Sylvia Colombo
Buenos Aires, Argentina
Na primeira reunião presencial de chefes de Estado do Mercosul, em Assunção, no Paraguai, houve uma clara fricção entre os presidentes da Argentina, Alberto Fernández, e o do Uruguai, Luis Lacalle Pou. No centro do conflito está a intenção do uruguaio de fechar um acordo de livre-comércio com a China, independente do bloco.
O argentino afirmou que, “em tempos de guerra, devemos nos unir e não nos iludirmos com soluções individuais, que são de curto alcance”. Fernández ainda advertiu que a Guerra da Ucrânia “deve trazer dificuldades e fome, por isso precisamos estar juntos, fortalecer o Mercosul e a Celac”.
Em resposta, Lacalle Pou afirmou que “neste tipo de reunião temos de dizer as coisas como são”, e que seu país não abriria mão das negociações com a China.
“Nós não iremos interromper esse processo por conta do Mercosul, porque entendemos que não há incompatibilidade”, afirmou.
“Além disso, quando as negociações estiverem avançadas, vamos convidar os países-membros do Mercosul a somar-se ao acordo. Mas, se não quiserem, não haverá problema, nós não vamos nos deter.”
O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (PL), ausente da reunião, enviou uma mensagem em vídeo, mas não se referiu ao caso. Afirmou apenas que seu governo apoia a redução da TEC (tarifa externa comum). Ele disse ainda que, diante das dificuldades do momento na região, sua gestão havia ampliado benefícios sociais.
Fernández fez referências à crise econômica que vive a Argentina, num dia em que o mercado esteve agitado com mais um aumento do dólar paralelo, que ultrapassou a fronteira dos 300 pesos e fechou o dia com a cotação de 324 pesos (o oficial está a 136).
O argentino afirmou que a situação se explica “por conta da terrível herança recebida”, referindo-se a seu antecessor, Mauricio Macri, que pediu empréstimo ao FMI. Ele também culpou a pandemia e a guerra.
Antes do encontro do Mercosul, houve uma reunião dos países integrantes do Prosul, na qual o Brasil foi representado pelo chanceler Carlos França. Na reunião, abordou-se o tema da segurança transnacional, e Abdo Benítez afirmou que há avanços nesta área, e um exemplo era o fato de terem sido presos os assassinos do promotor Miguel Pesce, executado quando estava em férias em Cartagena, na Colômbia.
O presidente colombiano, Iván Duque, não compareceu, mas foi representado pela vice-presidente e chanceler do país, Marta Lucía Ramírez.