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Economia

Ibovespa sobe 0,33% e retoma 126 mil pontos; dólar tem ligeira alta e supera R$ 4,90

O giro foi a R$ 27,0 bilhões nesta quarta-feira. Na semana, o Ibovespa sobe 1,01%, com ganho no mês a 11,39% e, no ano, a 14,85%

Redação Jornal de Brasília

22/11/2023 18h48

Foto: Divulgação

O Ibovespa retomou trajetória moderadamente positiva após a leve pausa do dia anterior, quando vinha de quatro ganhos seguidos. Na máxima desta quarta-feira, 22, foi a 126.875,11 pontos, maior nível intradia desde 16 de julho de 2021, então a 128.010,15 pontos. O Ibovespa fechou hoje aos 126 035,30 pontos, em leve alta de 0,33%, conseguindo, assim, sustentar marca não vista em encerramento desde 28 de julho de 2021. O giro foi a R$ 27,0 bilhões nesta quarta-feira. Na semana, o Ibovespa sobe 1,01%, com ganho no mês a 11,39% e, no ano, a 14,85%.

O índice da B3 chegou a perder a linha dos 126 mil pontos no meio da tarde, quando o Ministério do Planejamento divulgou boletim bimestral com atualização de projeções, que trouxe aumento da estimativa de déficit primário para 2023, de R$ 141,4 bi para R$ 177,4 bilhões – revisão mal recebida pelo mercado, com reflexo também em outras classes de ativos, como os juros futuros. Até então, a mínima do dia correspondia ao nível de abertura, aos 125.626,20, mas a piora de percepção dos investidores levou o Ibovespa a flertar com o negativo na sessão, atingindo os 125.439,03 pontos, em leve baixa de 0,15%, no pior momento da tarde.

“O Ibovespa subia quase 1% no começo da manhã, mas perdeu força ainda na virada para a tarde, puxado por Vale e Petrobras. À tarde, logo depois do aumento da projeção de déficit primário para 2023, a Bolsa piorou, com redução também na projeção do PIB para 2024, de alta de 3,16% para 3,04%. Em Nova York, o dia foi também de ganhos moderados, com os balanços do terceiro trimestre e a ata de ontem do Fed”, diz Rafael Gamba, assessor da Blue3 Investimentos.

“Aqui, o mercado reagiu bem a declarações do presidente do BC, Roberto Campos Neto, (na noite de ontem, em entrevista à TV Bloomberg), de que há condições para que a Selic continue a ser cortada”, acrescenta o analista.

“Petrobras, em dia de ajuste negativo para o petróleo, e Vale (ON -1,10%) impediram um ganho maior do Ibovespa na sessão, dando uma segurada no índice desde a manhã. Esses ativos estão ex-dividendos hoje, ou seja, quem dormiu de ontem para hoje com os papéis ficou elegível para receber dividendos, e hoje vem uma realização natural e saudável, na passagem da data com para a data ex”, diz Gabriel Mota, assessor de renda variável da Manchester Investimentos, acrescentando que, à tarde, o aumento da projeção de déficit primário para 2023 trouxe um “pouco de ruído” e volatilidade.

Petrobras, contudo, ainda que tenha mantido o sinal negativo, fechou a quarta-feira na máxima do dia, com a ON em baixa de 0,08% e a PN, de 0,17%, o que tirou pressão do Ibovespa e assegurou que o índice encerrasse um pouco acima dos 126 mil.

“O mercado piorou após o governo ter ampliado a previsão de déficit primário para este ano. O Ibovespa, que subia cerca de meio por cento após a aprovação da tributação de fundos exclusivos e offshore na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado – e também dos sites de apostas -, chegou a zerar os ganhos e fechou o dia um pouco acima da estabilidade, depois de ter batido, mais cedo, nos 126,8 mil pontos, na máxima da sessão”, diz Felipe Leão, especialista da Valor Investimentos.

Ainda assim, o mês de novembro tem se destacado pela “forte valorização da bolsa brasileira, com 10 pregões positivos entre os 14 do mês até o momento, acompanhada por uma significativa entrada de capital estrangeiro”, observa Bruna Sene, analista da Nova Futura Investimentos. No mês, até o dia 20, houve entrada de R$ 12,389 bilhões, resultado de R$ 195,055 bilhões em compras, e vendas de R$ 182,666 bilhões. No acumulado do ano, o capital externo está positivo em R$ 18,757 bilhões.

“O desempenho ainda otimista reflete uma sequência de maior apetite por risco entre os investidores, em contexto em que se intensificam as apostas em possível pico nas taxas de juros globais”, aponta a analista da Nova Futura. “Investidores já começam a apostar em quedas dos juros a partir de março, o que tem se refletido no aumento do apetite por risco. Nosso cenário base é de que o Fed manterá as taxas de juros inalteradas nas próximas reuniões, iniciando uma queda a partir do terceiro trimestre do próximo ano”, diz Antônio Sanches, analista da Rico Investimentos.

Na ponta do Ibovespa nesta quarta-feira, destaque para IRB (+6,19%), Marfrig (+5,58%) e JBS (+4,04%), com Cemig (-9,71%), MRV (-3,40%) e Magazine Luiza (-2,35%) no canto oposto.

Dólar

Após uma manhã com viés de baixa, o dólar à vista ganhou certa força ao longo da tarde e voltou a superar R$ 4,90, em meio à perda de fôlego do Ibovespa. Houve também certo desconforto nas mesas de operação com a revisão para cima do déficit fiscal deste ano, o que acabou respingando na moeda brasileira.

Operadores ressaltam que, após o avanço de quase 1% ontem, o dólar andou entre margens estreitas, com investidores mais retraídos, na véspera de feriado do Dia de Ação de Graças nos Estados Unidos, que deve drenar a liquidez por aqui. Com oscilação de pouco mais de quatro centavos entre mínima (R$ 4,8781) e máxima (R$ 4,9198), o dólar encerrou cotado a R$ 4,9017, alta de 0,07%. Na semana, a moeda ainda acumula ligeira baixa (-0,09%).

O real se comportou bem quando se observa o sinal predominante de alta da moeda americana no exterior. O índice DXY avançou mais de 0,30% e chegou a superar a linha dos 104,00 pontos, com máxima aos 104,213 pontos. O dólar também subiu na comparação com a maioria das divisas emergentes e de países exportadores de commodities. O real e o peso mexicano foram os únicos que conseguiram, em certos momentos do pregão, ganhar terreno frente à moeda americana.

A agenda de indicadores americanos trouxe informações que refrearam um pouco o entusiasmo do mercado com a possibilidade de início de um ciclo de corte de juros nos EUA em maio de 2024. Os pedidos de auxílio-desemprego caíram mais do que o esperado na semana passada e houve leve revisão para cima das expectativas de inflação para 12 meses, segundo pesquisa da Universidade de Michigan.

“O mercado ainda digere as sinalizações da ata do Federal Reserve divulgada ontem, em que os membros do Banco Central americano reiteraram que as decisões monetárias serão feitas por partes e que não descartaram alta adicional de juros nos Estados Unidos”, afirma o CEO do Transferbank, Luiz Felipe Bazzo, acrescentando que, pela manhã, a moeda brasileira buscava se recuperar do tombo de ontem em meio a uma possível entrada de fluxo estrangeiro para a bolsa doméstica.

À tarde, houve certo desconforto no mercado local com a ampliação de estimativa de déficit primário em 2023 no Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas do 5º bimestre. A projeção passou de R$ 141,4 bilhões para R$ 177,4 bilhões. A meta de resultado primário do Governo Central deste ano é de saldo negativo de até R$ 213,6 bilhões, mas a Fazenda chegou a prometer no começo do ano um rombo bem menor, de 1% do PIB (cerca de R$ 100 bilhões).

O secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, ponderou que o déficit primário provável de 2023 deve ficar em torno de 1,32% do PIB. Uma das razões apontadas para um rombo menor que o valor de R$ 177,4 bilhões previstos no relatório é o “empoçamento” de recursos do governo federal, que deve ficar na casa de R$ 30 bilhões neste ano.

“O câmbio teve um comportamento errático hoje. Tentou melhorar pela manhã, mas depois deu uma piorada com a revisão de déficit maior. No fim, com o ‘empoçamento’, o déficit volta para os R$ 140 bilhões previstos antes”, afirma o sócio e diretor de Gestão da Azimut Brasil Wealth Management, Leonardo Monoli, ressaltando que a semana é de liquidez menor, com o feriado do Dia de Ação de Graças nos EUA. “É muito difícil extrair qualquer informação do movimento do câmbio com ambiente de baixa liquidez”.

Juros

Os juros futuros fecharam a quarta-feira em baixa moderada, influenciados por uma série de notícias na área fiscal, em especial, o avanço das pautas econômicas no Congresso, e pelo recuo nas cotações do petróleo, que endossam a perspectiva de queda nos preços da gasolina. O gatilho para o ajuste de baixa foi dado logo pela manhã, com declarações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ontem à noite, consideradas “dovish”. À tarde, as taxas reduziram o ritmo após a revisão para cima na projeção do governo para o déficit de 2023 e desaceleração da perdas do petróleo.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 caiu de 10,563% para 10,500% e a do DI para janeiro de 2026, de 10,30% para 10,24%. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 10,36% (de 10,43%) e a do DI para janeiro de 2029 encerrou a 10,77%, de 10,83% ontem.

Pela manhã, as taxas chegaram a cair quase 20 pontos-base, com o mercado repercutindo a aprovação, na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, do projeto de lei de taxação dos fundos offshore e fundos exclusivos. O governo conseguiu avançar ainda na proposta de taxação das apostas esportivas, também aprovada na CAE. As propostas fazem parte do pacote de aumento da arrecadação com o qual a equipe econômica conta para conseguir zerar o déficit primário em 2024.

O estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, afirma que a evolução das propostas no Congresso favoreceu hoje devolução parcial dos prêmios adicionados na curva nos últimos dois dias, enquanto o exterior contribuiu via baixa das commodities. “A queda nos preços do petróleo ajuda neste momento de pressão para corte de combustíveis”, disse. O petróleo chegou a cair mais de 4%, mas à tarde reduziu bastante o ritmo.

À tarde, a percepção de risco fiscal piorou um pouco depois da divulgação da revisão da estimativa de déficit primário de 2023 para R$ 177,4 bilhões, no Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas do 5º bimestre. No documento anterior, de setembro, a projeção de déficit era de R$ 141,4 bilhões. Assim, a nova previsão do governo fica mais perto da meta de saldo negativo de até R$ 213,6 bilhões, no valor ajustado divulgado neste documento, mas a Fazenda chegou a prometer no começo do ano um rombo bem menor, de 1,0% do PIB, ou cerca de R$ 100 bilhões.

“Trata-se de um movimento preocupante, que torna ainda mais desafiadora a missão de reequilibrar as contas em um prazo razoável”, afirmou o economista-chefe da Warren Investimentos, Felipe Salto, lembrando que a confiança na sustentabilidade fiscal é um dos determinantes da curva de juros.

A entrevista do presidente do BC, Roberto Campos Neto, à TV Bloomberg ontem à noite repercutiu logo cedo sobre as taxas. “Campos Neto deixou claro que o ciclo de cortes de juros devem continuar, mesmo com as expectativas de inflação de prazos mais longos ainda acima das metas”, destaca Gino Olivares, economista-chefe da Azimut Wealth Management.

Quando perguntado sobre quando o ciclo de afrouxamento vai terminar, Campos Neto disse que isso depende de muitos fatores, mas que está confiante de que “somos capazes de estabilizar a inflação”. “Quando observamos as expectativas de inflação, mesmo um pouco acima da meta, elas estão bem comportadas”, afirmou.

Na leitura de Olivares, a afirmação indica que o fato das expectativas estarem desancoradas obrigam o BC a manter postura contracionista, o que não implica que o nível de aperto monetário precisa ser o mesmo. “A mensagem deveria ser entendida dessa forma: ‘estamos cortando juros porque a inflação está caindo, e poderíamos cortar mais se as expectativas estivessem ancoradas.’ Não há como discordar.”

Estadão Conteúdo

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