Ex-diretor do Banco Central, Fabio Kanczuk avalia que a alta de juros já impacta a atividade econômica. Nesse cenário, ele prevê que a Selic pode começar a ser reduzida em março ou maio do ano que vem.
Qual foi a sua leitura do comunicado do Copom?
Diria que não alterou minha percepção de o que vai ser o futuro. Tem duas coisas que estão rolando que são indicadoras de que os juros podem cair mais rápido.
Quais são elas?
Uma delas é que a expectativa de inflação para 2023 e 2024 está mais baixa. Não entendo direito por qual motivo está mais baixa. Os analistas dizem que é pelo fato de que os impostos estão caindo e, quando você derruba a inflação corrente, você também derruba a inflação futura. Eu tenho de dizer que a teoria econômica diz que isso não é verdade, porque, quando você reduz o imposto, você reduz a inflação corrente, e eleva a inflação futura. Você puxa um problema presente para um problema futuro, mas o fato é que o Focus está derrubando essa inflação futura. Então, tem menos projeção de inflação futura.
E qual é o segundo ponto?
Estou vendo a atividade um pouquinho mais fraca. Esperava que iria estar mais forte por conta dos estímulos fiscais. Se está um pouquinho mais fraca, imagino que é porque a política monetária está começando a ter um efeito sobre a atividade econômica. Se isso é verdade, a gente veria a atividade do quarto trimestre sensivelmente mais fraca, o que possibilitaria a queda de juros pelo Banco Central, talvez, já no fim do primeiro trimestre, em março, maio.
Como fica a projeção para o PIB, então?
Este ano o crescimento do PIB pode ser algo em torno de 2,7% e, no ano que vem, levemente negativo. Nesse cenário, o juro fecha 2023 em torno de 9%.
Estadão Conteúdo