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Economia

Capital brasileira da desigualdade social

Redação Jornal de Brasília

10/04/2019 15h52

Beatriz Castilho
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Se em todo Brasil existe grande diferença no nível de remuneração segundo o gênero do profissional, essa diferença cresce radicalmente no Distrito Federal. É só fazer as contas: na média nacional, homens recebem 44,9% a mais que mulheres, mas na capital a diferença chega a 88,78%.

Os dados fazem parte de um levantamento feito pela plataforma Quero Bolsa, com base nos registros do Cadastro Geral de Empregados e desempregados (Caged), de 2018. Fornecidos pela Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, os números retratam a realidade de 600 ocupações diferentes que realizaram contratações com carteira assinada no ano passado – em apenas 90 delas, mulheres ganham a mais.

No ano passado, homens contratados para funções com exigência de nível superior tiveram renda média mensal de R$ 3.756,84. Já as mulheres ficaram com R$ 2.592,65. Em casos de contratos com até ensino médio, a diferença baixa para 10,89%, com homens ganhando R$ 1.570,89 e mulheres com R$ 1.416,60 por mês.

Vale até para servidor
Para Rui Gonçalves, gerente de relações institucionais do Quero Bolsa, o Distrito Federal é um caso à parte. “Com o grande número de funcionalismo público, esperávamos que a região não fosse ter valores tão diferentes, mas isso não se mostrou na pesquisa”, conta ao Jornal de Brasília.

Apenas nas áreas de educação e saúde, as mulheres da capital invertem o jogo da remuneração. Na vaga de coordenador pedagógico, por exemplo, mulheres recebem um salário médio de R$ 3.201,08, já homens contam com R$ 2.587,88, uma vantagem de 23,70% favorável às pessoas do sexo feminino.

A diferença de remuneração chega a 88,78% na área de analista de sistemas de automação. O salário médio pago aos profissionais do sexo masculino foi de R$ 6.116,48, enquanto as mulheres na mesma função receberam R$ 3.240,08.

Para Rui, os números são um reflexo das variantes que se apresentam na conta. “Estados com menores índices de IDH, menor economia e locais mais conservadores, as diferenças se mostram mais concentradas”, ressalta.

Os mais e os menos
Maranhão (33,3%), Sergipe (29,99%) e Bahia (29,37%) mostram as discrepâncias mais significativas. Roraima (4,74%), São Paulo (6,69%) e Pernambuco (11,45%) são as localidades que mais se aproximam da isonomia.

A pesquisa surgiu de forma espontânea, quando a diferenciação salarial se tornou protagonista dos resultados do grupo de estudo. “Inicialmente estávamos criando uma página para que estudantes pudessem consultar salários de profissões. Mas, formulando essa ferramenta, encontramos recortes que poderíamos investigar mais”, explica Rui.

Projeto tenta acabar com a diferença

Para o gerente, os dados mostram o tamanho do problema, e, assim, podem gerar pressão por mudança. Há pouco mais de duas semanas, o Senado se posicionou a favor da isonomia salarial para homens e mulheres que desempenhem mesma função e atividade, aprovando, há pouco menos de um mês, um projeto de lei (PLS 88/2015) que introduz, na Consolidação das Leis do Trabalho, uma sanção contra empresas que não seguirem a paridade na folha de pagamento. Aprovado pelo plenário, o projeto tramita agora na Câmara dos Deputados.

“Acrescenta § 3º ao art. 401 da Consolidação das Leis do Trabalho para dispor sobre a multa pela infração ao disposto no inciso III do art. 373-A, que proíbe considerar o sexo, a idade, a cor ou situação familiar como variável determinante para fins de remuneração, formação profissional e oportunidades de ascensão profissional”, justifica o autor do projeto, senador Fernando Bezerra Coelho (PMDB-PE).

“Há quem utilize a questão da maternidade para justificar a desigualdade salarial, mas, para nós, isso não se justifica mais. Vemos cada vez mais diminuir a média de filhos por família”, ressalta Rui. Desde o início do século, o IBGE constata que a taxa de fecundidade no Brasil se mantém abaixo de 2 filhos por mulher.

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