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Economia

Governo tira receita da área de transporte

Parte esmagadora desses recursos, porém, está longe de ser aplicada no próprio setor, cada vez mais estrangulado por falta de dinheiro

Redação Jornal de Brasília

05/10/2021 17h18

Foto: Reprodução

O setor de infraestrutura de transportes está entre aqueles que mais geraram arrecadações para os cofres públicos, por meio de leilões de concessão de aeroportos, ferrovias, portos e estradas realizados nas últimas décadas. Parte esmagadora desses recursos, porém, está longe de ser aplicada no próprio setor, cada vez mais estrangulado por falta de dinheiro que financie sua manutenção e ampliação.

Em vez de direcionar parte dessas arrecadações para a malha logística nacional, o governo usa o dinheiro para pagar aposentadorias, dívida pública federal, financiar órgãos de defesa nacional e saúde. No fim das contas, o que sobra é um valor irrisório para o transporte, se comparado a tudo que ele arrecadou.

O Estadão teve acesso a um estudo realizado pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), que avaliou as arrecadações das últimas duas décadas no segmento e verificou onde os recursos foram empregados. O levantamento “Infraestrutura de Transporte – Investimento e Financiamento de Longo Prazo” foi feito a partir de dados oficiais colhidos no sistema Siga Brasil, referente ao Orçamento federal, e em órgãos como a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), a Associação de Terminais Portuários Privados (ATP) e a Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR), além de bases de dados do Banco Mundial.

Entre janeiro de 2001 e junho de 2021, considerando o valor total de contas pagas pelo governo com recursos obtidos com concessões e permissões de uso na área de transporte, chega-se a um desembolso total de R$ 233,57 bilhões, em preços corrigidos pela inflação. Desse total, apenas 1,8% (R$ 4,10 bilhões) foi destinado para o setor de transporte.

Ao seguir a trilha dos recursos das concessões das duas últimas décadas, o levantamento revela que a maior parte dessa fortuna – 69,5%, o equivalente a mais de R$ 162 bilhões – foi sacada para pagar dívidas públicas do governo federal e demais encargos, como indenizações e restituições. A segunda atividade que mais sugou recursos foi a Previdência Social. Foram R$ 29,6 bilhões (12,7%) para quitar contas de aposentadorias, mais de sete vezes o repasse destinado aos transportes.

A saúde ficou com uma fatia de 5,6% do bolo. Para a educação, foram outros 2,4%. O setor de energia ficou com 1,8%. De forma geral, os gastos com infraestrutura logística só superam aqueles destinados às áreas de comércio e serviços associados, que retiveram 1,5% do total.

Vander Costa, presidente da CNT, critica o forte desequilíbrio na destinação dos recursos, já que grande parte está voltada ao pagamento de contas e dívidas, em vez de serem aplicadas em ações efetivas que melhorem a infraestrutura, dentro ou fora do setor logístico.

Em 2021, até o momento, praticamente toda a despesa dos valores oriundos de concessões e permissões foi alocada para pagamento da dívida. “Descompassos de investimento prejudicam empresas e o crescimento do País. Garantir múltiplas formas de financiamento é essencial”, diz Costa. “A infraestrutura de transporte é a base para o funcionamento da economia. Dessa forma, quanto mais ela for desenvolvida, maior será a interação entre pessoas e mercados e, consequentemente, melhor será o desempenho socioeconômico.”

Questionado sobre o assunto, o Ministério da Infraestrutura afirmou que o objetivo do programa de concessões não é a outorga em si, mas prover investimentos que tragam melhorias aos ativos, algo impossível hoje apenas com recursos públicos. “O governo federal, através do Ministério da Infraestrutura, já garantiu cerca de R$ 74 bilhões para o incremento da logística nacional com as concessões de 34 aeroportos, cinco rodovias, seis ferrovias – entre concessões, renovações e investimento cruzado -, 29 arrendamentos portuários, além de autorizações para 99 terminais de uso privado.”

Segundo o ministério, R$ 9,62 bilhões estão garantidos em aeroportos, R$ 12,95 bilhões em portos, R$ 28,82 bilhões em ferrovias e R$ 22,5 bilhões em rodovias. “O MInfra trabalha com a projeção de R$ 260 bilhões em investimentos assinados até o fim de 2022. Esses valores serão aplicados durante a duração dos contratos, que variam de 10 a 35 anos.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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