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Ibovespa encerra no piso do dia, em baixa de 0,94%, a 127,3 mil pontos

A ação de maior peso no Ibovespa, Vale ON, chegou a operar em leve alta, mas perdeu força e fechou em baixa de 0,65%

Redação Jornal de Brasília

18/01/2024 18h58

Foto: Reprodução/ Flickr

O Ibovespa seguiu em queda pelo terceiro dia, tendo chegado a retomar o nível de 129 mil pontos pela manhã, sem força para sustentar recuperação mesmo com o favorecimento proporcionado por Nova York, onde os três índices subiram hoje entre 0,54% (Dow Jones) e 1,35% (Nasdaq). Ao fim, a referência da B3 mostrava perda de 0,94%, a 127.315,74 pontos, na mínima do dia, após ter atingido, na máxima de hoje, 129 046,63, com giro a R$ 22,8 bilhões nesta quinta-feira. Na semana, o índice recua 2,80% e, no mês, cai 5,12%.

A ação de maior peso no Ibovespa, Vale ON, chegou a operar em leve alta, mas perdeu força e fechou em baixa de 0,65%, também na mínima do dia, a R$ 69,00, apesar da estabilização nos preços do minério de ferro em Dalian, na China, que contribuiu para o avanço do setor de siderurgia (Usiminas PNA +2,77%, CSN ON +2,28%, Gerdau PN +1,22%) na sessão.

Por sua vez, Petrobras, mesmo com o petróleo em alta – sinal acentuado pela commodity à tarde, após a divulgação de queda acima do esperado para os estoques dos EUA -, fechou no vermelho, com ON em baixa de 0,74% e PN, de 0,40%. O dia foi negativo também para grandes bancos, com BB (ON -1,16%) e Bradesco (ON -1,13%, PN -0,57%) à frente.

“Bolsa caiu na contramão dos mercados internacionais, com destaque negativo para os setores financeiro e de construção”, diz Leandro Petrokas, diretor de research e sócio da Quantzed. “Parece ter sido um dia de retirada de capital estrangeiro. Vale lembrar que os investidores estrangeiros aportaram muito no Brasil em novembro e dezembro, e começaram janeiro em retirada, com destaque para o dia 16, em que a soma do mercado à vista e futuro foi superior a R$ 2 bilhões”, acrescenta.

Nesta quinta-feira, 18, para além do avanço do petróleo na sessão, duas empresas do setor foram destaque de alta, PetroReconcavo (+11,70%) e 3R Petroleum (+7,62%), ambas na ponta ganhadora do Ibovespa. Em nota, a Toro Investimentos aponta que, ontem, a Maha Energy anunciou ter passado a deter 5% do capital da 3R, e apresentou “proposta de transação que pode vir a beneficiar a empresa.”

“Os ativos onshore da 3R e seus passivos seriam segregados da estrutura e colocados à venda. Neste contexto, a PetroReconcavo se mostra como potencial interessada, vide a proximidade de vários ativos com possibilidade de criação de sinergias e o know how desta em operações onshore”, acrescenta a Toro.

O Citi avalia também que a combinação de negócios entre a 3R Petroleum e a PetroReconcavo proposta pela acionista da primeira, Maha Energy, possui sinergias operacionais claras, principalmente na infraestrutura e nos ativos midstream que desempenham papel importante no negócio onshore, reporta a jornalista Marcia Furlan, do Broadcast.

Do outro lado do índice, na ponta perdedora do Ibovespa, destaque na sessão para Magazine Luiza (-6,98%), Hapvida (também -6,98%), Vamos (-6,47%) e Energisa (-5,34%). A Energisa informou hoje que está trabalhando na documentação para realizar possível oferta pública de ações ordinárias e preferenciais, a fim de captar volume aproximado de R$ 2 bilhões nesta sexta-feira, 19, depois do fechamento do mercado.

Em fato relevante, a companhia disse que, caso a oferta seja realizada, a acionista controladora, Gipar, manifestou a intenção de acompanhar o aumento de capital na proporção de sua participação no capital social da empresa, de 27,7%, reporta a jornalista Ludmylla Rocha, do Broadcast.

No quadro mais amplo, os recentes sinais, neste começo de ano, de que o início do afrouxamento da política monetária nos Estados Unidos pode vir mais tarde do que o mercado vinha precificando em dezembro – o que foi decisivo para o Ibovespa buscar novas máximas históricas naquele mês – permanecem como pano de fundo da inapetência por risco – assim como a instabilidade geopolítica no Oriente Médio e a tibieza econômica na China, a que a Bolsa brasileira tem grande exposição, via commodities.

Hoje, o presidente do Federal Reserve de Atlanta, Raphael Bostic, disse que adiantou sua projeção para normalização dos juros do BC americano, do quarto para o terceiro trimestre do ano. “Dito isso, se continuarmos a ver uma acumulação de surpresas para baixo nos dados da inflação, posso ficar confortável em defender uma normalização mais cedo do que no terceiro trimestre”, afirmou Bostic, em discurso preparado para evento.

“Há uma calibragem ainda em curso, no mercado, com relação aos juros nos Estados Unidos. Isso pega a Bolsa em cheio, após se pensar que a taxa do Fed começaria a cair já em março. E quando se prolonga, quando se coloca para adiante a expectativa por juros mais baixos, afeta diretamente o apetite por ativos de risco, como ações”, diz Gabriel Mota, operador de renda variável da Manchester Investimentos, em referência à realização de lucros em andamento na B3 neste início de ano.

“Os rendimentos dos títulos americanos, os Treasuries, continuam a subir, com o de 10 anos pagando agora 4,12%, o que pressiona as Bolsas, principalmente aqui”, observa Felipe Leão, especialista da Valor Investimentos. Assim, o Ibovespa se manteve hoje no menor nível de fechamento desde 12 de dezembro (então aos 126,4 mil pontos), no intervalo anterior à sequência de máximas históricas que o colocaria aos 134,1 mil no encerramento de 2023. Desde o início do ano, em 13 sessões, o índice da B3 subiu em cinco e caiu em oito.

Juros

Os juros futuros fecharam o dia próximos dos ajustes, mas novamente com viés de baixa ao longo da curva. Mais uma vez, ficaram descolados das taxas americanas, que em sua maioria avançaram. Ajustes de apostas no início do ciclo de cortes de juros nos Estados Unidos mais uma vez deram o tom da sessão nos mercados.

As taxas dos contratos de depósito interfinanceiro (DI) oscilaram entre leves altas e leves baixas durante o dia, em parte embaladas pelas mudanças nas expectativas para os juros americanos. Mas, a partir de meados da tarde, firmaram-se em baixa, contrariando ganhos firmes nos rendimentos da T-Note de dez anos, a 4,1382% no fim da tarde.

“Entendo que já existe uma limitação de contaminação neste início de ano, dessa percepção de que vai demorar mais para cortar os juros lá fora”, afirma o estrategista da RB Investimentos Gustavo Cruz. “Tudo bem, pode cortar um pouco menos ou um pouco mais devagar aqui, mas não vão mudar para onde a taxa vai.”

A taxa do DI para janeiro de 2025, o mais negociado da sessão, caiu de 10,116% no ajuste anterior para 10,095%. O juro do DI para janeiro de 2026 recuou de 9,786% para 9,760% e o do contrato para janeiro de 2027, de 9,963% para 9,920%. A taxa do DI para janeiro de 2029 cedeu de 10,387% para 10,355%.

Segundo Cruz, alguns fatores domésticos também podem ter favorecido o viés de baixa dos juros. Ele cita notícias desta semana que mostraram o desligamento de mais de 800 mil beneficiários do programa Bolsa Família após um pente-fino feito pelo governo como um dos pontos que tendem a beneficiar as taxas

“Nós vimos notícias surpreendentes do governo falando em algum corte de gastos, há quanto tempo isso não acontecia? Cortar gastos, passar um pente fino nos programas sociais, isso é algo que favorece os juros”, diz o estrategista.

No cenário doméstico, o destaque ficou novamente com o imbróglio da medida provisória (MP) da reoneração gradual da folha de pagamentos, que opõe governo e Congresso. Um documento divulgado hoje pela Fazenda afirma que a MP é uma alternativa à judicialização da desoneração. Segundo o texto, a medida levaria a uma renúncia de R$ 5,6 bilhões, contra R$ 12,3 bilhões no caso do modelo atual.

O Tesouro vendeu hoje, em leilão, lote integral de 7 milhões de Letras do Tesouro Nacional (LTN), com volume financeiro de R$ 5,119 bilhões, e de 2 milhões de Notas do Tesouro Nacional – Série F (NTN-F), com volume financeiro de R$ 1,942 milhão.

Dólar

O dólar à vista encerrou a sessão desta sexta-feira, 18, cotado a R$ 4,9311, em ligeira alta (+0,02%). Foi o quarto pregão seguido de valorização da moeda americana, que já acumula ganhos de 1,52% na semana. Na primeira hora de negócios, a divisa ensaiou uma desafogo e desceu até a casa de R$ 4,91 na mínima (R$ 4,9130), em meio a uma aparente realização de lucros. Ja o dólar futuro para fevereiro recuou 0,18%, a R$ 4,9370.

Operadores observam que, após a alta de 1,22% na terça-feira, o dólar mostrou fôlego mais restrito nas duas últimas sessões, sempre respeitando o teto de R$ 4,95 no fechamento. Na máxima hoje, a divisa atingiu R$ 4,9555. Essas movimentações sugerem mais um realinhamento ao comportamento da moeda americana lá fora do que um aumento da percepção de risco doméstico, apesar das dúvidas que rondam o quadro risco fiscal.

“A moeda teve um comportamento até estável, encerrando praticamente no mesmo patamar de ontem. Como não tivemos nenhum indicador local relevante para alterar a trajetória do câmbio, o real segue acompanhando o cenário externo”, afirma a economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ouribank.

No exterior, investidores afinam as apostas em torno do início do início de um ciclo cortes de juros nos Estados Unidos, enquanto assimilam indicadores da economia americana. Divulgados pela manhã, pedidos de auxílio-desemprego semanais recuaram 16 mil, para 187 mil, enquanto analistas esperavam 205 mil. Já as construções de moradias iniciadas nos EUA caíram 4,3% em dezembro, bem além da expectativa (-8,1%).

A safra de indicadores desta semana, com varejo ontem e seguro-desemprego hoje, reforça a resiliência da economia americana e traz dúvidas sobre a possibilidade de o Fed reduzir a taxa básica ainda no primeiro trimestre, diz Quartaroli, do Ouribank. As chances de início de ciclo de cortes em março, que já chegaram a superar 80%, agora estão pouco acima de 50%, segundo monitoramento de plataforma do CME Group.

O economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, ressalta que outros indicadores divulgados ao longo deste mês, como o relatório de emprego (payroll) e o índice de preços ao consumidor (CPI) referentes a dezembro, já traziam dúvidas sobre o grau de desinflação da economia americana. Além disso, há preocupação de que o conflito na região do Mar Vermelho, no Oriente Médio, possa em algum momento possam provocar problemas na cadeia de produção global, pressionando a inflação.

“Com esse cenário, o Fed tende a ser mais cauteloso. Se reduzir os juros já em março, corre o risco de ver a inflação deixar de ceder e ter que voltar a subir, o que pode afetar o ‘soft landing'”, diz Velloni, acrescentando que uma visão mais clara sobre o estado da economia americana virá a divulgação do CPI e do payroll referentes a janeiro e fevereiro.

À tarde, o presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic, disse que mudou sua expectativa para início de ciclo de cortes de juros nos EUA, do quarto trimestre para o terceiro. E acrescentou que se a inflação vier aquém do esperado pode “ficar confortável em defender uma normalização mais cedo do que no terceiro trimestre”.

Por aqui, o Banco Central informou que o fluxo cambial foi positivo em US$ 5,637 bilhões na semana passada (entre 8 e 12 de janeiro), com entradas líquidas de US$ 5,269 bilhões pelo canal financeiro e de US$ 368 milhões via comércio exterior. Com isso, o fluxo total acumulado em janeiro (até o dia 12) passou a ser positivo em US$ 3,575 bilhões.

Estadão Conteúdo

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