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Economia

Ibovespa sobe 0,28%, a 127,7 mil, mas tem pior perda para janeiro desde 2016

A ponta curta esteve mais engessada, com pouca oscilação e players evitando definir posições antes do Copom

Redação Jornal de Brasília

31/01/2024 18h55

Foto: Reprodução/ Flickr

Os juros futuros terminaram o dia em baixa moderada a partir dos vencimentos intermediários, numa dinâmica conduzida basicamente pelo ambiente externo, com a reunião de política monetária nos Estados Unidos no foco. A ponta curta esteve mais engessada, com pouca oscilação e players evitando definir posições antes do Copom, ainda que a expectativa por mudanças no comunicado seja baixa.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 fechou em 9,985%, de 9,986% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026 caiu de 9,69% para 9,66%. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 9,79%, de 9,86% ontem, e a do DI para janeiro de 2029 passou de 10,32% para 10,23%.

Pela manhã, a curva americana já vinha sendo pressionada para baixo com dados mais fracos da pesquisa ADP, que trouxeram bom presságio para o payroll na sexta-feira. Pouco antes do resultado do comunicado, os DIs chegaram a renovar mínimas, perderam fôlego após o comunicado, voltaram a acelerar e depois a desacelerar com a entrevista coletiva do presidente da instituição, Jerome Powell.

Como amplamente esperado, o Fed manteve o juro na faixa de 5,25% a 5,50% ao ano, mas houve reação negativa ao comunicado, dada a avaliação dos diretores de que a economia “tem se expandido em ritmo sólido”, mudando a linguagem vista no comunicado de dezembro, no qual afirmavam que a atividade havia desacelerado.

Hoje na contramão de Nova York, o Ibovespa teve um respiro nesta última sessão de janeiro, embora em alta enfraquecida no fechamento a 0,28%, aos 127.752,28 pontos, em fim de mês no qual equilibrou dias de recuperação (ao todo, 10) e recuo (12). O sinal negativo, contudo, mostrou-se mais agudo no intervalo, tendo em vista o nível recorde de 134,1 mil pontos em que o índice havia encerrado dezembro – movido pela expectativa global, que prevalecia então, de que o Federal Reserve começaria a cortar juros já em março, e não em maio ou além.

Assim, neste janeiro de relativa frustração de expectativas, o índice da B3 acumulou perda de 4,79%, a maior para o mês desde o recuo de 6,79% na abertura de 2016 – foi também a pior retração mensal desde a queda de 5,09% em agosto passado. Hoje, com as atenções dos investidores concentradas à tarde nos sinais do Federal Reserve sobre a orientação da política monetária nos Estados Unidos, o Ibovespa oscilou entre 127.326,08 e 129.558,45 pontos (+1,69%, limitando então a perda do mês a 3,45%, o que não se confirmou afinal), com abertura a 127.401,93 na sessão.

Ainda que com menor vigor em direção ao encerramento, com a acentuação de perdas vista em Nova York perto do fim do dia, “boa parte da alta de hoje veio de correção técnica na B3 depois de um mês em baixa, em que o Ibovespa chegou a cair 5% em janeiro, com fluxo de saída do investidor estrangeiro”, diz Andre Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital.

“Até ontem, dia 30 de janeiro, o Ibovespa caía 5,1%, negociado a um múltiplo P/L de 9,2. No mês, houve saída relevante de capital estrangeiro, com as máximas históricas dos índices S&P 500 e Dow Jones, em Nova York, e a forte recuperação dos papéis de tecnologia na Nasdaq. Somado a isso, dados econômicos fracos e perspectivas piores para a China afetaram diretamente o Ibovespa, já que os papéis ligados a commodities têm peso preponderante na Bolsa brasileira”, observa Lucas Mastromonico, operador de renda variável da B.Side Investimentos.

Na ponta da carteira teórica na sessão, destaque para o salto em Soma (+16,81%) e Arezzo (+12,09%) após a confirmação, em fato relevante, de conversas entre as empresas sobre junção de operações – o que poderá envolver a unificação das bases acionárias, em companhia única com governança compartilhada. Outros nomes associados ao ciclo doméstico também foram bem na sessão, como Magazine Luiza (+6,06%), Cielo (+5,07%), Locaweb (+4,00%) e Casas Bahia (+3,82%).

“Magazine Luiza também seguiu em alta refletindo o otimismo quanto à oferta de ações, em que os controladores irão garantir um aporte de R$ 1 bilhão. Já a alta de Casas Bahia pode ser explicada por boa parte de posições ‘short’ vendidas sendo cobertas antes do comunicado do Copom nesta noite – além de que a empresa quer emitir mais R$ 1 bilhão, com Bradesco e Banco do Brasil ancorando a oferta”, acrescenta Fernandes, da A7 Capital

O dia na B3 também foi positivo para os grandes bancos, como Itaú (PN +1,08%) e Bradesco (ON +0,29%, PN +0,52%), à exceção de Santander (Unit -1,88%) que ontem havia subido 1%, na contramão do setor, e hoje caiu após o balanço trimestral.

No segmento de commodities, Petrobras chegou a se descolar do sinal negativo do petróleo na sessão – reforçado no começo da tarde por inesperado aumento nos estoques semanais dos Estados Unidos -, mas fechou sem direção única, com a ON em leve baixa de 0,02% e a PN em alta de 0,32%. Vale ON, por sua vez, manteve o viés negativo que prevaleceu ao longo do mês, encerrando o dia na mínima da sessão, em baixa de 1,48%, a R$ 67,76, e acumulando perda de 12,23% em janeiro.

“O PMI industrial da China, que veio mais fraco, manteve o setor de mineração e siderurgia na contramão do dia, ainda sendo descontado”, diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos. Além da Vale, destaque para recuo de 1,01% em CSN e de 1,08% em Gerdau. Na ponta vendedora do Ibovespa na sessão, além de Santander Brasil, presença de RaiaDrogasil (-3,62%) com o rebaixamento da recomendação do Citi, de neutra para venda, e Assaí (-2,78%). Também vieram entre as maiores perdedoras do dia as ações de Carrefour (-2,07%) e WEG (-1,97%).

Na B3, o giro financeiro subiu para R$ 27,1 bilhões nesta superquarta de decisões sobre juros nos Estados Unidos e no Brasil – daqui a pouco, será a vez de o Copom deliberar sobre a Selic, a qual se espera que seja reduzida, hoje, de 11,75% para 11,25% ao ano. Nesta tarde, o comitê de política monetária do Fed, o Fomc, manteve conforme o previsto a taxa de juros de referência no nível de 5,25% a 5,75% ao ano, por unanimidade.

O comunicado sobre a decisão do Fed incluiu, entre as novidades, um alerta de que o BC americano não espera que seja apropriado cortar juros até que se tenha maior confiança de que a inflação ao consumidor está caminhando de forma sustentável em direção à meta de 2%. Assim, pela ferramenta do CME, a chance de manutenção de juros em março voltou a ser precificada como a mais provável pelo mercado, passando de 43,6% antes do comunicado, para 52,8% por volta das 16h10. E a probabilidade de corte naquele mesmo mês recuou de 56,4% para 47,2%.

Por sua vez, o cenário de corte de 150 pontos-base a serem acumulados até o fim de 2024 ficou um pouco menos provável – passando de 39,5% para 38,8% -, mas ainda é a principal aposta dos investidores, reporta a jornalista Maria Lígia Barros, do Broadcast.

“O comunicado do Fed veio ainda bem conservador: seguiu comentando que a inflação cedeu, mas ainda não pode se desligar. Foi positivo ter retirado o trecho sobre possível aperto monetário adicional, mas negativo ter mudado a parte que falava sobre a economia desacelerar, mencionando agora que a ‘economia se expandiu em ritmo sólido'”, observa Marcelo Oliveira, CFA e co-fundador da Quantzed.

Nesta última sessão de janeiro, o dólar fechou o dia em baixa de 0,16%, a R$ 4,9374. À vista, havia se acomodado a R$ 4,85 no fechamento de 2023, em queda de 8% ao longo do ano passado, a maior baixa em sete anos. Tal ajuste refletia, então, tanto a relativa melhora da percepção fiscal doméstica como a redução dos custos de crédito lá fora – combinação que contribuiu para aumento de fluxo de recursos estrangeiros para a Bolsa a partir de novembro, com o fechamento na curva de juros futuros. Dessa forma, o Ibovespa, na moeda americana, encerrou 2023 aos 27 647,67 pontos.

Agora, ao fim de janeiro de 2024, o índice da B3, em dólar, está em 25.874,40 pontos, refletindo a alta de 1,73% da moeda americana no mês, frente ao real, e a queda de 4,79% acumulada pelo Ibovespa nesta abertura de ano. Em dólar, o Ibovespa havia terminado novembro a 25.905,58 pontos, superando então o ponto mais alto de 2023, no fim de julho, a 25.783,48 pontos, e também o ponto mais forte, em junho de 2021 (25.496,99), do período de recuperação iniciado em março daquele ano, ainda no contexto da pandemia.

Dólar

Em pregão instável e marcado por trocas de sinal, o dólar à vista se firmou em baixa na reta final dos negócios em meio a declarações do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, após a decisão do Banco Central americano de manter a taxa básica inalterada. Com máxima a R$ 4,9660 e mínima a R$ 4,9364, ambas registradas pela manhã, a moeda encerrou a sessão cotado a R$ 4,9374, em baixa de 0,16%. Apesar do refresco hoje, a divisa ainda sobe 0,54% na semana e encerra janeiro com ganhos de 1,73%

A instabilidade do dólar em boa parte do pregão refletiu tanto o ambiente de cautela à espera da decisão do Fed quanto questões técnicas, como a rolagem de posições futuras e a disputa pela formação da última taxa ptax de janeiro, com a tradicional queda de braço entre “comprados” e “vendidos”. Habitualmente divulgada por volta das 13h, a taxa ptax saiu pouco depois das 15h, em razão da operação padrão dos servidores do Banco Central. Mais líquido a partir de hoje, o contrato de dólar futuro para março apresentou giro expressivo, superior a US$ 20 bilhões.

“O pregão foi marcado pela briga pela formação da Ptax, com os ‘comprados’ aparentemente conseguindo uma taxa forte, de R$ 4,9535”, afirma o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, para quem, além da influência externa, o dólar ainda carrega um prêmio relevante por conta do risco fiscal doméstico.

Como esperado, o comitê de política monetária do Fed (Fomc, na sigla em inglês) manteve a taxa básica no intervalo entre 5,25 e 5,50% ao ano. Houve algumas mudanças no comunicado que chamaram a atenção. Depois de afirmar em dezembro afirmou que a economia havia desacelerado, desta vez a autoridade disse que a atividade crescem em ritmo sólido.

O Fed reconheceu que houve progresso significativo no campo inflacionário, embora a inflação se mantenha elevada. Apesar de dar sinais de caminhar para um quadro de maior equilíbrio, o mercado de trabalho segue apertado. O BC americano ainda incluiu no comunicado a afirmação de que não espera que seja apropriado reduzir os juros até que haja grande confiança de que a inflação se move de forma sustentável para a meta de 2%.

Após reação amena ao comunicado do Fed, os ativos chacoalharam em meio à fala Powell em entrevista coletiva. A primeira reação foi positiva, com queda do dólar no exterior e diminuição das perdas das taxas dos Treasuries.

Powell disse que já há confiança de que a inflação caminha para a meta, após seis meses de boas leituras de índices de preços, mas que ainda é preciso mais informações positivas para que o BC americano acumule uma “grande confiança” e comece a cortar as taxas. Segundo Powell, seria apropriado iniciar um processo de redução em algum momento neste ano, sentimento compartilhado por quase todos os dirigentes do Fed.

“O mercado se animou no começo do discurso de Powell. Apesar de adotar uma cautela, ele disse que, se tudo continuar caminhando na direção atual, é provável que haja cortes de juros neste ano. É mais provável que seja em maio ou junho”, afirma o sócio e head da Nexgen Capital, Felipe Izac, para quem o Fed ainda espera um “gatilho” mais forte para iniciar o processo de redução da taxa básica. “Ele comentou que a geração de empregos ainda é forte e que ajudaria se o mercado de trabalho mostrasse mais moderação”.

Parte do otimismo se desfez, levando o dólar a ganhar força em relação a moeda fortes, quando Powell disse que não achar provável que o Fed alcance um nível de confiança suficiente para cortar os juros já em março. Por aqui, o comentário de Powell fez o dólar à vista reduzir o ritmo de baixa nos minutos finais da sessão e levou o dólar futuro para março a mostrar instabilidade, alternando leves altas e baixas.

“O principal destaque foi Powell falando que não acha provável cortar juros em março, uma vez que o mercado estava com uma probabilidade implícita mais alta para isso. Esse fato deu certo suporte ao dólar”, afirma o diretor de investimentos da Alphatree Capital, Rodrigo Jolig, acrescentando que os ativos locais até que reagiram bem, com o Ibovespa se mantendo em alta apesar das perdas nas bolsas em Nova York, mas que o “cenário merece cautela”.

Juros

A partir de então, ampliou-se a expectativa pela entrevista de Powell. As declarações reconhecendo desaceleração da inflação de forma “notável” trouxeram maior alívio às curvas num primeiro momento, mas, ao mesmo tempo, ele considerou pouco provável que o início do ciclo de afrouxamento seja na reunião de março. No fim da tarde, o retorno da T-Note de dez anos, que operou abaixo de 4,00% durante boa parte da sessão, retomava tal patamar.

Para o economista-chefe da nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, a mensagem geral do Federal Reserve é dovish, embora menos do que o mercado esperava, dada a ênfase de que, mais do que a atividade, é o comportamento da inflação que vai balizar o processo de alívio monetário. “O Fed indica que vai cortar a taxa basicamente de olho na inflação, mas será bem conservador. Deve optar por atrasar o início do ciclo porque quer minimizar o risco de ter de voltar a subir”, afirmou.

Internamente, a agenda de indicadores trouxe a Pnad Contínua, com a taxa de desemprego recuando de 7,5% no trimestre até novembro para 7,4% até dezembro. Essa é a menor taxa de desemprego para um quarto trimestre desde 2014 (6,6%) e veio abaixo da mediana das estimativas dos analistas, de 7,5%. O dado reforça a ideia de que o ritmo de cortes de juro em 0,5 ponto porcentual é adequado para as próximas reuniões.

“A Pnad trouxe um sinal muito bom para a economia, de queda de desemprego sem aceleração nos salários. Sugere que é possível haver crescimento sem pressões inflacionárias”, afirma Borsoi.

Na sua avaliação, embora a perspectiva de curto prazo para o Copom de hoje seja a de um não evento, com manutenção da sinalização de novos cortes de 0,5 ponto nas próximas reuniões, o comunicado pode trazer algum debate sobre a taxa terminal. “Há pontos de discussão sobre o repique da inflação de serviços e o comportamento do juro neutro”, apontou.

Estadão Conteúdo

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