Menu
Economia

Cresce a procura por consórcios no país. Mas é bom tomar cuidado

Arquivo Geral

16/07/2018 7h00

Foto: Myke Sena/Jornal de Brasilia.

João Paulo Mariano
[email protected]

Apesar de ser uma opção antiga e andar meio em baixa, o consórcio ainda é benquisto por muita gente. Tanto que, segundo dados da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abac), na comparação dos primeiros cinco meses deste ano com o mesmo período do ano passado, houve crescimento de 10,7% das adesões de todas as modalidades. Porém, é preciso tomar cuidado: especialistas alertam que o consórcio pode não ser bom para todo mundo e que o retorno, financeiramente, pode não ser lá essas coisas. Mais: é preciso tomar cuidado com ofertas que pareçam muito generosas.

O empresário Carlos Leonardo Motta, de 33 anos, assegura que pesou os fatores e preferiu o consórcio a um financiamento para obter o novo carro. Ele, que não tem controle financeiro tão firme, há três meses paga R$ 720 para, em até cinco anos, obter um Fiat Pálio novo. Ele já tem um carro, mas deseja trocá-lo no máximo em dois anos. Assim, ao final do período, terá pago R$ 43.200 de um carro que é avaliado em R$ 39.600, após a cobrança de taxas e juros.

Carlos revela que, na hora de aderir, levou em consideração a “obrigação com a prestação”, que o faria ter uma “poupança forçada”. Ele garante que pesquisou bastante até encontrar o consórcio e sua financeira. O financiamento, outra forma muito comum de obter um veículo, foi deixado de lado porque o empresário percebeu que pagaria até o dobro do valor do carro. Isso o desanimou na hora.

Foi com a adesão de pessoas como Carlos Leonardo que o setor de consórcios teve o maior crescimento dos primeiros cinco meses do ano desde 2014. Apenas em maio, foram 220 mil novas adesões. De janeiro a maio deste ano, ocorreram 1,01 milhão de adesões, contra 912,5 mil ocorridas no mesmo período do ano de 2017. A preferência foi por consórcios de veículos leves, com 467 mil novas cotas. Em seguida, vêm 390 mil de motocicletas e 99 mil de imóveis.

Os consórcios, no Brasil, nasceram na década de 1960. De acordo com a Associação Brasileira de Administradores de Consórcios, foi em Brasília que surgiu o primeiro grupo de pessoas a se organizar para conseguir juntar dinheiro e comprar um carro. Era uma época de escassez de crédito. A ideia era reunir um grupo, cotizar-se e obter o bem desejado.

De lá para cá muita coisa mudou, inclusive a forma de crédito e de as pessoas investirem. Algo que não mudou é que muitos ainda pensam que consórcio é um investimento. Na verdade, o único retorno que a pessoa tem é da compra do bem desejado.

O educador financeiro Francisco Rodrigues percebe que o consórcio é uma cultura que é passada de geração em geração no Brasil e que interessa, em especial, àqueles que não têm costume de poupar ou não conhecem muitos investimentos. “É só uma poupança forçada. Para quem não tem disciplina, inicialmente, pode ser uma coisa boa. Mas, é preciso prestar atenção, pois existe um custo em cima disso, como a taxa paga para a administradora”, afirma.

A professora de finanças da Faculdade Getúlio Vargas (FGV), Myrian Lund, é ainda mais incisiva: “Se a pessoas não consegue juntar, é melhor o consórcio que nada. Mas, não é certo. O melhor é aplicar”. A justificativa dela é que, mesmo com taxas baixas, a pessoa não vai fazer o dinheiro dela render, como em um investimento real.

Myrian chama atenção que o cliente pode até estar “perdendo” dinheiro já que paga mensalmente as parcelas de um carro e, muitas vezes, não o tem pois não foi sorteado. Em paralelo, há gastos com ônibus ou táxi, fazendo que o custo real do consócio fique bem caro.

A planejadora financeira aconselha que, em vez de contratar um consórcio de imediato, a pessoa pense em alternativas, como a de poupar por algum tempo, deixar o dinheiro render para conseguir comprar uma casa ou um carro. Uma possibilidade seria investir no Tesouro Direto ou em fundos de renda fixa.

Custo baixo é o atrativo maior para participantes

Para o presidente executivo da ABAC, Paulo Roberto Rossi, o crescimento, mesmo com a crise, é justificado porque o consumidor está atento as possibilidades de gastar com mais qualidade. “O consórcio é um auto-financiamento a longo prazo com um custo mais baixo e ajuda no planejamento financeiro, já que a pessoa faz um compromisso com aquele dinheiro”, afirma. Ele apenas alerta que é preciso verificar a idoneidade da empresa na qual o consórcio será feito.

Apesar disso, Paulo Roberto revela que a crise também modificou a forma da venda dos consórcio, numa tentativa de se adaptar às possibilidades dos clientes. Antes da crise econômica do País, um automóvel era vendido em um consórcio de 50 ou 60 meses, mas agora há planos até 80 meses. Para imóveis, a mesma situação vale: de 120 meses, os pagamentos se estendem até 250 meses. Tudo para que as parcelas não fiquem muito altas e a pessoa não desista.

Sorteio e lance

O servidor público Henrique César Campos, 40, preferiu não dividir em tantas vezes. Na verdade, ele quis pegar o carro em poucos meses, já que, em um consórcio, você pega o bem após um sorteio, no qual a pessoa ganha uma carta de crédito e compra o produto desejado, ou após dar um lance – uma quantia dada para adiantar o processo, como se fosse uma entrada.

Henrique pegou o Honda Civic no segundo mês de consórcio, após dar um lance de R$ 15 mil. A intenção dele era pegar o veículo rapidamente e escapar do financiamento. Colocar o dinheiro na poupança ou em outra renda fixa não era uma escolha, já que ele não queria esperar muito. “Guardar o dinheiro e esperar seria o melhor em um mundo ideal, mas eu não teria disciplina para isso”, afirma. Para ele, o consórcio valeu muito a pena e ele quer aderir a outro assim que as parcelas desse primeiro terminar.

Saiba Mais

Pesquisa feita no início deste ano pela Quorum Brasil, a pedido da Abac, investigou e traçou o perfil de quem contrata um consórcio:

73% dos contratantes são das classes C e D.

54% têm mais de 40 anos e 11% até 29 anos.

Para a contratação, o primeiro fator levado em consideração foi a garantia de ter o bem com rapidez.

Em segundo lugar, foi o valor baixo da parcela. Em terceiro, a facilidade para retirar o produto com um fácil assistência.

Por último, a idoneidade dos administradores dos produtos.

 

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado