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Economia

Dólar recua 0,62% após fala dirigente do Fed e chance de trégua do Hamas; Bolsa sobe 0,86%

Nos primeiros minutos do pregão, o dólar chegou até a ensaiar uma alta firme, com máxima a R$ 5,1824, em meio a temores geopolíticos

Redação Jornal de Brasília

09/10/2023 18h19

Dólar

Foto: Reprodução/ Flickr

Após operar entre leve alta e estabilidade no período da manhã, o dólar à vista perdeu força ao longo da tarde e encerrou a sessão desta segunda-feira, 9, cotado a R$ 5,1300, em baixa de 0,62%, com mínima a R$ 5,1220. A virada no mercado de câmbio doméstico se deu diante da retomada do apetite ao risco no exterior, com alta firme das bolsas em Nova York, na esteira de fala de dirigente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) sugerindo menos espaço para nova alta dos juros. 

Foi ventilada também a informação de que o grupo palestino Hamas estaria disposto a negociar uma trégua com Israel. Em pronunciamento, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse que vai atacar o Hamas com “forças nunca vistas antes”.

Nos primeiros minutos do pregão, o dólar chegou até a ensaiar uma alta firme, com máxima a R$ 5,1824, em meio a temores geopolíticos. Israel responde a ataque do Hamas ao seu território com bombardeio aéreo e bloqueio terrestre à Faixa de Gaza, controlada pelo grupo palestino. Operadores observam que a ausência dos negócios com Treasuries, em razão do feriado do Dia de Colombo nos EUA, diminuiu a liquidez e deixou a formação da taxa de câmbio mais sujeita ao impacto de operações pontuais. 

As cotações do petróleo, que amargaram forte queda na semana passada, subiram mais de 4% diante de preocupações com a oferta, mas respeitaram o teto de US$ 90 o barril. O contrato do Brent para dezembro fechou em alta de 4,22%, a US$ 88,15.

O economista-chefe da Suno Research, Gustavo Sung, observa que o fato de o mercado de Treasuries estar fechado impede uma leitura mais clara dos efeitos do conflito sobre a percepção de risco dos investidores. “De qualquer forma, existe um aumento das incertezas. Dentro de três ou quatro dias, vamos entender o real impacto sobre os ativos. Tudo vai depender se o conflito vai transbordar para outros países do Oriente Médio, como o Irã, já que a região é grande produtora de petróleo”, afirma Sung. 

Embora o Irã seja visto como um apoiador do Hamas na região, autoridades do país negaram envolvimento com o ataque do grupo palestino a Israel. A possibilidade de que o Irã seja tragado pelo conflito preocupa, uma vez que o país abriga o Estreito de Ormuz, localizado entre o Golfo de Omã e o Golfo Pérsico e por onde é escoado cerca de 20% de todo o petróleo consumido no mundo.

“Se tivermos uma escalada da guerra, principalmente com o Irã sendo arrastado para dentro do conflito, podemos ter alta mais forte do petróleo e um choque inflacionário”, diz o estrategista-chefe da Guide Investimentos, Alex Lima, ressaltando que, nos últimos dois meses, a inflação americana já havia sido “contaminada” pela alta dos preços dos combustíveis. “Por enquanto, a reação dos preços dos ativos é relativamente branda, com o mercado de juros nos EUA fechado. Tem potencial para piorar se o conflito se estender.”

Parte relevante do alívio do mercado à tarde veio de sinais mais amenos em relação à a política monetária norte-americana. Com voto nas decisões do Fed, o vice-presidente do BC americano, Philip Jefferson, disse nesta segunda-feira que pode ser cedo para garantir que o aperto já realizado vai levar a inflação à meta de 2% ao ano, mas ressaltou que levará em conta indicadores econômicos e também o nível das taxas dos Treasuries em suas próximas decisões.

Segundo Jefferson, a inflação, embora ainda “muito elevada”, traz sinais “encorajadores”. Ele afirmou também que atuará com cautela ao avaliar a necessidade de mais alta de juros. “Olhando para frente, continuarei consciente do aperto das condições financeiras por meio de juros mais altos em títulos de dívida e vou manter isso em mente ao avaliar a trajetória futura das taxas”, disse o vice-presidente do Fed.

Bolsa

A mudança de sinal em Nova York à tarde, do negativo ao positivo, e a acentuação de ganhos em Petrobras (ON +4,10%, PN +4,30%), que chegou em certos momentos a passar à frente da própria alta do Brent na sessão, levaram o Ibovespa aos 115 218,65 pontos na máxima do dia (+0,92%), e a fechamento nesta segunda-feira ainda em alta de 0,86%, a 115.156,07, no maior nível deste mês de outubro, após ter encerrado setembro aos 116,5 mil. O giro ficou em R$ 19,0 bilhões na sessão. No mês, o Ibovespa ainda cede 1,21%, limitando o avanço do ano a 4,94%.

À exceção de Petrobras e de utilities como Eletrobras (ON +1,87%, PNB +2,32%), a sessão foi majoritariamente negativa para as ações na B3, refletindo a aversão a risco com novo ingrediente neste início de semana: a guerra no Oriente Médio deflagrada no sábado pelo Hamas, em ataque terrorista em escala considerada sem precedentes a Israel, 50 anos depois da Guerra do Yom Kippur.

A possibilidade de prolongamento dos combates na Faixa de Gaza, onde dezenas de reféns israelenses estariam sendo mantidos, colocou desde cedo pressão especialmente nas cotações do petróleo, tendo em vista também a rivalidade entre Israel e Irã, importante produtor da commodity e considerado um dos principais apoiadores do grupo extremista palestino.  

“Um evento como esse resulta em aumento dos prêmios de risco, em um cenário que já era marcado, antes do conflito, por cautela dos investidores”, diz Victor Beyruti, economista da Guide Investimentos. “É muito cedo ainda para entender as repercussões dessa guerra, mas diferentemente do que se vê na Ucrânia, parece ser um conflito de exaustão mais rápida”, observa Alex Lima, estrategista-chefe da Guide. “Poder ser uma guerra mais curta, mas muito custosa também.”

“É natural o petróleo subir hoje da forma como se vê, principalmente se o Irã for arrastado para o conflito”, acrescenta o estrategista da Guide Investimentos. “Israel não produz petróleo, mas o Estreito de Ormuz, que fica ali perto, é por onde passam 20% da produção global da commodity, o que explica também esta alta do Brent hoje”, em um dia no qual o mercado de juros nos Estados Unidos permaneceu fechado por conta de feriado – lembrando que os juros futuros, assim como o câmbio, são uma correia de transmissão natural da percepção de risco dos investidores.

“É possível que o impacto sobre os ativos permaneça limitado, caso o conflito não se estenda a terceiras partes, tanto que as bolsas abriram de forma negativa, mas depois foram se ajustando”, diz Guilherme Sahadi, CEO da BullSide Capital.  

Dessa forma, o Ibovespa chegou a subir quase 1% no melhor momento da tarde, em paralelo à recuperação vista em Nova York, com relato, da agência Reuters, de que o Hamas estaria disposto a discutir logo uma trégua com Israel, em meio ao bombardeio noturno da Faixa de Gaza. Também contribuiu para a melhora o comentário do vice-presidente do BC norte-americano, Philip Jefferson, sobre a orientação da política monetária nos Estados Unidos, recebido de forma favorável pelo mercado.

“Da guerra, por enquanto, o efeito maior veio para Petrobras e petrolíferas como Prio e 3R Petroleum, em alta na sessão. Também ajudaram o Ibovespa declarações mais ‘dovish’, suaves, de autoridade do Federal Reserve, com melhora lá fora que se espelhou aqui dentro”, do meio para o fim da tarde, observa Fernanda Bandeira, sócia e especialista da Blue3 Investimentos.

Com a retomada dos negócios na China após o longo feriado da Semana Dourada, as ações do setor metálico voltaram a contar nesta segunda-feira com a referência de preços de Dalian, onde o minério de ferro fechou a sessão em baixa de 2,76%, a US$ 113,39, no contrato mais negociado, para janeiro de 2024. Na B3, Vale ON encerrou a sessão em baixa de 0,72%, na máxima do dia, e as perdas entre as siderúrgicas chegaram a 1,11% (Usiminas PNA), também relativamente moderadas no fechamento.

Na ponta perdedora do Ibovespa nesta segunda-feira, destaque para Grupo Casas Bahia (-4,92%), Azul (-2,97%) e Alpargatas (-2,61%). No lado oposto, Prio (+8,78%), PetroReconcavo (+8,70%) e 3R Petroleum (+6,01%), à frente de Petrobras e de Magazine Luiza (+4,49%).

Taxas de juros

Os juros futuros fecharam a segunda-feira em baixa, a despeito das tensões geopolíticas vindas do conflito entre Israel e o Hamas. As taxas já pela manhã operavam comportadas, com viés de baixa que se transformou em queda firme à tarde. Declarações dovish de um dirigente do Federal Reserve e informações de que o grupo extremista estaria aberto a negociar um armistício abriram caminho para uma correção mais consistente de parte da alta da semana passada. 

Ainda, em boa medida, o alívio da curva foi propiciado pela ausência do mercado de Treasuries, que nesta segunda-feira não funcionou em razão do feriado do Dia de Colombo nos Estados Unidos.

A taxa dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 fechou em 10,845%, de 10,954% no ajuste de sexta-feira, e a do DI para janeiro de 2026 caiu de 10,83% para 10,67%. O DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 10,89% (11,08% no ajuste) e a do DI para janeiro de 2029 cedeu a 11,37%, de 11,56%.

De maneira geral, o comportamento da curva surpreendeu positivamente, mesmo pela manhã, quando ainda não havia os principais “drivers” de alívio, que apareceriam somente à tarde. Na primeira etapa, as taxas oscilavam entre a estabilidade e sinal levemente negativo, com o mercado tentando interpretar o contexto geopolítico e suas consequências para o cenário econômico. 

O efeito mais direto dos ataques e contra-ataques foi a escalada do petróleo novamente rumo a US$ 90 por barril, com alta de mais de 4%. Ainda assim, o mercado de juros arriscava alguma correção, aproveitando que nesta segunda não havia negócios com Treasuries uma vez que os prêmios de risco subiram muito nos últimos dias.

“Apesar da alta do petróleo, a reação nos mercados têm sido discreta ao avaliar que a guerra em Israel contra a Faixa de Gaza será limitada à região”, afirmou o economista André Perfeito, sobre a redução da aversão ao risco ao longo do dia. Outro fator de alívio veio da informação, publicada pela Reuters, de que o Hamas supostamente estaria disposto a negociar uma trégua. Já o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou que irá atacar a facção islamista com “forças nunca vistas antes”.

Para o Brasil, há receio de contágio das tensões via preços de combustíveis se o avanço do petróleo, que vinha devolvendo altas na semana passada, de fato se consolidar perto dos US$ 100. “Os preços de combustíveis trazem risco de contaminação para outros preços e, com isso, o Banco Central poderia cortar menos a Selic ou encurtar o ciclo”, explica o estrategista-chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz.

No meio da tarde, declarações do vice-presidente do Federal Reserve acabaram se sobrepondo às preocupações com o petróleo, abrindo espaço para a melhora dos ativos e colocando os juros em queda firme na B3. O ponto que mais chamou a atenção é quando disse que atuará com cautela ao avaliar a necessidade de aperto monetário adicional, mencionando o avanço recente nos juros dos Treasuries de longo prazo. Disse que estará atento ao aperto nas condições financeiras, e manterá isso em mente nas suas decisões, ao lado dos indicadores.

Estadão Conteúdo

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