Isabela Bolzani
Os funcionários do Banco do Brasil decidiram paralisar suas atividades nesta quarta-feira (10) em reação à reestruturação promovida pela nova gestão do banco.
A paralisação deve durar 24 horas e acontece em todo o país. Caixas de São Paulo, Campinas e Brasília também aderiram à greve -o que indica que mesmo as agências que ainda estão funcionando podem ter dificuldade quanto a circulação de dinheiro.
Segundo o Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região, a paralisação foi decidida em assembleia virtual na última sexta-feira (5). Cerca de 87% dos funcionários presentes deliberaram por iniciar um estado de greve, afirma a entidade.
Segundo o Banco do Brasil, 88 unidades não funcionaram devido a paralisação nesta quarta. O banco tem mais de 5.000 agências e postos de atendimento.
Na primeira quinzena de janeiro, o BB havia anunciado um conjunto de medidas para diminuir sua estrutura organizacional, com o fechamento de 361 unidades, sendo 112 agências. A estimativa do banco era de uma economia anual de cerca de R$ 353 milhões em 2021 e de R$ 2,7 bilhões até 2025.
Também foram aprovadas pelo banco, na época, duas modalidades de desligamento incentivado voluntário aos funcionários. O Programa de Adequação de Quadros, para redistribuir força de trabalho, e o PDE (Programa de Desligamento Extraordinário).
O prazo para adesão era até 5 de fevereiro. Segundo o BB, finalizadas as etapas de manifestação voluntária, foram validados os desligamentos de 5.533 funcionários -533 a mais do que o previsto.
Em nota, o BB afirmou que o conjunto de ações busca adequar a rede de agências ao aumento do comportamento digital de seus clientes e à necessidade de ampliar o atendimento especializado, especialmente voltado para o agronegócio.
“As ações também buscam aumentar a eficiência nas atividades da empresa, garantindo a sustentabilidade dos negócios”, disse o banco.
A discussão sobre um enxugamento da estrutura do BB existia desde meados do ano passado, mas ganhou força e profundidade com a chegada de André Brandão, presidente do BB que tomou posse em setembro de 2020, no lugar de Rubem Novaes.
De acordo com o banco, a Covid-19 acelerou esse movimento. A quantidade de transações em guichês de caixa no BB caiu 42% desde 2016, enquanto o uso digital dobrou no mesmo período e já responde por 86% das transações.
A decisão de Brandão também foi motivo de burburinho no Palácio do Planalto. Na época, membros da equipe econômica chegaram a relatar à Folha opiniões do ministro Paulo Guedes (Economia) e do presidente Jair Bolsonaro, afirmando despreparo do executivo para a presidência do banco.
Em resposta, os funcionários do BB já tinham realizado atos nacionais em 15 e 21 de janeiro, além de outra paralisação de 24 horas em 29 de janeiro.
“Além dos caixas, que estão perdendo comissão, também estamos brigando em relação a fechamento de agências, que tem feito muita gente perder o cargo e o salário dentro do banco”, afirmou João Fukunaga, coordenador da comissão de empresa dos funcionários do BB.
Segundo Fukunaga, a entidade sindical tentou uma mediação com o banco junto ao ministério público por três meses. “Mas ontem [terça, 9] encerramos essa mesa de discussão porque o banco não tem negociado”, disse.
A sinalização é de que uma nova reunião entre o banco e os representantes sindicais pode acontecer ainda nesta quarta.
Em nota, o Banco do Brasil reafirmou que as medidas de reorganização preparam a empresa para um ambiente de maior competitividade no setor financeiro e estão alinhadas com o aprimoramento da experiência do cliente e com o maior investimento em soluções digitais.
“Os sindicatos foram prontamente informados sobre as mudanças e o Banco do Brasil colocou-se à disposição das entidades sindicais para prestar os esclarecimentos que fossem necessários”, disse.
O BB possui 5.400 agências e postos de atendimento e, segundo o banco, deve ampliar sua rede de correspondentes bancários, hoje com mais de 11 mil pontos, mantendo sua presença nos 4.883 municípios de atuação.
O banco deve anunciar seu resultado em 2020 nesta quinta-feira (11), após o fechamento do mercado.
RAIO-X DO BANCO DO BRASIL NO 3º TRIMESTRE DE 2020
Lucro líquido
R$ 3,5 bilhões (ajustado, não considera itens extraordinários)
Carteira de crédito
R$ 730,9 bilhões
Margem financeira
R$ 8,5 bilhões
Funcionários
92.106
Principais concorrentes
Bradesco, Caixa Econômica Federal, Itaú Unibanco e Santander
As informações são da Folhapress