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Economia

Ibovespa inicia semana em leve alta de 0,23%, aos 118,4 mil pontos

Após melhora na última sexta-feira, o giro financeiro voltou a se enfraquecer neste começo de semana, a R$ 18,5 bilhões

Redação Jornal de Brasília

06/11/2023 19h09

Foto: Arquivo/Agência Brasil

O Ibovespa operou em leve viés de alta em boa parte do dia, mas a virada em Nova York do meio para o fim da tarde, ao negativo, chegou a tirar sustentação do índice da B3. Ao fim, com recuperação também em NY, fechou em alta de 0,23%, aos 118.431,25 pontos, o quarto avanço consecutivo para o Ibovespa, vindo de alta de 2,70% na última sexta-feira.

Ao longo da sessão, o índice da B3 operou em margem bem estreita, de cerca de 713 pontos entre a mínima (118.044,82) e a máxima (118.757,52) do dia, em que saiu de abertura aos 118 159,97 pontos. Nessas primeiras sessões do mês, acumula ganho de 4,67% em novembro, que recoloca o avanço do ano a 7,93%. Após melhora na última sexta-feira, o giro financeiro voltou a se enfraquecer neste começo de semana, a R$ 18,5 bilhões.

“O Ibovespa teve um dia mais manso, de leve movimento de abertura na curva de juros doméstica, especialmente nos vértices intermediários e mais longos, mas sem ‘driver’ específico. Foi um dia pouco direcional para os ativos”, diz Lucas Serra, analista da Toro Investimentos.

O ganho moderado da ação de maior peso individual no índice, Vale (ON +0,42%), contribuiu para que o Ibovespa não se aprofundasse na mesma direção de Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq nos piores momentos da tarde, em dia positivo também para Gerdau (PN +1,18%), que divulga balanço trimestral após o fechamento de hoje.

Ainda que em grau moderado, a sessão era majoritariamente negativa para os grandes bancos, à exceção de Itaú (PN +0,93%), antes do balanço trimestral, e de Banco do Brasil (ON +0,70%), mas Bradesco ON (+0,23%) e Santander (Unit +0,22%) também se alinharam ao positivo no fechamento. Petrobras perdeu força ao longo da tarde e fechou em baixa de 0,26% (ON) e de 0,08% (PN), com o petróleo limitando à faixa de meio por cento ganho na casa de 1% visto mais cedo, em Londres como em Nova York.

Na ponta ganhadora do Ibovespa, destaque nesta abertura de semana para BRF (+12,87%), Marfrig (+8,61%) e Minerva (+3,34%), com CVC (-9,23%), Yduqs (-8,85%) e Gol (-7,06%) no lado oposto.

“O Ibovespa ficou neutro, bem perto do zero a zero, em parte do dia. A puxada nos rendimentos dos Treasuries fez os índices de ações em Nova York devolverem ganhos em certo momento, afetando o Ibovespa também. Nada para alarde: o que se tem é algo como uma pausa no movimento visto na semana passada, principalmente aqui no Brasil, onde o Ibovespa subiu bem forte na sexta-feira, em alta então de 2,7%”, diz Gabriel Mota, assessor de renda variável da Manchester Investimentos, acrescentando que Petrobras, mais cedo, e especialmente Vale contribuíram para dar sustentação ao índice da B3, mesmo com a piora em Nova York em parte da tarde.

“Após uma disparada na semana passada, tivemos agora um início de semana fraco e sem direção única, com Nova York encontrando dificuldade para estender o movimento de recuperação, mesmo com a expectativa de que o Federal Reserve, o BC americano, encerre o ciclo de aperto monetário, após recentes dados no sentido de enfraquecimento da economia dos Estados Unidos – principalmente a geração da vagas de trabalho, bem abaixo do esperado para outubro”, diz Dennis Esteves, sócio e especialista da Blue3 Investimentos.

Dólar

Em pregão morno e de liquidez moderada, o dólar à vista fechou em baixa de 0,17%, cotado a R$ 4,8879. Pela manhã, a divisa até ensaiou uma alta, registrando máxima a R$ 4,9117, em movimento aparente de realização de lucros tendo o quadro fiscal como pano de fundo. Mas logo a febre compradora amainou. Na mínima, à tarde, a moeda desceu até 4,8849.

Segundo operadores, após o tombo de 1,54% do dólar na sexta-feira, na esteira de apostas em fim do aperto monetário nos EUA, investidores optaram hoje apenas por realizar ajustes finos de posições. Resultado de transações correntes de setembro, com déficit abaixo do esperado, mostra que a dinâmica das contas externas não autoriza apostas em uma depreciação do real.

Apesar da oscilação contida, o real foi, ao lado do peso colombiano, a única moeda entre as divisas emergentes e de exportadores de commodities a ganhar força em relação ao dólar. Analistas citam os saldos comerciais expressivos e a perspectiva de manutenção de diferencial de juros elevados, uma vez que o Banco Central deu sinais na semana passada de que não vai acelerar o ritmo de corte da Selic, como pontos que dão sustentação à moeda brasileira.

Lá fora, o índice DXY – que mede o desempenho do dólar frente a seis divisas fortes – apresentou leve alta, voltando a superar o nível dos 105,000 pontos, com ganhos mais forte da moeda americana em relação ao iene. As taxas dos Treasuries, que haviam recuado na sexta-feira com dados abaixo do esperado do relatório de emprego (payroll) em outubro, voltaram a subir hoje A taxa da T-note de 10 anos avançou mais de 2%, para a casa de 4,66%, ainda bem longe dos picos de outubro, quando chegou a tocar 5%.

“O dólar oscilou pouco ao longo do dia, fechando em ligeira queda. A perspectiva de que o Federal Reserve não vai subir mais os juros, que ganhou força na semana passada, continua a se refletir de forma positiva no mercado local. Apesar de o BC estar reduzindo a Selic, nossa taxa ainda é atrativa para os investidores”, afirma a economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest, para quem a cautela em torno do cenário fiscal doméstico, com dúvidas sobre manutenção da meta de déficit zero em 2024, impede uma “melhora mais expressiva” do real.

Em evento do BTG Pactual em São Paulo hoje, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, voltou a mencionar a chamada erosão da base fiscal provocada por questões como exclusão do ICMS da base do PIS/Cofins e a necessidade de diferenciar entre fluxo e estoque de dívida herdada. Sem mencionar a meta de déficit zero, Haddad disse que o governo dá tratamento técnico ao impacto desses pontos sobre o novo marco fiscal. Já o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou, também em evento do BTG Pactual, que Haddad “ratificou, em reunião e publicamente, que vai continuar perseguindo o déficit zero”.

A economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, observa que a valorização do real na semana passada ocorreu em razão da melhora do ambiente global, com recuo das taxas dos Treasuries. Damico observa que a postura mais dovish do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, que reconheceu desaceleração nos salários e um “atraso da eficácia” da política monetária, foi reforçada pela dados do payroll de outubro.

“A moeda brasileira, no entanto, mostrou volatilidade devido a notícias que apontavam um aumento na probabilidade de uma mudança na meta de fiscal, que ainda não foi definida. Caso este seja o desfecho, acreditamos que haverá uma piora significativa nos prêmios de risco, com impactos na moeda e demais ativos brasileiros”, afirma a economista-chefe da Armor Capital.

Juros

Os juros futuros subiram nesta segunda-feira, recuperando parte dos prêmios devolvidos nas últimas sessões. O ambiente externo novamente se impôs, via aumento dos yields dos Treasuries, e a curva foi ainda pressionada pelo desconforto fiscal. Por mais que os presidentes da Câmara e do Senado tenham manifestado hoje apoio ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na manutenção da meta de primário zero em 2024, o mercado segue desconfiado que cedo ou tarde o objetivo será alterado. Tampouco a expectativa de avanço das pautas econômicas no Congresso esta semana serviu de alívio.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 fechou em 10,870%, de 10,822% na sexta-feira, e a do DI para janeiro de 2026 subiu de 10,60% para 10,72%. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 10,90% (10,77% na sexta) e o DI para janeiro de 2029, com taxa de 11,28%, de 11,16% no ajuste.

As taxas curtas foram bem menos afetadas, encerrando com alta moderada, até porque nesta terça-feira será divulgada a ata do Copom, que poderá dar mais subsídios ao mercado sobre até onde pode chegar o ciclo de cortes da Selic. Nos demais prazos, as taxas tiveram alta firme, sobretudo nos vértices a partir de 2030. O ganho de inclinação esteve diretamente relacionado à piora na percepção de risco externo e fiscal.

Na semana passada, o mercado embarcou na tese de que o discurso considerado “dovish” do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, e os dados do payroll abaixo do esperado sugeriam o fim do ciclo de aperto monetário nos EUA, mas hoje reconsiderou. “Muita gente ainda se pergunta se a alta de juros realmente acabou e a percepção é de que um corte também não chega antes do segundo semestre”, afirma o estrategista-chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz.

No fim da tarde, os retornos dos Treasuries sofreram mais uma rodada de máximas, após o Federal Reserve divulgar relatório no qual os bancos relatam padrões mais fracos de empréstimos para empresas de todos os portes, em quadro de maior incerteza na economia e de menor tolerância a riscos. A taxa da T-Note de 10 anos estava em 4,64%.

No Brasil, a área fiscal segue preocupando os agentes. A meta de déficit zero ainda não foi oficialmente alterada – Haddad ainda considera que pode convencer o governo a mantê-la -, mas a leitura é que o estrago já está feito. “As entrevistas de Lula e Haddad pegaram muito mal. Ao mesmo tempo em que é positiva a perspectiva para a reforma tributária, sabemos que essa parte fiscal dificilmente vai se resolver”, disse Cruz.

A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado analisará amanhã o relatório da reforma tributária. A estimativa é que seja aprovado ainda nesta semana tanto na comissão, quanto no plenário da Casa.

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou que Haddad “ratificou, em reunião conosco e publicamente, que vai continuar perseguindo o déficit zero” e defendeu que o ministro siga buscando alternativas para cumprir o objetivo. A ideia da equipe econômica é conseguir aprovar projetos no Congresso que elevem a arrecadação, evitando assim a necessidade de contingenciar recursos. Em nota, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), afirmou que o Congresso “buscará contribuir com as aprovações necessárias” para ajudar o governo Lula a cumprir a meta fiscal.

Estadão Conteúdo

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