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Economia

Dólar cai 1,44% com recuo de taxas dos Treasuries após sinais do Fed; Ibovespa sobe 1,37%

Depois de subir 2,69% na semana passada, que abrangeu os cinco primeiros pregões de outubro, a moeda já acumula desvalorização de 2,05%

Redação Jornal de Brasília

10/10/2023 18h46

Dólar

Foto: Reprodução/ Flickr

O dólar à vista fechou em queda firme nesta terça-feira, 10, abaixo da linha de R$ 5,10, acompanhando o enfraquecimento da moeda norte-americana no exterior e a queda das taxas dos Treasuries. Novos sinais de dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) de que pode não haver alta adicional dos juros neste ano abriram espaço para valorização dos ativos de risco, favorecidos também pela possibilidade de estímulos econômicos na China. 

Após subir mais de 4% na segunda-feira, as cotações internacionais do petróleo apresentaram recuo moderado nesta terça, em meio a apostas de que a guerra entre Israel e o grupo palestino Hamas não vai ter impactos severos na oferta da commodity. 

Afora um alta pontual e restrita na abertura, a divisa operou em baixa ao longo do dia. Com mínima a R$ 5,0552 na última hora de negócios, em meio a máximas do Ibovespa, o dólar à vista fechou em baixa de 1,44%, cotado a R$ 5,0562, voltando a níveis vistos no fim de setembro. 

Depois de subir 2,69% na semana passada, que abrangeu os cinco primeiros pregões de outubro, a moeda já acumula desvalorização de 2,05% nas duas última sessões. Principal termômetro do apetite por negócios, o contrato de dólar futuro para novembro teve bom giro, acima de US$ 14 bilhões. 

No exterior, o índice DXY – referência do comportamento do dólar em relação a seis divisas fortes – recuou e voltou a ser negociado abaixo da linha dos 106,000 pontos. A moeda norte-americana caiu em bloco na comparação com divisas emergentes e de países exportadores de commodities, com destaque para o peso colombiano e o real. A taxa da T-note de 10 anos desceu do nível de 4,80% para operar ao redor de 4,65%. 

“As moedas emergentes se valorizam hoje com a queda dos juros dos Treasuries, depois de dirigente do Fed dizer que não vê necessidade de subir mais os juros. O real, por ser mais líquido, foi uma das divisas emergentes que mais se destacou, assim como havia sido uma das que mais sofreu na semana passada, com a pressão dos Treasuries”, afirma a economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest. 

Após o vice-presidente do Fed, Philip Jefferson, dizer na segunda-feira que o núcleo de inflação pode desacelerar mais e que estará atento ao aperto financeiro promovido pela escalada dos yields dos Treasuries em suas próximas decisões, outro dirigente do BC americano acenou com a possibilidade de manutenção da taxa básica em novembro. Presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic disse que os juros já estão em níveis “suficientemente restritivos” para garantir o retorno da inflação à meta de 2% nos EUA. 

Para o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, ao dizer que os yields ainda elevados dos Treasuries podem “fazer o trabalho sujo do aperto monetário”, o Fed sinalizou que os juros não precisam ser elevados em novembro. “Isso foi ótimo para a bolsa e o dólar, revertendo o impacto negativo do conflito no Oriente Médio”, diz Velho, para quem ainda resta saber se a “questão Irã” ainda entrará nos preços do mercado, em referência à possibilidade de novas sanções econômicas e bloqueio das exportações de petróleo do Irã, tido como financiador do Hamas.

À tarde, o porta-voz do Departamento dos Estados Unidos, Matthew Miller afirmou que o Irã provavelmente estava ciente da intenção do grupo palestino Hamas de atacar alvos em Israel, mas não sabia o cronograma nem os detalhes da ofensiva iniciada no sábado. 

O Bradesco aumentou a projeção para o dólar no fim de 2023, de R$ 4,80 para R$ 5,0, mas reiterou a expectativa de fortalecimento do real ao longo do ano que vem, a R$ 4,80 no fim de 2024. A estimativa já incorpora uma elevação nas estimativas para a taxa básica de juros americanas no ano que vem, da faixa de 3,25% a 3,5% para a de 4,25% a 4,5%.

“Ainda que sujeito a um menor diferencial de juros em nossas novas projeções, a queda prevista para a Selic ainda mantém uma distância para os juros dos EUA compatível com alguma apreciação do real, especialmente quando o movimento de corte de juros pelo Fed ficar mais claro”, afirmou o economista-chefe do banco, Fernando Honorato.

Taxas de juros

Os juros futuros encerraram a sessão desta terça-feira em queda, acompanhando de perto a dinâmica do mercado de Treasuries, que operou com yields em baixa firme. Com o recuo também do dólar e dos preços do petróleo, a curva local pode aparar excessos de prêmios embutidos na semana passada, especialmente na ponta longa, trecho que mais responde ao ambiente internacional. Além disso, houve uma melhora na percepção sobre os conflitos em Gaza, sem sinais concretos de envolvimento do Irã.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 fechou em 10,76%, de 10,833% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2026 recuou de 10,66% para 10,56%. O DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 10,77% (10,89% na segunda-feira) e o DI para janeiro de 2029, taxa de 11,25%, de 11,38%.

A trajetória baixista foi proporcionada pelo alívio na curva dos Treasuries, segmento que havia provocado o “sell off” nos bônus globais na semana passada. Logo cedo, os yields se ajustavam às declarações da segunda-feira de Philip Jefferson, do Fed, ressaltando o impacto do aumento das taxas longas sobre as condições financeiras e admitindo que isso será levado em conta em suas próximas decisões.

Mais tarde, na mesma linha de Jefferson, Raphael Bostic, sem direito a votar nas reuniões deste ano, afirmou que os juros estão em níveis “suficientemente restritivos” para garantir o retorno da inflação à meta de 2% nos EUA, mas que ainda há um caminho até lá. Ainda, o presidente do Fed de Minneapolis, Neel Kashkari, que vota este ano, admitiu que a alta nos juros dos Treasuries pode deixar “menos trabalho para o Fed”.

“É justamente pelos exageros da semana passada que os diretores do Fed agora estão com discurso mais dovish, deixando os mercados mais tranquilos. E hoje ainda teve China”, afirma a economista-chefe da B.Side Investimentos, Helena Veronese, referindo-se às informações de que o país asiático está considerando elevar seu déficit orçamentário para 2023 para lançar uma nova rodada de medidas de estímulo para ajudar a economia.

No fim da tarde, o rendimento da T-Note de 2 anos se matinha abaixo dos 5% e o do papel de 10 anos, abaixo de 4,65%, depois de ter rompido 4,80% na semana passada. O desempenho dos Treasuries e a perspectiva sobre a China favoreceram moedas de economias emergentes e o câmbio no Brasil fechou em baixa de mais de 1%, aos R$ 5,0562.

Nas commodities, o petróleo teve baixa moderada, longe de devolver a escalada de 4% na segunda-feira. De todo modo, houve melhora no sentimento com relação ao conflito Israel-Hamas, dada a falta de sinais de apoio de outros países do mundo islâmico ao grupo extremista. Em especial, a ausência de evidências de envolvimento do Irã, grande produtor de petróleo, sugere que o confronto não deve se espalhar pelo Oriente Médio.

Bolsa

Em alta pelo terceiro dia, o Ibovespa conseguiu mudar de sinal no mês, passando a acumular leve ganho de 0,15% em outubro. Nesta terça-feira, a referência da B3 oscilou entre mínima de 115.157,90 e máxima de 116.899,51 pontos, para fechar em alta de 1,37%, aos 116.736,95 pontos, no maior nível de encerramento desde 20 de setembro, então perto dos 118,7 mil pontos, e com o maior ganho, em porcentual, desde 1º daquele mesmo mês, há 40 dias, quando havia avançado 1,86%.

Na semana, o Ibovespa avança 2,25% e, no ano, ganha 6,38%. O giro financeiro desta terça-feira ficou em R$ 20,1 bilhões. 

Na B3, o dia foi de avanço bem distribuído pelas ações de maior peso e liquidez, de Vale (ON +0,60%) e Petrobras (ON +1,03%, máxima do dia no fechamento; PN +0,74%) às de grandes bancos, à exceção de Itaú (PN -0,11%) e de BB (ON -0,16%), com destaque para Bradesco (ON +0,79%, PN +1,12%) e Santander (Unit +1,20%) no encerramento da sessão.

Na ponta do Ibovespa nesta terça-feira, CVC (+16,48%) – que chegou a superar oscilação máxima permitida e foi à leilão durante o pregão -, à frente de Pão de Açúcar (+9,33%), Azul (+7,41%), Gol (+7,26%) e Magazine Luiza (+6,99%). 

No lado oposto, apenas sete dos 86 papéis da carteira Ibovespa, com Alpargatas (-4,34%) bem à frente de Klabin (-0,81%), BB Seguridade (-0,78%), Suzano (-0,44%) e Prio (-0,41%), além de Banco do Brasil e Itaú. 

A acomodação dos rendimentos dos Treasuries, com o de 10 anos hoje a 4,65% – bem mais perto da mínima (4,61%) do que da máxima (4,80%) do dia – contribuiu para que os principais índices de ações em Nova York mostrassem alta entre 0,40% (Dow Jones) e 0,58% (Nasdaq) no fechamento da sessão desta terça-feira. 

“Bolsa subiu hoje mais de 1%, em bela recuperação, muito atrelada à retomada nos Estados Unidos, com a reabertura do mercado de Treasuries que esteve fechado ontem em razão de feriado”, diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos, destacando o recuo nos rendimentos dos títulos do Tesouro norte-americano, em meio a falas de autoridades do Federal Reserve, entre na segunda-feira e na terça-feira, consideradas de forma favorável pelo mercado, em tom interpretado como suave, ‘dovish’.

“O mercado começa a entender, por essas falas de ‘Fed boys’, que poderá não haver mais aumento de juros por lá este ano, embora alguns deles dirigentes do BC americano tenham reiterado que continuam de olho na inflação”, acrescenta Moliterno. “O ânimo mais positivo lá fora se refletiu aqui em fechamento da curva de juros, impulsionando também a Bolsa, com os setores de consumo e varejo ‘performando’ bem”, acrescenta. Ele chama atenção também para o efeito de novas medidas anunciadas na China – um pacote bilionário para o setor de infraestrutura -, o que contribuiu para o avanço de Vale e do setor metálico na sessão. 

“O mercado foi bem hoje, dando sequência à recuperação desde a última sexta-feira, depois de um período bem negativo, que vinha refletindo preocupações externas, especialmente na curva de juros americana. Afora isso, era difícil justificar uma performance tão negativa da Bolsa considerando a melhora que se teve, com o arcabouço fiscal e a redução da Selic, entre outros fatores, no plano doméstico”, diz Felipe Moura, sócio e analista da Finacap Investimentos.

“Estávamos muito à mercê desta abertura na curva de juros nos Estados Unidos e ao que parece, passado o pior momento, as bolsas também se recuperam por lá”, acrescenta o analista. Ele avalia que, após os primeiros efeitos do conflito no Oriente Médio, os preços dos ativos rapidamente convergiram a padrão mais próximo à normalidade, com a “acalmada” observada também na curva de juros americana.

“No petróleo, ainda é muito cedo para saber os efeitos que o conflito produzirá na oferta e demanda”, diz Moura, de maneira que, nesta terça-feira, os preços da commodity devolveram parte, ainda que pequena, do forte avanço observado no dia anterior, quando se teve a reação inicial do mercado aos ataques do Hamas

Nesta terça, o barril da referência americana, o WTI, fechou em queda de 0,47%, um pouco abaixo de US$ 86 nos contratos para novembro. A referência global, o Brent, caiu 0,56% nesta terça-feira, a US$ 87,65 por barril, nos contratos para dezembro

“Uma notícia positiva, que contribuiu para essa retirada de pressão sobre os preços do petróleo, foi o sinal de que o Irã considerado o principal aliado estatal do Hamas, e grande produtor da commodity não pretende se envolver no conflito. Portanto, não há uma pressão iminente sobre o fornecimento global de petróleo”, diz Larissa Quaresma, analista da Empiricus Research. 

Além dos juros futuros norte-americanos, o câmbio tem sido outro canal de transmissão da maior aversão a risco no exterior, que precedia o recente conflito no Oriente Médio, com as atenções ainda concentradas na extensão do ciclo de aperto monetário nos Estados Unidos e os efeitos decorrentes para a precificação de ativos, especialmente nos emergentes, e para a atividade econômica global como um todo.

Neste contexto, a depreciação do real em relação ao dólar, em função da menor diferença entre os juros brasileiros e americanos, impõe o risco de que o Banco Central tenha menos espaço para reduzir a taxa Selic, afirma o Bradesco, em relatório. O banco reiterou a expectativa de redução da taxa básica doméstica a 11,75% no fim de 2023 e a 9,25% ao término do ciclo de cortes, mas reconhece riscos na projeção, para cima, reporta o jornalista Cícero Cotrim, do Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado. 

“O menor diferencial de juros pode desafiar nossa projeção para a taxa de câmbio e obrigar o Banco Central a praticar uma Selic terminal superior àquela que antevemos”, diz o relatório do Bradesco assinado por Fernando Honorato Barbosa. “Por ora, preferimos manter essa possibilidade nos cenários de riscos, sem alterar o cenário-base”, acrescenta.

Estadão Conteúdo

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