Menu
Economia

Dólar tem leve queda com exterior em pregão marcado por cautela pré-feriado

A maioria dos integrantes do BC norte-americano concorda que os juros devem permanecer em níveis restritivos por algum tempo

Redação Jornal de Brasília

11/10/2023 18h52

O dólar à vista encerrou a sessão desta quarta-feira, 11, em queda de 0,13%, cotado a R$ 5,0498. Houve algumas trocas de sinal ao longo da sessão, com a moeda oscilando entre mínima a R$ 5,0288 e máxima a R$ 5,0709, mas a tendência de baixa foi predominante, em mais um dia de queda das taxas longas dos Treasuries e perda de força da moeda americana em relação a divisas emergentes. Operadores notaram clima de cautela nas mesas de operação, com pouco apetite para apostas mais contundentes na véspera do feriado de Nossa Senhora Aparecida. 

Os mercados locais estarão fechados na quinta, quando haverá divulgação do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) de setembro nos EUA, o que pode mexer com as apostas em torno da condução da política monetária norte-americana. Há também as incertezas relacionadas aos desdobramentos da guerra entre Israel e o grupo palestino Hamas, que, por ora, não afetam a oferta de petróleo. As cotações da commodity voltaram a cair nesta quarta, com o contrato do tipo Brent para dezembro em baixa de 2,08%, a US$ 85,82 o barril. 

Divulgada à tarde, a ata do encontro mais recente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) não trouxe novidades. A inflação desacelera, mas segue muito da meta, com a economia mostrando mais resiliência do que se esperava. A maioria dos integrantes do BC norte-americano concorda que os juros devem permanecer em níveis restritivos por algum tempo. 

Nos últimos dias, dirigentes do Fed têm sinalizado que não haverá alta adicional da taxa básica dos EUA em novembro, ao mencionar desaceleração do núcleo de inflação e aperto indireto provado pelo nível das taxas dos Treasuries. Monitoramento da CME mostra que as chances de manutenção dos juros em novembro saltaram da casa de 86% na terça-feira para mais de 94% nesta quarta-feira após a ata.

Na visão do economista-chefe da Nomad, Danilo Igliori, a ata não trouxe novidades e os discursos recentes de integrantes do Fed mostram “maior conforto” com manutenção dos juros. 

“Os números do índice de inflação ao consumidor que serão divulgados amanhã devem ser fundamentais para recalibrar as expectativas, sem falar nas incertezas do novo cenário geopolítico, que ainda não teve muito efeito nos mercados”, diz Igliori. “De qualquer forma, parece que a discussão vai mudar em breve. Em vez de nos preocuparmos com o nível máximo das taxas de juros, passaremos a discutir em que momento elas poderão passar a cair.”

Mais cedo, o diretor do Fed Christopher Waller defendeu que o BC norte-americano mantenha uma postura dependente de dados, mas observou que o nível atual juros dos Treasuries já representa aperto das condições financeiras no país e pode “fazer parte do trabalho” da política monetária. 

A economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest, nota que o ambiente de incertezas diminui a visibilidade sobre a trajetória da taxa de câmbio. Ela observa que, apesar de sinais recentes do Fed, há dúvidas se o aperto monetário nos Estados Unidos já foi encerrado. Há também temores relacionados ao ritmo de crescimento da economia da China e à abrangência e duração do conflito no Oriente Médio.

“São fatores que tendem a deixar a taxa de câmbio pressionada. Mas temos notícias positivas da economia brasileira, com a atividade resiliente e o IPCA de setembro abaixo do esperado. Com uma possível evolução do lado fiscal, podemos ter uma boa história para atrair fluxo ao país”, afirma Quartaroli, que trabalha com um desempenho melhor do real no médio prazo. 

Por aqui, a leitura do IPCA de setembro não teve papel relevante na formação da taxa de câmbio. O índice acelerou de 0,23% em agosto para 0,26% em setembro, mas veio abaixo da mediana das previsões de analistas ouvidos pelo Projeções Broadcast (0,32%)

Taxas de juros

Mesmo com a leitura positiva do IPCA de setembro, os juros futuros subiram nesta quarta-feira, refletindo cautela antes do feriado no Brasil na quinta-feira, quando os Estados Unidos terão divulgação do índice de preços ao consumidor. Além disso, houve um ajuste nas apostas para a Selic nas próximas reuniões do Copom, em meio a rumores de que o Banco Central teria sinalizado a investidores ser maior a chance de uma desaceleração do ritmo de cortes da Selic do que uma ampliação.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 fechou em 10,870%, de 10,745% no ajuste anterior. A do DI para janeiro de 2026 subiu de 10,54% para 10,63%. A do DI para janeiro de 2027 avançou de 10,77% para 10,82%, e a do DI para janeiro de 2029, de 11,26% para 11,29%.

O mercado ia relativamente bem pela manhã, com taxas perto da estabilidade, ainda que o IPCA de setembro, de 0,26%, bem abaixo da mediana das estimativas coletadas pelo Projeções (0,32%) e com leitura benigna dos preços de abertura, desse espaço a um ajuste de queda. No começo da tarde, porém, se firmaram em alta ao longo de toda a estrutura a termo, refletindo redução de posições aplicadas nesta véspera de feriado. 

“Amanhã tem CPI nos EUA e, depois do PPI de hoje, aumentam as chances de o CPI vir acima do consenso”, afirma o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi. 

O índice de preços ao produtor (PPI, em inglês) subiu 0,5% em setembro, ante mediana das estimativas de 0,3%.

Chamou a atenção a magnitude de alta da ponta curta, que abriu bem mais do que o trecho longo, mesmo com o IPCA abaixo do consenso e perto do piso das projeções (0,24%). 

Nas mesas de operação, profissionais atribuem o desempenho a rumores de que o presidente do BC, Roberto Campos Neto, teria dito a investidores, em encontros fechados, que a probabilidade de desacelerar o ritmo de queda da Selic para 25 pontos-base é maior do que a de acelerar para 75 pontos. Campos Neto está no Marrocos, onde estão sendo realizadas as reuniões anuais do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial.

Os membros do Copom têm afirmado publicamente que a barra é alta para mudança no atual ritmo de corte de 50 pontos-base da taxa básica, seja para um lado seja para outro, e, na avaliação dos economistas o IPCA divulgado nesta quarta chancela o plano de voo.

Na curva do DI, a precificação de Selic para o Copom de novembro nesta tarde era de -49 pontos-base, ou praticamente 100% de chance de queda de 50 pontos. Mas para o Copom de dezembro a precificação de -42 pontos indicava 32% de chance de queda de 25 pontos (15% na terça) e 68% de probabilidade de queda de 50 pontos. Para o fim de 2023, a curva projeta Selic entre 11,75% e 12,00% e para o fim de 2024, entre 10,25% e 10,50%. Os números são do Banco Mizuho.

Dados os ajustes pré-feriado e os rumores sobre a Selic, a curva local não acompanhou o fechamento das taxas dos Treasuries de longo prazo, que há dias têm servido de norte para os DIs. O retorno da T-Note de dez anos, que na semana passada chegou a romper 4,80%, chegava ao fim desta tarde em 4,56% e o yield do papel de 2 anos voltava a ficar abaixo de 5%. A ata do Federal Reserve trouxe alívio aos mercados, ao reforçar a ideia de manutenção dos juros na reunião de novembro.

Bolsa

Em véspera de feriado no Brasil mas não no exterior, o Ibovespa operou em margem bem estreita, de 867 pontos entre a mínima (116 231,22) e a máxima (117.098,64) do fim da tarde desta quarta-feira, com os investidores tendo aparentado, em boa parte do dia, disposição para colocar algum dinheiro no bolso após três sessões de retomada para o índice da B3. Do meio para o fim da tarde, contudo, o Ibovespa passou a operar um pouco acima da estabilidade, fechando em leve alta de 0,27%, aos 117.050,74 pontos, saindo de abertura aos 116.736,95.

Com o quarto ganho seguido, o Ibovespa se manteve, como na terça-feira, no maior nível de encerramento desde 20 de setembro, então aos 118.695,32 pontos. Na semana, o índice sobe 2,52%, e conserva o sinal positivo no mês pelo segundo dia, agora em alta de 0,42% em outubro, após ter zerado as perdas no intervalo, na terça-feira. No ano, o Ibovespa avança 6,67%. O giro desta quarta-feira ficou em R$ 18,0 bilhões, após ter chegado a R$ 20 bilhões no dia anterior.

Desde cedo, o Ibovespa refletiu a cautela que antecede o feriado numa quinta-feira com mercados abertos lá fora e divulgação de nova leitura sobre a inflação ao consumidor nos Estados Unidos, na quinta-feira. Assim, os investidores evitaram movimentos bruscos, com o petróleo em retração pelo segundo dia, após o ‘spike’ da segunda-feira que havia alavancado as ações da Petrobras.

Se, por um lado, o ajuste nos preços do petróleo reduz o impulso para Petrobras, por outro não deixa de ser bem-vindo, ao se considerar o quadro econômico mais amplo, ainda marcado por dúvidas sobre a inflação global e o nível de juros de mercado nos Estados Unidos – que nesta quarta se mantiveram em queda nos vencimentos mais longos, de 10 e 30 anos.

“Ontem, o economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Pierre-Olivier Gourinchas, apontou que um aumento de 10% nos preços do petróleo resultaria em redução de 0,15% no crescimento do PIB mundial e acarretaria aumento da inflação global, de 0,4%”, observa André Leite, CIO da TAG Investimentos

“Os contratos de juros futuros tiveram quedas nas taxas, ontem e hoje, em função do recuo do petróleo e da probabilidade menor de uma escalada da guerra em Israel”, aponta Beto Saadia, diretor de investimento da Nomos. 

Nesta quarta com redução na casa de 2% nas cotações do Brent e do WTI, as ações da Petrobras (ON -0,34%, PN -0,26%) acompanharam à distância a commodity, no fechamento, enquanto Vale ON mostrou alta de 0,87% e as ações de grandes bancos avançaram em torno ou acima de 1% para Bradesco, Itaú e Banco do Brasil – um pouco atrás, Santander subiu 0,79% nesta quarta-feira, na máxima do dia no encerramento.

Na ponta do Ibovespa, destaque para Gol (+4,56%), Carrefour Brasil (+3,27%), Alpargatas (+2,67%) e BTG (+2,57%). No lado oposto, IRB (-6,89%), Magazine Luiza (-4,02%), Pão de Açúcar (-3,73%) e Soma (-3,50%). “As ações do varejo têm refletido a pressão derivada dos juros futuros, com a expectativa também para os resultados do terceiro trimestre, tendo em vista o alto endividamento e as margens contraídas no setor”, diz Felipe Leão, especialista da Valor Investimentos.

Assim, o índice de consumo (Icon) fechou o dia em baixa de 0,66%, enquanto o de materiais básicos (Imat), correlacionado à demanda externa, subiu 0,30%.

Em sessão que contou com referências como a leitura sobre o IPCA de setembro – pela manhã, assim como a do PPI nos EUA – e, à tarde, a ata da mais recente reunião de política monetária do Federal Reserve, o Ibovespa mostrou desempenho quase uniforme ao longo da maior parte do dia, sem sobressaltos agudos em relação aos gatilhos disponíveis na sessão.

Destaque da tarde, a ata do Fed contribuiu para firmar o sinal positivo dos índices de ações em Nova York, com a leitura do mercado de que as indicações de nesta quarta reforçam a perspectiva de manutenção da taxa de juros de referência dos EUA na próxima deliberação sobre a política monetária americana, em novembro. Assim, em NY, Dow Jones fechou o dia em alta de 0,19%; S&P 500, de 0,43%, e Nasdaq, de 0,71%. Aqui, o dólar à vista cedeu 0,13%, a R$ 5,0498, no fechamento desta quarta-feira. 

No Brasil, “o IPCA teve alta de 0,26% em setembro, e nos últimos 12 meses acumula 5,19%, acima dos 4,61% registrados em agosto”, diz Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, destacando que a variação mensal foi puxada, principalmente, pelos preços administrados (+1,11%), enquanto os livres apresentaram deflação (-0,04%). Considerando a inflação acumulada em 12 meses, foi o terceiro avanço consecutivo. 

“Quando observamos a composição do IPCA, o cenário segue benigno: os preços de serviços se mantiveram estáveis no acumulado de 12 meses e, apesar de terem subido na variação mensal, os preços dos serviços subjacentes arrefeceram na variação anual. Além disso, a média dos núcleos de inflação passou de 5,2% em agosto para 5,0% em setembro, e o índice de difusão caiu para 43%, ante 53% em agosto”, acrescenta Sung.

“A elevação da inflação no acumulado em 12 meses já era esperada, de forma que a leitura foi neutra em relação ao que o mercado aguardava. Há um processo de desinflação em andamento, com a correção de desequilíbrios no pós-pandemia”, diz Rachel de Sá, chefe de economia da Rico Investimentos, destacando também o desempenho de serviços subjacentes no mês. 

“O IPCA abaixo do consenso mostra um retrato bem parecido com a leitura do mês anterior, com os transportes subindo, em reflexo do preço do combustível, e assim mesmo não contaminando a leitura total”, avalia Saadia, da Nomos. 

Contudo, acrescenta o economista, “ainda é um número sem relevância para uma mudança de trajetória do Banco Central, que tem sinalizado que os desafios atuais vêm de fora” – em referência à incerteza quanto à possibilidade de “arrocho monetário” adicional nos Estados Unidos, em meio a um cenário econômico ainda desafiador.

Estadão Conteúdo

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado