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Economia

Ibovespa sobe 0,62%, perto dos 129 mil, e termina semana com ganho de 1,04%

A notícia de que o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega abriu mão de qualquer cargo na Vale, que deu impulso às ações da mineradora

Redação Jornal de Brasília

26/01/2024 18h58

Foto: Divulgação

Com boa contribuição de Vale (ON +1,67%) e Petrobras (ON +2,19%, PN +1,73%), o Ibovespa acentuou alta na tarde desta sexta, 26, e chegou a retomar a linha dos 129 mil pontos, que não é vista em fechamento desde o último dia 16. Por volta das 14h, o Ibovespa tocou máxima da sessão, então a 129 145,74 pontos, com a notícia de que o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega abriu mão de qualquer cargo na Vale, o que deu impulso às ações da mineradora, até então com desempenho discreto.

Nos últimos dias, a possibilidade de o governo insistir com Mantega para o conselho de administração ou mesmo tentar alçá-lo à presidência executiva trouxe volatilidade à ação de maior peso no Ibovespa – ou seja, cerca de 14,1% do índice.

Ao fim, o índice da B3 mostrava alta mais acomodada, de 0,62%, aos 128.967,32 pontos, e ganho de 1,04% na semana – o primeiro avanço semanal deste começo de 2024, após perdas consecutivas nos três intervalos iniciais do ano, que aproximavam o Ibovespa de 5% de queda no agregado. Com a recuperação parcial nesta quarta semana de janeiro, o Ibovespa limita a perda do mês a 3,89%. O giro financeiro ficou em R$ 17,9 bilhões nesta sexta-feira, em que o índice da B3 saiu de abertura aos 128 195,76 e, na mínima, foi aos 127.868,80 pontos. Na máxima, renovada no fim da tarde, foi um pouco além do ‘efeito Mantega’, aos 129.252,15 pontos (+0,85%).

“A Vale se tornou uma corporation, uma empresa de capital pulverizado e com vários sócios. Seria muito difícil o governo interferir, e o Mantega não era um nome bem visto pelo mercado. De qualquer forma, as ações reagiram à tarde, de forma positiva, embora fosse muito difícil para o governo emplacar o Mantega”, diz Ramon Coser, especialista da Valor Investimentos.

O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, negou nesta sexta-feira que elogios feitos a Guido Mantega tenham relação com eventual indicação para o comando da Vale. Silveira afirmou que mantém contato com Mantega, e reforçou que tem grande admiração pela história do ex-ministro. E ressaltou que o governo não tem que indicar nomes e, muito menos, interferir na governança da empresa, reporta de Brasília a jornalista Marlla Sabino, do Broadcast.

A declaração foi dada por Silveira em entrevista a jornalistas no início da tarde – nos últimos dias, circularam relatos na imprensa de que o ministro, a pedido do presidente Lula, teria feito contatos com acionistas de referência para buscar vaga para Mantega na Vale. Ao falar sobre o tema, o ministro negou que o presidente tenha tratado de indicação para a mineradora, e classificou as recentes notícias como injustas. “Foram 48 horas de notícias sérias que comprometem a empresa, de capital aberto”, acrescentou.

No quadro mais amplo, desde a manhã, o Ibovespa operou em boa parte da sessão em terreno positivo, reagindo de forma moderada ao principal dado macroeconômico doméstico desta sexta-feira, o IPCA-15 A leitura da prévia da inflação oficial de janeiro foi favorável, embora com nuances qualitativas não tão boas, como o avanço do índice de difusão, métrica que monitora o espalhamento das altas de preços.

“O IPCA-15 – com medição entre 16 de dezembro a 15 de janeiro – teve alta de 0,31%, depois de ter subido 0,40% em dezembro, mostrando desaceleração. E o número veio bem abaixo do esperado”, aponta Inácio Alves, analista da Melver, acrescentando que a leitura desta manhã – divulgada antes da hora marcada pelo IBGE, por falha técnica – deu apoio à queda do dólar frente ao real e também dos juros futuros, conferindo sustentação ao Ibovespa nesta última sessão da semana.

“Apesar do número geral mais fraco que o consenso, e trazendo revisão para baixo na projeção do ano, a leitura qualitativa seguiu ruim. Serviços subjacentes acelerou e foi destaque pela terceira leitura seguida. Este grupo está mais alto do que em 2023 e próximo a 2021, quando rodou a 5,5% anualizado”, observa Andréa Angelo, estrategista de inflação na Warren Investimentos

Para além da leitura macro do dia, na B3, além do impulso proporcionado por Vale e Petrobras, as ações de grandes bancos também foram bem na sessão, com destaque para Itaú (PN +1,48%) e Bradesco (ON +0,36%, PN +1,04%). Na ponta do Ibovespa nesta sexta-feira, além de Petrobras ON (+2,19%), apareceram Usiminas (+5,20%), CSN Mineração (+2,40%) e Suzano (+2,04%). Na semana, Vale ON subiu 2,06%, mas ainda cede 9,97% em janeiro. Petrobras ON e PN, por sua vez, avançam na semana (+7,73% e +6,47%, pela ordem) e também no mês (+7,64% e +7,30%).

Na ponta perdedora na sessão, destaque para Gol (-8,07%), CVC (-4,36%) e Localiza (-3,63%). A S&P Global Ratings rebaixou hoje a nota global da Gol Linhas Aéreas, de “CCC-” para “D”, após a empresa protocolar pedido de reestruturação pelo Chapter 11 do Código de Falências dos Estados Unidos, aceito nesta sexta-feira O rating em escala nacional também foi cortado, de “brCCC-” para “D”.

As expectativas do mercado financeiro para as ações no curtíssimo prazo mantiveram-se equilibradas no Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira. Entre os participantes, as previsões de alta, de queda e de estabilidade para o Ibovespa na próxima semana têm fatia de 33,33%, a exemplo do que já havia sido registrado na pesquisa anterior.

Dólar

Em um pregão morno, o dólar à vista encerrou a sessão desta sexta-feira, 26, em baixa de 0,24%, cotado a R$ 4,9110, acompanhando o sinal predominante de baixa da moeda americana lá fora. Apesar da agenda carregada aqui e no exterior, a taxa de câmbio pouco se mexeu, com oscilação de menos de dois centavos entre a mínima (R$ 4,9025) e a máxima (R$ 4,9205), ambas pela manhã.

Leitura comportada de índice de inflação nos EUA em dezembro manteve inalterada a expectativa de que o Federal Reserve inicie um ciclo de corte dos juros ainda no primeiro semestre, com apostas majoritárias voltadas para maio. Por aqui, o avanço de 0,31% do IPCA-15 de janeiro – abaixo do piso expectativas de analistas ouvidos por Projeções Broadcast (0,38%) – reforça a expectativa de que o Comitê de Política Monetária (Copom) mantenha o ritmo de redução da taxa Selic em 0,50 ponto porcentual por reunião.

Após o avanço de 1,23% na última segunda-feira, 23, diante de temores de que a nova política indústria do governo Lula agravasse a situação das contas públicas, o dólar recuou nos quatro pregões seguintes no mercado doméstico de câmbio, para encerrar a semana em leve baixa (-0,32%). Lá fora, pares do real, como o peso mexicano e o colombiano, amargaram perda semanal frente ao dólar. Em janeiro, contudo, a moeda ainda acumula valorização de 1,19% ante o real.

Embora esclarecimentos do vice-presidente Geraldo Alckmin de que não haverá aportes do Tesouro ao BNDES para sustentar a nova política industrial tenham contribuído para arrefecer os ânimos, a queda do dólar nos últimos quatro pregões foi atribuída em grande parte ao quadro externo. Apesar de a primeira leitura do PIB americano no quatro trimestre ter vindo forte, o processo de desinflação nos EUA segue em curso, diminuindo os temores de que o Fed possa adiar o ciclo de cortes para o segundo semestre. Houve também anúncio de redução de depósito compulsório na China e alta das commodities, como minério de ferro e, sobretudo, do petróleo.

O Departamento do Comércio do EUA informou pela manhã que o índice de preços de gastos com consumo (PCE na sigla em inglês) – medida de inflação preferida pelo Fed – e seu núcleo subiram 0,2% em dezembro, em linha com as expectativas. Na comparação anual, o índice cheio avançou 2,6%, como esperado, ao passo que o núcleo subiu 2,9%, levemente abaixo das expectativas (3,0%).

O economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, observa que os índices de inflação, como o PCE divulgado hoje, têm mostrado convergência da inflação para a meta de 2%, mas chama a atenção para a resiliência dos preços de serviços. Além disso, os dados de atividade mostram que a economia americana segue forte, o que deixa o BC americano mais confortável em postergar um pouco o início da redução de juros. “Se a economia estivesse desacelerando, talvez o Fed antecipasse o corte para março baseado na inflação. Mas o primeiro corte ainda deve vir ainda no primeiro semestre, em maio ou junho”, diz Lima.

Para o economista, o real ainda tem espaço para se apreciar, uma vez que segue “bastante depreciado em ternos reais” e conta com dois pontos favoráveis: termos de troca muito fortes e diferencial entre juros interno e externo ainda elevado, apesar do ciclo de queda da taxa Selic. A questão fiscal doméstica, diz Adauto, tem influenciado apenas esporadicamente e de forma muito pontual a formação da taxa de câmbio, uma vez que os investidores já embutiram nos preços a perspectiva de que haverá déficit primário neste ano, provavelmente em uma faixa entre 0,5% e 1% do PIB.

Juros

Os dados de inflação divulgados hoje conduziram a trajetória dos juros, promovendo queda em toda a extensão da curva. Com um headline muito abaixo do esperado e leitura ruim dos preços de abertura, o IPCA-15 de janeiro melhorou apenas marginalmente a percepção sobre o ritmo da Selic. Lá fora, o índice de preços dos gastos com consumo (PCE, em inglês) nos EUA de dezembro veio em linha com o esperado, mas outros recortes do dado, como a sequência de desaceleração da inflação nos últimos meses, agradaram, reforçando a ideia de que o Federal Reserve poderá abrir o ciclo de corte de juros em maio.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 voltou a ficar abaixo de 10%, fechando aos 9,96%, de 10,01% ontem no ajuste. O DI para janeiro de 2026 encerrou com taxa de 9,62% (9,67% ontem no ajuste) e a do DI para janeiro de 2027 caiu de 9,83% para 9,79%. O DI para janeiro de 2029 terminou com taxa de 10,23%, de 10,28%.

O IPCA-15 contrariou o consenso de aceleração ante dezembro (0,40%) e arrefeceu para 31%, ficando não somente abaixo da mediana das estimativas (0,47%), como também do piso de 0,38%.

Para contrabalançar a surpresa positiva, os preços de abertura decepcionaram, com salto de mais de 10 pontos porcentuais no índice de difusão (55,8% para 67%). Houve também pressão de serviços subjacentes, que têm atenção especial do Banco Central na política monetária, acelerando de 0,39% em dezembro para 0,68%, ante mediana de 0,50%, com taxa anualizada perto de 5%.

“Se alguém tinha esperanças de o Copom acelerar (o ritmo de corte da Selic) para 0,75 ponto porcentual, me parece muito improvável agora. Selic terminal abaixo de 9% também”, afirma o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi. Ele diz ainda que mesmo uma taxa terminal de 9% “começa a perder probabilidade”.

O Copom decide na quarta-feira sobre a Selic, com apostas unânimes de nova redução de 0,5 ponto.

Para Marianna Costa, economista-chefe do TC, o IPCA-15 não altera as expectativas com relação à Selic, seja sobre o ritmo de queda de 0,50 ponto, seja sobre a taxa terminal. Tampouco deve mudar algo no discurso do Banco Central. “O mercado já vinha recuando da ideia de uma taxa abaixo de 9%, sobretudo pela questão fiscal”, afirma.

Na curva do DI, o economista-chefe do banco Bmg, Flávio Serrano, informou que a precificação nesta tarde era de taxa terminal de 9,25%, ante a faixa de 9,25% e 9,50% ontem. Para as três próximas reuniões, a curva segue apontando 0,5 ponto.

Nos Estados Unidos, o índice PCE, medida preferida de inflação do Federal Reserve, de dezembro veio dentro do esperado, tanto o dado cheio quanto o núcleo, mas o mercado valorizou a tendência de desaceleração que a inflação vem apresentando nos últimos meses. Em bases anualizadas, a inflação cheia roda a 2,6% e o núcleo a 2,9%, de 3,2% em novembro.

“A trajetória inflacionária segue benigna com o índice cheio se aproximando da meta do Fed. A divulgação corrobora a ideia de que a inflação, embora elevada, continua a ceder, criando as condições para o Fed começar a cortar as taxas de juro ainda este ano”, afirma William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue.

O mercado de juros encerra a semana acumulando alívio nos prêmios de risco ante a semana anterior e superando uma sequência de ruídos domésticos nos últimos dias, cujo impacto foi neutralizado pelo otimismo sobre os juros globais e estímulos anunciados pela China. As taxas curtas recuaram cerca de 15 pontos-base; as intermediárias, em torno de 10 pontos; e as longas, aproximadamente 5 pontos.

Estadão Conteúdo

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