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Argentina e Brasil confrontam exigências ambientais da UE em cúpula do Mercosul

“Não temos interesse em acordos que nos condenem ao papel de exportadores de matérias-primas”, afirmou

Redação Jornal de Brasília

04/07/2023 19h55

Argentina e Brasil, as maiores economias sul-americanas, confrontaram a “inaceitável” e “parcial” postura ambiental da União Europeia (UE) no acordo comercial com o Mercosul nesta terça-feira (4), durante uma cúpula do bloco na qual as posições relativas à Venezuela voltaram a provocar divisão.

A UE “nos apresenta uma visão parcial de desenvolvimento sustentável, excessivamente centrada no meio ambiente”, disse o presidente argentino, Alberto Fernández, anfitrião do encontro em Puerto Iguazú, no nordeste do país.

O Mercosul, que reúne Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, tenta concretizar um tratado de livre-comércio com a UE, depois que os dois blocos chegaram a um acordo de princípios em 2019, após mais de duas décadas de duras negociações, sem que ainda tenha sido ratificado.

No entanto, uma carta adicional ao acordo apresentada em março pelo bloco europeu de 27 países, com exigências ambientais relativas ao setor agropecuário, gerou ressentimento entre os sul-americanos.

Esse documento “é inaceitável. Parceiros estratégicos não negociam com base em desconfiança e ameaça de sanções”, enfatizou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

“Não temos interesse em acordos que nos condenem ao papel de exportadores de matérias-primas”, afirmou.

“Ninguém pode nos condenar a sermos fornecedores de matéria-prima que outros industrializam e depois nos vendem a preços exorbitantes”, acrescentou Fernández.

Do evento, com as Cataratas do Iguaçu como cenário, participam também o presidente uruguaio, Luis Lacalle Pou, e o paraguaio Mario Abdo Benítez. Também está presente o presidente da Bolívia, Luis Arce, cujo país espera sua adesão como membro pleno do bloco.

‘Espada na cabeça’

O retorno de Lula ao poder, em janeiro, deu um novo impulso ao diálogo com a UE, que ficou estagnado durante o governo de Jair Bolsonaro (2019-2022).

As exigências relativas ao meio ambiente criam, porém, uma névoa de desconfiança.

O presidente, que assumiu a Presidência rotativa do Mercosul nesta terça, alertou contra “imposições” nas negociações com a UE.

“É um acordo de companheiros, de parceiros estratégicos. Então, nada de um parceiro estratégico colocar a espada na cabeça do outro. Vamos sentar, vamos tirar as nossas diferenças”, ressaltou.

O Brasil ainda não apresentou ao bloco suas observações sobre as exigências ambientais europeias. Lula indicou que o governo brasileiro terá uma contraproposta logo.

É imperativo que o Mercosul apresente uma “resposta rápida e contundente”, disse Lula na cúpula presidencial realizada perto da tríplice fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai.

Bruxelas será sede de uma cúpula entre a UE e a Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac) nos dias 17 e 18 de julho, a primeira em oito anos. Lula não confirmou sua participação.

Com 62% da população e 67% do PIB da América do Sul, o Mercosul é o maior bloco comercial do continente, mas as assimetrias entre suas grandes economias – Brasil e Argentina – e as menores – Uruguai e Paraguai – dificultam o consenso.

O Uruguai, que negocia um tratado de livre-comércio com a China sem a anuência de seus parceiros do Mercosul, não assinou uma declaração conjunta da cúpula.

Discórdia sobre Venezuela

O Mercosul também mostrou divisões a respeito da situação na Venezuela.

Abdo Benítez e Lacalle Pou criticaram a inabilitação política por 15 anos na Venezuela da candidata presidencial opositora María Corina Machado, por decisão da Controladoria desse país.

A ex-deputada participa do processo de primárias organizado pela oposição ao governante chavista Nicolás Maduro com vistas às eleições presidenciais previstas para o ano que vem, que ainda não têm uma data definida.

“Choca frontal e escandalosamente com a clara carta dos direitos humanos”, disse o presidente paraguaio.

Para Lacalle Pou, com a inabilitação de Machado, “fica claro que a Venezuela não resultará em uma democracia saudável”.

Seus pares de Brasil e Argentina discordaram sobre expor esse assunto em fóruns internacionais.

Os problemas da Venezuela devem ser enfrentados pelos venezuelanos e “não com os demais países se metendo em questões internas”, opinou Fernández.

Lula, por sua vez, disse que não conhece os detalhes do caso envolvendo María Corina Machado, e ressaltou que não se pode “isolar” a Venezuela.

Em ocasiões anteriores, o presidente brasileiro defendeu Maduro e chegou a classificar as denúncias de autoritarismo na Venezuela como uma “narrativa”.

© Agence France-Presse

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