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Economia

Como manter a boa governança em tempos de guerra? IBGC produz material com 14 dicas

Instituto aponta que é fundamental colher informações de qualidade e avaliar bem os riscos aos negócios

Redação Jornal de Brasília

12/09/2022 6h27

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

A guerra na Ucrânia completou seis meses no dia 24 de agosto. Desde que o governo russo decidiu mover tropas para o território do país vizinho, o mundo teve mais um fator de desequilíbrio econômico, que afetou os preços dos combustíveis, da energia e teve reflexo na governança das empresas, que passaram a ter que lidar com novos riscos. A partir disso, o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) produziu um material com 14 dicas para as companhias se guiarem em tempos de conflito.

O documento ‘Governança em Tempos de Guerra’ ressalta que os gestores devem buscar avaliar os impactos externos, na economia, e os internos, nas ações e posicionamentos da companhia ante o conflito e os atores envolvidos – a intenção é de que sirva não só para o embate atual, e sim para qualquer um que venha a repercutir no Brasil. Assim, a primeira dica é identificar e monitorar os riscos, incorporando-os na gestão estratégica, e garantir o recebimento de informações de qualidade, livres dos vieses ideológicos de ambos os lados. Também é necessário compartilhar essas informações com stakeholders e, se necessário, criar um comitê de crise.

A partir de então, o IBGC recomenda que as empresas reavaliem questões como fornecimento, cadeias de transporte, câmbio e cibersegurança – a guerra entre Rússia e Ucrânia teve ataques hackers sendo direcionados não somente aos governos dos dois países, mas também a organizações que operavam em um dos dois lados. Pode ser preciso realizar mudanças caso algum dos fatores sejam afetados pela guerra ou pelas sanções econômicas, quando estas são aplicadas a um dos beligerantes – no caso atual, a Rússia sofreu pesadas sanções de países ocidentais.

Na sequência, o material preconiza ações que a empresa deve tomar ao manter compromisso com a responsabilidade corporativa. Por exemplo, é fundamental garantir a segurança física, psicológica e material de funcionários que estiverem nas regiões afetadas pela guerra. Além disso, cada posicionamento deve ser feito com cuidado e atendendo aos propósitos da organização e cada doação e ajuda humanitária enviada aos refugiados e população afetada seja feitas com transparência, para evitar ser acusado de greenwashing. Por fim, pode-se verificar se há a possibilidade de inovar ou expandir os negócios em setores mais impactados pelo conflito.

O documento foi produzido a partir de pedidos de associados do IBGC, que levaram a um processo de consulta com especialistas de diversas áreas. O mais importante é avaliar o contexto de cada empresa, já que cada uma sofre impactos distintos a partir da mudança de cenário geopolítico. “A publicação tem o olhar sobre qual deve ser o papel do conselho, no momento em que a empresa é impactada por uma guerra do outro lado do mundo, sobre como buscar a estratégia que mais adiciona valor à companhia”, explica Valéria Café, diretora de vocalização do IBGC.

Assim, garantir a qualidade das informações recebidas se torna fundamental – a dica é para buscar o máximo de fontes possíveis e confiar no trabalho de apuração de jornalistas profissionais. Além disso, é importante também não se apressar e tomar decisões sem conhecer o quadro completo, o que pode levar a atitudes contrárias aos valores da organização. “O Conselho também sofre pressão para a tomada rápida de decisões, o que pode acabar prejudicando a racionalidade”, comenta Danilo Gregório, gerente de relações institucionais e governamentais do IBGC.

Para garantir que as respostas sejam dadas no momento adequado, a formação de um comitê de crise pode ser adequada – desde que esteja amparado pelo conselho em suas decisões, incluindo o posicionamento da empresa e a possibilidade de realizar doações. Nessas atitudes, mais uma vez os princípios da organização devem servir como guia. “É necessário ter coerência e consistência. A coerência se faz sentido com os propósitos e valores, para alimentar o planejamento estratégico, e a consistência é tomar cuidado com aquela ação para que não tenha apenas o viés midiático ou de marketing, e de fato ajude”, explica Gregório.

A transparência se torna fundamental, porque do contrário as empresas podem sofrer não apenas riscos reputacionais, mas serem cobradas na Justiça por stakeholders. No entanto, caso não tenha sido impactada pela guerra, um posicionamento pode ser desnecessário. A empresa deve ter uma escuta ativa de clientes e fornecedores com quem se relaciona, mas caso não seja cobrada por eles, não precisa se pronunciar sobre algo que não lhe diz respeito.

Com a análise de riscos feita, também se podem identificar oportunidades, já que há países e setores mais afetados do que outros em cada crise internacional. Por exemplo, pode surgir a chance de fornecer um produto que esteja em falta devido à dificuldade que uma empresa de outra região do planeta esteja sofrendo. Outro ponto é que a inovação pode surgir mais rápido num contexto em que se buscam soluções. Um caso pode ser visto na guerra atual, que mostrou a dependência europeia do gás russo. Os países aumentaram investimentos em energia verde como forma de lidar com o problema e buscarem independência no setor.

Cibersegurança

Durante a guerra da Ucrânia, grupos de hackers dos dois países se voltaram contra órgãos governamentais do lado inimigo, mas também empresas que operam dos dois lados. Por isso, a cibersegurança entrou em pauta: as companhias brasileiras com negócios no local do conflito também precisam se precaver. “Não ser alvo é muito difícil, apenas se fosse uma empresa 100% offline. O importante é definir com antecedência quais são as informações que se pretende proteger para evitar perdas de dados e reputacionais”, adverte Luiz Martha, gerente de pesquisa e conteúdo do IBGC. Ao mesmo tempo, também é preciso garantir que o arsenal de segurança não acabe paralisando o negócio e impedindo a inovação.

Luiz cita como possibilidade de estrutura a NIST, criada pelo Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia dos Estados Unidos e que se baseia em cinco pilares: identificar os principais pontos a serem protegidos (incluindo o risco caso um fornecedor tenha acesso a parte do sistema), proteger com a implantação de salvaguardas, detectar rapidamente quando está sendo atacado, responder com velocidade com um plano de contingência de como mitigar e, por fim, recuperar, com um restauro que traga de volta as informações perdidas e comunique a situação para todos os stakeholders, sejam no público interno da companhia ou no externo.

Estadão Conteúdo

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