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Economia

Dólar tem forte alta e Bolsa despenca após vitória de Trump nas eleições dos EUA

Em uma disputa acirrada pela Casa Branca, o retorno de Trump consagra também a guinada de seu partido no contexto político dos Estados Unidos

Redação Jornal de Brasília

06/11/2024 10h40

Foto: banco de imagens

TAMARA NASSIF
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O dólar apresenta forte alta nesta quarta-feira (6), em reação dos investidores à vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos.

O republicano foi declarado eleito por volta das 7h30 desta manhã, quando alcançou a marca de 276 dos 538 votos do Colégio Eleitoral. Ele precisava ter ao menos 270 votos para vencer a disputa com Kamala Harris.

Às 10h09, moeda norte-americana disparava 1,03%, cotada a R$ 5,805. Já a Bolsa despencava 1,33%, aos 128.920 pontos.

Em uma disputa acirrada pela Casa Branca, o retorno de Trump consagra também a guinada de seu partido no contexto político dos Estados Unidos. Essa é a primeira vez desde George W. Bush, em 2004, que um candidato republicano não chegava à presidência como o mais votado pela população.

A demonstração de força dos republicanos também foi vista no Senado, cujo controle o partido retomou ao obter 51 dos 100 assentos. Há a expectativa de que também se mantenham no comando da Câmara, em um quadro que se desenha bastante desfavorável para os democratas.

A vitória contra Kamala marca uma reviravolta em sua história, após seu futuro político ter sido colocado em xeque quando apoiadores invadiram o Capitólio, incitados por ele, para impedir a confirmação da vitória de Joe Biden. No caminho até sua recondução à Casa Branca, também se tornou o primeiro ex-presidente condenado em ação criminal na história dos EUA.

No mercado, os investidores precificam o impacto das propostas de Trump na economia, e analistas alertam para consequências “profundas e imediatas” para o resto do mundo.

Caso cumpra suas promessas de campanha, ele fará um novo mandato com aumento mais intenso das tarifas sobre importados, corte de impostos, deportações em massa e redução da independência do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano).

No comércio exterior, a promessa é aumentar tarifas entre 10% e 20% sobre praticamente todas as importações dos EUA, incluindo as que vêm de países aliados, e em pelo menos 60% sobre as da China.

As tarifas inibem o comércio global, reduzem o crescimento dos exportadores e pesam sobre as finanças públicas de todas as partes envolvidas. É provável que elas aumentem a inflação nos Estados Unidos, forçando o Fed a agir com juros altos por mais tempo -o que fortalece o dólar.

“As promessas fiscais de Trump são seriamente preocupantes -para a economia dos EUA e para os mercados financeiros globais- pois prometem expandir enormemente um déficit já excessivo, ao mesmo tempo em que ele ameaça minar instituições importantes”, disse Erik Nielsen, consultor econômico chefe do Grupo UniCredit.

“É preciso concluir que Trump representa uma ameaça séria, e até agora muito subestimada, ao mercado do Tesouro dos EUA e, portanto, à estabilidade financeira global”, disse Nielsen.

Para os mercados emergentes que dependem de financiamento em dólares, as promessas de Trump também poderão tornar empurrar as taxas de juros para cima e encarecer os empréstimos -um golpe dulpo, somado às perdas de exportações.

As mesmas forças que podem elevar a inflação dos EUA podem pesar sobre os preços em outros lugares, especialmente se Trump impuser as tarifas prometidas à China.

Ao redor do mundo, a reação foi imediata. As Bolsas de valores na Ásia subiram rapidamente, o dólar se valorizou em relação às principais moedas, o bitcoin bateu seu recorde e os rendimentos dos títulos de dois anos do Tesouro dos EUA cresceram após ser definida a vitória Trump nas eleições.

Na China, os dois principais índices acionários terminaram a sessão em queda mesmo sem a declaração oficial.

O CSI300, que reúne as maiores companhias listadas em Xangai e Shenzhen, caiu 0,5%, e o índice SSEC, de Xangai, oscilou 0,09% para baixo. Em Hong Kong, a Bolsa despencou 2,23%.

O dólar ainda se valorizava globalmente. No índice DXY, que mede a força da moeda americana em relação a uma cesta de outras seis divisas fortes, a disparada era de 1,73%.

Já o bitcoin atingiu um valor recorde de US$ 75.120, disparando 8,63% em relação ao dia anterior. A criptomoeda é defendida por Trump, que já anunciou o interesse em criar uma moeda digital própria.

Na cena doméstica, o ministro Fernando Haddad (Fazenda) disse que o dia “amanheceu mais tenso” nos mercados em função do que foi dito na campanha do republicano.

O titular da pasta ponderou, contudo, que o discurso de vitória de Trump já é mais moderado do que o de campanha. E que o Brasil deve “cuidar de casa”.

A vitória de Trump acontece em meio à expectativa do mercado pela divulgação de medidas de cortes de gastos pelo governo federal. O pacote, que visa dar mais sustentabilidade ao arcabouço fiscal, poderá ser anunciado ainda nesta semana, segundo Haddad.

Uma ala do governo, porém, defende adiar o anúncio para a próxima semana. O argumento é que as medidas têm potencial para causar um impacto positivo no mercado financeiro, que acabaria diluído no meio da reação ao resultado das eleições presidenciais americanas.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se encontrou com a equipe econômica e com ministros que poderão ser atingidos pelas medidas na segunda-feira, e, na terça, a Casa Civil se reuniu com outras autoridades do governo para dar continuidades às tratativas.

O movimento do governo ocorre após dias de estresse no mercado financeiro. O dólar disparou na última sexta-feira para R$ 5,86, a maior cotação desde maio de 2020, em reação agravada pela notícia da viagem -posteriormente cancelada- de Haddad à Europa.

O dia ainda guarda a decisão de juros do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central), após o fechamento dos mercados.

O colegiado decidiu reiniciar o ciclo de apertos na taxa Selic na reunião passada, quando optou por uma alta de 0,25 ponto percentual e levou os juros a 10,75% ao ano.

Com a piora no cenário econômico nos últimos 45 dias, o mercado espera que o comitê acelere o ritmo de altas para 0,5 ponto percentual.

A definição da taxa dos Estados Unidos pelo Fed, que costuma acontecer no mesmo dia que a do Copom, foi adiada em um dia por causa das eleições.

A expectativa dos agentes financeiros é que a autoridade americana dê continuidade ao ciclo de afrouxamento nos juros. Na reunião de setembro, o colegiado reduziu a taxa em 0,5 ponto percentual, levando-a à banda de 4,75% e 5% -o primeiro corte em quatro anos.

Na ferramenta CME Fed Watch, a probabilidade de uma redução de 0,25 ponto marca 97%. A previsão de diminuição do ritmo de cortes vem na esteira de uma bateria de dados que indicaram que a economia dos Estados Unidos segue forte, com inflação convergindo à meta de 2% e mercado de trabalho resiliente.

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