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A luta incansável das mães de manifestantes presos em Cuba

“Liberdade para Jorge e Nadir. Já chega. Eles são inocentes”, diz uma placa branca pintada com letras pretas pendurada na fachada da casa de Marta Perdomo

Redação Jornal de Brasília

09/07/2023 13h18

Foto: AFP

As cubanas Marta e Liset eram apenas duas moradoras do interior alheias à política e às redes sociais. Mas as sentenças de seus filhos por participarem das manifestações de 11 de julho de 2021 as tornaram ativistas incansáveis por sua libertação.

“Liberdade para Jorge e Nadir. Já chega. Eles são inocentes”, diz uma placa branca pintada com letras pretas pendurada na fachada da casa de Marta Perdomo, de 60 anos, na cidade de San José de las Lajas, 32 quilômetros ao sudeste de Havana.

A vida tranquila desta costureira se transformou em “dor e angústia” desde que, em 16 de julho de 2021, seis dias após os protestos, a polícia prendeu seus dois filhos: Jorge Martín, professor de programação de 40 anos, e Nadir, de 39, professor de inglês.

“Desde o primeiro dia em que foram levados, começou essa dor” e “quando começamos a fazer denúncias, a segurança do Estado começou a nos ligar e as ameaças começaram”, conta Perdomo à AFP, prometendo continuar lutando “custe o que custar”.

No mesmo dia prenderam Roberto Pérez, 40, um dos dois filhos de Liset Fonseca, 62, também moradora de San José, município de 80.000 habitantes. “Saber que ele é inocente e que está preso é uma tristeza tão grande”, diz esta dona de casa, em meio aos soluços.

Em 11 de julho de 2021, milhares de cubanos saíram às ruas em cerca de 50 cidades do país gritando “Liberdade” e “Temos fome”. Dois anos depois, cerca de 500 foram condenados, alguns até 25 anos de prisão, segundo dados oficiais.

“O maior crime”

Jorge cumpre oito anos de prisão por atentado, desacato e desordem pública. Nadir, seis anos por crimes semelhantes, todos “fabricados”, segundo Perdomo. Roberto, que ajudou a rasgar um cartaz de Fidel Castro durante os protestos em San José, segundo sua mãe, foi condenado a 10 anos.

“Talvez tenham cometido o maior crime que se pode cometer (em Cuba): pedir liberdade”, estima Perdomo.

Convencidas de que os filhos “não fizeram nada” para merecer estas penas de prisão “injustas” e “exageradas”, as duas mulheres começaram a divulgar os seus casos nas redes sociais, um dos poucos espaços abertos em uma ilha onde toda oposição é ilegal e os veículos de comunicação estão vinculados ao Partido Comunista, o único autorizado.

O governo comunista rotula a mídia digital independente de “mercenária”. ”Começamos a protestar, mesmo sem saber o que estávamos fazendo”, conta a costureira.

Segundo Fonseca, outras cinco mães da cidade têm filhos presos por causa dos protestos, mas “temem perder o emprego” caso protestem.

“Radicalizados”

O toque do celular de Perdomo interrompe a conversa e seu rosto se ilumina de alegria. “Meus filhos”, diz ela, e com certeza é Nadir. “Está tudo bem, mãe”, diz o jovem. “Estamos fortes e firmes”, afirma.

Minutos depois chega uma ligação de Jorge. “Naquele dia tínhamos uma consciência mais intuitiva (…), mas hoje radicalizamos mais o nosso pensamento” e “nos consideramos lutadores pela liberdade”, diz ele à AFP.

Marta e Liset se juntaram ao ‘Cuba de luto’, um coletivo formado por mães e esposas dos manifestantes presos para exigir sua libertação. Vestidas de preto, elas fazem caminhadas pacíficas e são muito ativas nas redes.

No entanto, os familiares “têm medo de se unir”, explica Fonseca, que decora a sala de sua casa com 33 fotos de integrantes do coletivo. Ela lembra que, em uma de suas visitas a Roberto na prisão, foi avisada: “Se você não ficar tranquila, seu filho vai arcar com as consequências”.

Essas mães aguardam desesperadamente os resultados do recente encontro no Vaticano entre o presidente cubano Miguel Díaz-Canel e o papa Francisco, depois que um enviado papal visitou Havana em fevereiro para pedir a libertação dos manifestantes presos.

© Agence France-Presse

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