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Economia

Café com leite fica mais barato e alivia consumidor após disparada

No acumulado de 12 meses até agosto, o leite longa vida registrou deflação e o café moído (em pó), por sua vez, também registrou deflação

Redação Jornal de Brasília

24/09/2023 7h55

Foto: CARL DE SOUZA / AFP

LEONARDO VIECELI
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS)

Os preços dos dois ingredientes que dão origem a uma bebida tradicional, o café com leite, mostram trégua no Brasil.

O alívio ocorre após a inflação dos dois produtos pressionar o bolso dos consumidores nos últimos anos, segundo dados do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo).

No acumulado de 12 meses até agosto, o leite longa vida registrou deflação (queda) de 25,2% no país. Trata-se da redução mais intensa desde agosto de 2017 (-27,79%).

O café moído (em pó), por sua vez, registrou deflação de 7,32% em 12 meses até agosto. É a maior queda desde janeiro de 2020 (-7,37%).

Os dados do IPCA, que são divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), podem ser consultados no Painel da Inflação atualizado pela Folha.

Em julho de 2022, o leite longa vida chegou a acumular alta de 66,46% em 12 meses. Já a inflação do café moído bateu em 67,53% em abril do ano passado.

Economistas dizem que os dois ingredientes ficaram mais baratos neste ano a partir da ampliação da oferta dos produtos. A trégua dos preços de insumos usados na produção também teria contribuído para a queda nas gôndolas dos supermercados.

“No caso do leite, o pecuarista precisa de rações para o gado feitas a partir da soja e do milho. Com os custos mais baixos, o preço do leite fica mais comportado”, diz o economista André Braz, coordenador dos índices de preços do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).

QUADRO PREOCUPA PRODUTORES DE LEITE

Além de citar o alívio dos custos produtivos, Braz afirma que o aumento das importações de leite elevou a oferta no Brasil e atenuou os preços do item para o consumidor. Isso, contudo, pode levar mais produtores a abandonarem a atividade, pondera o economista.

“Se a oferta for muito grande, o pecuarista pode ter dificuldade para recompor suas margens de lucro. Assim, pode optar por beneficiar o leite [produzir derivados], e não disponibilizar o leite in natura. Seria uma reação.”

Representantes do setor pressionam o governo federal pela adoção de medidas para frear as importações na indústria. Na visão deles, as compras externas, sobretudo do Mercosul, reduzem a rentabilidade e colocam em xeque especialmente os pequenos produtores no Brasil.

De janeiro a agosto deste ano, as importações de leite, creme de leite e laticínios (exceto manteiga e queijo) subiram 154,5% em volume ante igual período de 2022, segundo dados da plataforma Comex Stat, do governo federal.

“O preço do leite deveria estar aumentando agora, na entressafra, não fosse o impacto da importação”, afirma o economista Jackson Bittencourt, coordenador do curso de ciências econômicas da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná).

“A queda é uma boa notícia para quem toma café da manhã, mas há uma preocupação com os produtores”, acrescenta.

Segundo o professor, o setor está bastante associado a pequenos estabelecimentos rurais no Brasil, enquanto em países como a Argentina há maior presença de grandes pecuaristas. “Eles conseguem ter custos de produção menores. Têm ganhos de escala.”

Em agosto, o consumidor pagou R$ 4,90 pelo litro de leite UHT, em média, na cidade de São Paulo. O valor representa uma queda de 24,5% em relação a igual mês de 2022, quando o preço médio estava em R$ 6,49.

Os dados são da cesta básica pesquisada pelo Procon-SP em convênio com o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).

Ao longo do ano passado, que registrou problemas climáticos em regiões produtoras do país, o leite chegou a custar mais do que o litro da gasolina, como mostrou a Folha à época.

CAFÉ TEM SAFRA MAIOR

Ainda de acordo com a pesquisa divulgada pelo Procon-SP, o café em pó também ficou mais barato para o consumidor na capital paulista.

Em agosto, a embalagem de 500 gramas custou R$ 14,37, em média. A redução foi de 6,38% ante igual mês de 2022, quando o preço era de R$ 15,35 na cidade.

A trégua ocorre em um cenário de expansão produtiva. Em 2023, a safra brasileira de café deve alcançar 54,36 milhões de sacas, aponta estimativa da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).

O volume projetado representaria um crescimento de 6,8% ante 2022, apesar de este ano ser de bienalidade negativa para a cultura, o que tradicionalmente significa uma colheita menor.

“O café teve uma safra boa, o clima ajudou. Em 2021, por exemplo, passamos por um período ruim, com geadas na época de maturação dos cafezais, o que deu um choque”, afirma Braz, do FGV Ibre.

“Com o aumento da oferta, o preço agora caiu”, completa o economista, que não prevê altas significativas para os preços do produto nos próximos meses.

Bittencourt, da PUC-PR, avalia que a carestia do café nos últimos anos dificultou o consumo da população. Isso, diz o professor, também gerou reflexos sobre os preços. “Com o aumento da oferta e a queda da demanda, os preços caem mesmo”, aponta.

Em 2022, o consumo de café recuou 1% no Brasil, conforme dados divulgados em março pela Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café).

No IPCA, o café moído deve fechar 2023 com queda acumulada de 8,07% até dezembro, indicam projeções do economista Fábio Romão, da LCA Consultores.

A taxa prevista significaria uma deflação mais intensa do que a baixa de 7,32% registrada até agosto. No acumulado de 2022, o café moído registrou alta de 13,51% no Brasil.

Para o leite longa vida no IPCA, Romão prevê queda de 5,33% em 12 meses até dezembro de 2023. É uma redução menos intensa do que a verificada até agosto deste ano, de 25,2%.

Conforme o economista, a baixa deve ficar menor por efeitos da base de comparação. Isso porque houve o registro de fortes reduções mensais no final de 2022, que sairão do cálculo de 12 meses até dezembro de 2023. Mesmo com essas quedas, o leite longa vida fechou o ano passado com alta acumulada de 26,18%.

Em 12 meses, o café solúvel ainda acumula alta no IPCA. A variação foi de 3,89% até agosto de 2023. O avanço, contudo, era maior um ano antes. Estava em 24,8% até agosto de 2022.

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