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Economia

Inflação de serviços resiste e pode atrasar queda de juros no mundo, diz presidente do BC

A inflação veio caindo mais recentemente. Primeiro, a energia caiu muito e começou até a contribuir negativamente na inflação

Redação Jornal de Brasília

04/03/2024 16h58

Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil/Arquivo

JÚLIA MOURA

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Enquanto o preço de bens e produtos tem se estabilizado, o de serviços segue resiliente mundo afora, especialmente nos países desenvolvidos, o que requer uma “atenção especial”, afirmou nesta segunda (4) o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

“Os Estados Unidos têm, por exemplo, uma inflação de serviços que ainda está 5%, apesar de na ponta estar um pouquinho menor. A inflação de serviços está relativamente alta, mas a inflação de bens está negativa, ou seja, há uma desinflação de bens”, disse o economista.

Nos EUA o CPI, equivalente ao IPCA, acumulou uma alta de 3,4% ante a meta de 2%. O núcleo ficou em 3,9%.

“Os últimos números de inflação nos EUA foram um pouquinho para cima, tanto lá quanto na Inglaterra. A inflação parou um pouco de cair. Começamos a ver que a velocidade da desinflação diminuiu”, disse Campos Neto.

A força nos preços de serviços é um dos fatores por trás da cautela do Fed (Banco Central americano) em baixar juros, o que pode afetar o ciclo de cortes na Selic.

Segundo Campos Neto, além da força nos preços de serviços, o crescimento da dívida americana para além do PIB (Produto Interno Bruto) do país também é outro fator de preocupação. “Só que tem um problema, não é só a dívida mais alta. A dívida subiu muito, mas o custo da dívida também subiu muito. Isso significa que vai ter um efeito de liquidez no mercado”, afirmou Campos Neto.

De acordo com o economista, os EUA saíram de um padrão histórico de dívida pública de 50% do PIB para 181% do PIB em 2053, segundo estimativas do mercado.

“Isso afeta o mundo emergente, afeta as empresas, é um efeito cumulativo. Ao longo do tempo, essa liquidez vai saindo do mercado. Não é uma coisa que as pessoas estão falando muito hoje, mas acho que é um ponto que a gente precisa observar”, disse o presidente do BC.

Uma entrada menor de recursos do Brasil pode enfraquecer o real ante o dólar, e causar um aumento na inflação. Efeito semelhante ao de juros altos nos EUA, que retém mais investimentos.

Caso a inflação brasileira volte a acelerar o ciclo de redução da Selic, hoje em 11,25% ao ano, pode ser afetado.
Outro fator que impulsiona os preços é o baixo desemprego mundo afora. “O desemprego caiu rapidamente. No Brasil, está bem baixo. A parte de serviços é intensiva em mão de obra.”

Dessa forma, a inflação de serviços no Brasil teve uma leve alta nos últimos meses. O indicador no acumulado de 12 meses chegou a desacelerar para o patamar de 5% ao fim de 2023, depois de 8% de 2022, mas acabou subindo para 6,2% ao fim do ano, segundo dados do BC.

“Quando a gente olha na margem, [a inflação de serviços] subiu um pouquinho”, afirmou Campos Neto, durante palestra na ACSP (Associação Comercial de São Paulo).

A inflação veio caindo mais recentemente. Primeiro, a energia caiu muito e começou até a contribuir negativamente na inflação.

Depois, alimentos começaram a cair. Mas, quando a gente olha os núcleos de inflação, que é a parte mais estrutural, essa queda tem sido bem mais lenta”, afirmou Campos Neto.

Considerando o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) cheio, a inflação brasileira encerrou 2023 a 4,62%, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a menor alta em desde 2020 (4,52%) e dentro da meta estabelecida.

“O núcleo da inflação ainda está bastante alto”, disse o economista. Segundo o BC, o núcleo inflacionário brasileiro está entre 5% e 6%.

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