ANA POMPEU E THAÍSA OLIVEIRA
FOLHAPRESS
A investigação da Polícia Federal sobre o Banco Master apontou que o BRB (Banco de Brasília) atuou para dar “sobrevida” à instituição controlada por Daniel Vorcaro e adiar sua liquidação.
Segundo os delegados responsáveis pelo caso, a cúpula do BRB trabalhou para garantir liquidez ao Master e aceitou parcelar a cobrança do dinheiro referente a créditos fraudulentos do banco, até que a compra da instituição de Vorcaro fosse concluída.
“Havia pleno interesse do BRB em que o Banco Master não fosse liquidado antes da aprovação de sua compra pelo Banco de Brasília, motivo pelo qual, certamente, haveria um esforço coordenado entre as duas instituições para manter vivo o Banco Master”, afirma a representação da PF que deu origem à operação Compliance Zero, em que foram presos Vorcaro e outros envolvidos no caso. O banqueiro deixou o centro de detenção no sábado (29).
A Polícia Federal diz que, depois de ignorar irregularidades graves nos créditos adquiridos do Master, o BRB demorou para responder aos questionamentos feitos pela fiscalização do Banco Central e ainda adiou o pagamento do dinheiro que deveria ser devolvido.
“Apesar de consciente de que poderia recuperar 6,7 [bilhões de reais] de forma instantânea, apenas se utilizando de cláusula resolutiva, a instituição prefere receber por tranches mensais, permanecendo o dinheiro vinculado à conta do Master, inferindo-se, claramente, o dolo de que o dinheiro permanecesse com aquela instituição”, afirmam os delegados.
A investigação apontou que o BRB aceitou receber o montante em sete parcelas, de junho de 2025 a dezembro de 2025. Essa devolução parcelada teria sido feita de forma “totalmente alheia às previsões contratuais”.
“Tudo leva a crer que a intenção era dar sobrevida ao Banco Master, que precisava rolar suas obrigações pelo menos até o momento da compra pelo BRB. Desse modo, o BRB provê os recursos necessários a tal longevidade”, afirmam os policiais.
O Conselho de Administração do BRB aprovou a compra de 58% do Master em março deste ano, mas a operação acabou barrada pelo Banco Central em setembro.
A investigação da PF e do Ministério do Público Federal apontou que, antes mesmo da formalização do negócio, o Master teria forjado e vendido cerca de R$ 12,2 bilhões em carteiras de crédito consignado para o BRB (R$ 6,7 bilhões em contratos falsos e R$ 5,5 bilhões em prêmios, o valor que supostamente a carteira valeria, mais um bônus).
O repasse das carteiras acendeu o alerta no Banco Central pelo volume de recursos, pelo histórico de compras de cada uma das instituições e pelas informações discrepantes apresentadas.
“Enquanto o conglomerado Master apontou como terceiros originadores duas Associações do Estado da Bahia (25/03/2025), o BRB se manifestou apresentando os contratos entabulados entre o Banco Master e a Tirreno para aquisição de carteiras de créditos consignados (18/06/2025)”, aponta a representação da PF.
O BRB afirmou em nota que “é credor na liquidação extrajudicial” do Master e que reforçou seus controles internos. Disse ainda que o Conselho de Administração decidiu pedir à Justiça para atuar como assistente de acusação no processo relacionado à operação com o Master.
“As carteiras atuais seguem padrão adequado, e o banco permanece sólido e colaborando com as autoridades. Todo o processo de substituição de carteiras e adição de garantias, prática prevista em contrato, foi reportado e acompanhado pelo Banco Central”, disse a instituição.
O Banco Master foi procurado, mas não houve resposta até a publicação desta reportagem. No último dia 22, Vorcaro e a instituição divulgaram uma série de documentos e notas à imprensa para alegar que o suposto crime de fraude ou prejuízo de R$ 12,7 bilhões é um “fato inexistente”, pois o Master agiu em “boa-fé” para proteger o BRB de qualquer perda.
Investigadores ouvidos pela reportagem afirmam que há indícios de que o Banco de Brasília tenha feito a aquisição do Master apenas para salvá-lo, uma vez que, se a instituição fosse liquidada ou sofresse intervenção, todos os balanços seriam escrutinados.
A operação Compliance Zero, deflagrada no último dia 18, culminou na liquidação do Master, na prisão de Vorcaro e no afastamento do ex-presidente do BRB Paulo Henrique Costa -demitido posteriormente pelo governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB).
Na sexta-feira, a desembargadora Solange Salgado, do TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região), concedeu habeas corpus determinando a soltura de Vorcaro e de todos os outros investigados na operação.