de apoiadores da oposição da Guiné reunidos em um estádio nos arredores de Conakry para tentar dissuadir Camara de concorrer nas eleições presidenciais de janeiro de 2010.

Os abusos contra mulheres sequestradas e detidos torturados se prolongaram por dias, tirando a vida de 156 pessoas e deixando centenas de feridos, segundo o relatório de uma comissão de investigação internacional encomendada pela ONU. Um total de 109 mulheres foram estupradas, de acordo com o documento.

As cifras reais, no entanto, podem ser muito maiores. Os atos cometidos constituíram crimes contra a humanidade, segundo a comissão.

O capitão Camara, atualmente com 58 anos, chegou ao poder por meio de um golpe de Estado ocorrido nove meses antes dos fatos, e foi afastado do cargo meses após o massacre. Estava exilado desde então em Burkina Faso e retornou a Conakry por ocasião do julgamento de sábado.

Tanto Camara quanto os demais acusados terão que responder por acusações como assassinato, violência sexual, sequestro, incêndio, saque e outros crimes. A comissão imputa a Musa Dadis Camara uma “responsabilidade criminal pessoal” pelos fatos ocorridos, uma vez que os oficiais e unidades envolvidos respondiam ao seu comando.

Segundo a comissão, tenha ou não dado a ordem para cometer esses crimes, Camara não fez nada para impedi-los. A expectativa é de que o processo dure meses.

© Agence France-Presse

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