Menu
Economia

Na véspera do Copom e do Fed, Ibovespa cai 0,86%, aos 127,4 mil pontos

Se vier a superar amanhã o revés de agosto, pode ser o maior recuo para o índice desde fevereiro de 2023, quando havia cedido 7,49%

Redação Jornal de Brasília

30/01/2024 19h10

Foto: Divulgação

O Ibovespa seguiu em terreno negativo pelo segundo dia, colocando as perdas em janeiro na casa de 5% nesta penúltima sessão do mês. Caso o porcentual se confirme amanhã, será semelhante à retração do índice em agosto passado (-5,09%), quando o Ibovespa registrou sua mais longa sequência de perdas diárias – ao todo, 13 -, na série histórica iniciada em 1968. Se vier a superar amanhã o revés de agosto, pode ser o maior recuo para o índice desde fevereiro de 2023, quando havia cedido 7,49%

Hoje, o índice oscilou dos 127.104,69 aos 128.492,38 pontos, encerrando a sessão em baixa de 0,86%, aos 127.401,81 pontos, com giro financeiro a R$ 21,8 bilhões, um pouco mais alto do que nas últimas sessões. Na semana, o Ibovespa recua 1,21% e, no mês, cai 5,06%.

Nesta terça-feira, a referência da B3 contou com apoio de poucos papéis entre as blue chips, em especial Santander (Unit +1,00%) – o banco abre a temporada de balanços trimestrais no Brasil, nesta semana. Petrobras, que sustentava leves ganhos mais cedo em dia positivo para o Brent e o WTI, perdeu força e fechou em baixa de 0,45% (ON) e 0,62% (PN).

Na ponta do índice, destaque para Suzano (+2,56%), Carrefour (+2,51%) e Embraer (+2,46%). No lado oposto, mais uma vez Gol (-26,97%), que se despede hoje da carteira teórica do Ibovespa, após queda livre da ação desde que a empresa entrou em recuperação pelo Chapter 11, na Justiça dos Estados Unidos. Destaque também para Casas Bahia (-8,32%) e Braskem (-5,64%) na ponta perdedora.

“Em véspera de decisão sobre juros do Federal Reserve, nos EUA, e do Copom, no Brasil, o dia foi de espera na Bolsa – que segue em realização de lucros, muito por conta da questão fiscal, com o rombo nas contas públicas no ano passado de R$ 230,5 bilhões deixando o mercado ainda um pouco desconfortável”, diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos. “Foi um dia sem grandes novidades e destaques, aguardando definição mais clara sobre o início dos cortes de juros nos EUA para que o volume possa voltar”, acrescenta.

A ação de maior peso no Ibovespa, Vale ON, manteve o sinal negativo nesta terça-feira (-0,56%), chegando ao fim do mês com perda acumulada de 10,91%. O Bank of America (BofA) avalia que a Vale reportou, ontem à noite, números de produção de minério de ferro “fortes” no quarto trimestre de 2023. Com base no relatório divulgado pela companhia, o banco reitera que a empresa deve apresentar Ebitda de cerca de US$ 6,5 bilhões no balanço do último trimestre do ano passado.

Para outro grande banco americano, o Goldman Sachs, os números vieram essencialmente em linha com o esperado – o que embasaria a reação neutra do mercado aos dados de produção e vendas do trimestre.

Apesar de o relatório da Vale em geral ter vindo dentro das expectativas, a ação acabou refletindo também o minério de ferro, que fechou esta terça-feira em baixa de 1,76% em Dalian. Prevalecem ainda preocupações sobre a demanda pelo insumo em meio à crise imobiliária na China, após a liquidação da antiga gigante do setor, Evergrande, pela Justiça de Hong Kong na abertura da semana.

O sócio-fundador da Verde Asset Management, Luis Stuhlberger, avalia que a China não passará por quebra abrupta equivalente à crise gerada pelo colapso do Lehman Brothers em 2008, nos EUA. Ele estima que as taxas de crescimento chinesas serão cada vez menores, em queda lenta e gradual, e que o país asiático exportará deflação para o mundo todo. “A China vai se convencer de que o menor dos males é desvalorizar a própria moeda”, disse Stuhlberger em evento do UBS nesta terça-feira, reportam os jornalistas Altamiro Silva Jr. e Aramis Merki II, do Broadcast.

Na B3, “além das questões sobre sucessão na mineradora, China é naturalmente o nome do jogo para Vale, que está com valuation atrativo – mas sofre com a incerteza, a falta de clareza sobre o ritmo da economia chinesa, o que dificulta a volta ao papel nesse momento”, diz Naio Ino, gestor de renda variável na Western Asset.

Em outro desdobramento recente relacionado à mineradora, o ministro dos Transportes, Renan Filho, disse hoje que a cobrança de R$ 25,7 bilhões da Vale pelo governo federal não tem relação com a tentativa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de emplacar o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega no comando da mineradora. O ministério dos Transportes notificou a Vale na última sexta-feira, 26, como mostrou o Estadão/Broadcast, por outorgas não pagas na renovação antecipada dos contratos das Estradas de Ferro Carajás e Vitória Minas. “O que fizemos foi cumprir recomendação do TCU Tribunal de Contas da União”, disse Renan Filho.

Olhando o Ibovespa como um todo e o quadro macroeconômico, Naio Ino, da Western Asset, destaca que, amanhã, os sinais do Federal Reserve sobre a orientação da política monetária serão fundamentais para eventual ajuste da curva de juros dos Estados Unidos, o que teria efeito global – lembrando que o cenário de corte de juros do Fed, na reunião de março, passou de 70%, no início do ano, para fatia minoritária das apostas, agora na casa de 40%, com a curva futura nos EUA tendo deslocado para maio a expectativa pela redução inicial, na visão do mercado.

“No quadro mais amplo, esta é a questão essencial. Houve uma correção neste início de ano em relação ao otimismo do fim de 2023, e o gringo, que então comprava ação na B3, passou a vender, resultando nesse fluxo de saída em janeiro”, diz Naio, acrescentando que, em dólar, a depreciação da Bolsa brasileira está em torno de 6,5% no mês, com o estrangeiro aproveitando para embolsar parte do dinheiro obtido em um mercado ‘outperformer entre os emergentes no ano passado.

Dólar

Após esboçar uma arrancada no início da tarde, quando bateu máxima a R$ 4,9820, o dólar à vista perdeu força nas últimas horas de negócios e encerrou a sessão desta terça-feira, 30, cotado a R$ 4,9454, praticamente estável (-0,01%). A recuperação do real à tarde se deu em meio a uma perda de força da moda americana no exterior, em especial na comparação com os principais pares latino-americanos da moeda brasileira, como o peso mexicano.

Além da já esperada instabilidade e troca de sinais na véspera da chamada “superquarta”, com anúncio de decisão de política monetária aqui e, em especial, nos Estados Unidos, operadores afirmam que os negócios já estão sob a influência técnica da rolagem de contratos futuros típica de fim de mês e de ajustes de posições para a disputa, amanhã, da formação da última taxa ptax de janeiro.

As máximas do dólar por aqui mais cedo também coincidiram com momento de maior pressão sobre divisas emergentes em meio a dados acima do esperado de abertura de postos de trabalho nos EUA em dezembro, segundo relatório Jolts. Além disso, o índice de confiança do consumidor americano em dezembro também subiu mais que as expectativas.

É consensual que o Fed vai anunciar amanhã manutenção da taxa básica no intervalo entre 5,25% e 5,50%. As atenções se voltam ao comunicado e, em especial, à entrevista coletiva do chairman Jerome Powell, que pode dar sinais sobre eventual início de corte de juros. Nas últimas semanas, apesar de indicadores de inflação comportados, dados mais fortes de atividade e do mercado de trabalho fizeram com que a aposta majoritária dos investidores para a primeira redução dos Fed funds migrasse de março para maio.

Segundo o economista-chefe da Nova Futura, Nicolas Borsoi, após o dólar ter subido ontem 0,71% sobretudo em razão da questão fiscal na esteira do déficit primário de 2,1% do PIB em 2023, hoje o comportamento da moeda americana esteve muito ligado ao ambiente externo. Ele observa que há receio em relação à atividade na China diante da sensação de que o governo chinês não vai aumentar estímulos econômicos para dar suporte à atividade e ao mercado acionário – o que se reflete na baixa do minério de ferro e deixa as moedas latino-americanas mais instáveis.

Outro ponto é a correção do otimismo exagerado dos investidores em torno não apenas do início mas também da magnitude dos cortes de juros nos Estados Unidos ao longo deste ano. Ele destaca que o resultado do relatório Jolts revela que há ainda um desequilíbrio entre oferta e demanda no mercado de trabalho americano, cujo processo de normalização se dá em velocidade mais lenta do que a prevista.

“O câmbio está sofrendo impacto principalmente dessas duas variáveis: a dúvida com o crescimento da China e uma correção do super otimismo com os juros americanos. O real não está performando tão mal assim porque começamos a ter notícia de que vai ter fluxo, com emissão de empresas lá fora aproveitando a janela aberta pelo Tesouro”, afirma Borsoi, em referência à captação de US$ 4,5 bilhões pelo Tesouro Nacional em emissão de títulos em dólares no último dia 22.

Juros

Os juros futuros fecharam a terça-feira em leve alta, determinada pelo ambiente externo cauteloso nesta véspera de decisão de política monetária do Federal Reserve. Dados econômicos acima do esperado nos Estados Unidos pressionaram para cima os retornos dos Treasuries, levando a reboque os mercados de câmbio e juros no Brasil. No fim da tarde, o avanço das taxas nos EUA perdia força, retirando pressão da curva no Brasil.

Nada mudou nas apostas de manutenção de juros amanhã pelo Federal Reserve, mas houve redução nas expectativas de início do ciclo de cortes em março. A pressão externa foi contrabalançada por aqui pelos dados do Caged abaixo da mediana das estimativas, mas que também não alteram em nada a percepção sobre o Copom amanhã.

A taxa do contrato para janeiro de 2025 fechou em 10,000%, de 9,96% ontem no ajuste, e ao do DI para janeiro de 2026 subiu de 9,65% para 9,71%. A taxa do DI para janeiro de 2027 avançou para 9,89% (de 9,83%) e a do DI para janeiro de 2029 encerrou a 10,35%, de 10,29%.

Após hesitarem nos primeiros negócios, as taxas passaram subir no fim da manhã, alinhadas à reação do mercado de Treasuries aos indicadores nos EUA, em especial ao relatório de empregos Jolts, que mostrou aumento na abertura de postos ante previsão de recuo “Se não fosse esse relatório, a terça-feira seria só de expectativa pelo Fed”, disse a economista-chefe da B.Side Investimentos, Helena Veronese. “A sensação é que o mercado de trabalho está aquecido, o que acabou tendo impacto no câmbio e nos juros”, disse. O payroll será divulgado na sexta-feira.

“Os dados de emprego divulgados hoje mostraram resiliência da atividade econômica nos EUA e tiraram ainda mais a pressão sobre o Fed para iniciar o ciclo de redução dos juros, que tem maiores chances de ocorrer somente em maio”, comenta Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos.

A taxa da T-Note de dez anos chegou a bater, na máxima, 4,10%, mas no fim da tarde voltava a 4,05%. O dólar à vista fechou praticamente estável, a R$ 4,9454 (-0,01%), depois de tocar R$ 4,98 nas máximas. Com isso, a alta dos DIs perdeu força.

Até as decisões de política monetária amanhã, a tendência é de movimentos moderados no mercado de juros. A expectativa pelo Fed é maior do que pelo Copom, em especial pela sinalização que o presidente da instituição, Jerome Powell, deve dar na entrevista coletiva que se sucede à reunião. “Ele não dará indícios claros sobre o timing, mas pode comentar se o quão o tema está em debate entre os dirigentes, dado que a inflação está indo bem”, disse Veronese.

Internamente, a percepção é de que o Copom tende a ser um “não evento”, dada a manutenção, em linhas gerais, das variáveis econômicas desde a reunião de dezembro, o que justificaria a preservação da indicação dos diretores de novas quedas de 0,5 ponto porcentual na Selic “nas próximas reuniões”.

Na Pesquisa Focus, divulgada excepcionalmente hoje, a mediana de IPCA para 2024 até caiu, de 3,86% para 3,81%, depois da surpresa com o IPCA-15 na semana passada, mas a de 2025, que já está pesando mais no horizonte da política monetária, seguiu em 3,5%, acima do centro da meta de 3%. A mediana para Selic no fim de 2024 foi mantida em 9,0% e para 2025 e 2026, em 8,50%.

A agenda do dia teve os dados do Caged de dezembro. O fechamento líquido de 430.159 vagas foi maior do que apontava a mediana das estimativas, de 370 mil postos. O resultado de 2023, criação de 1.444,786, também veio pior do que o consenso (1.538.250).

Estadão Conteúdo

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado