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Economia

Bolsa e câmbio destoam de cenário de guerra e Brasil pode atrair mais recursos

O Brasil tem atraído recursos desde a deflagração do conflito entre a Rússia e a Ucrânia. Na quinta esse movimento fez o dólar recuar 1,55%

Redação Jornal de Brasília

04/03/2022 7h14

Foto: Arquivo/Agência Brasil

Ao contrário do verificado em outros momentos de tensão global – quando investidores internacionais retiraram seus aportes de países emergentes e correram para os desenvolvidos, considerados mais seguros –, o Brasil tem atraído recursos desde a deflagração do conflito entre a Rússia e a Ucrânia. Na quinta-feira, 3, esse movimento fez o dólar recuar 1,55% no País e terminar o dia cotado a R$ 5,03.

Na Bolsa, apesar da queda de 0,1% no Ibovespa ontem – para 115.059,04 pontos –, o índice acumula alta de 2,7% desde o início da invasão russa. Nesse período, a Bolsa de Nova York subiu 1,5% e a de Frankfurt caiu 6,4%. A B3 ainda não divulgou dados de entrada de capital estrangeiro na última semana. Mas, nos primeiros dois dias do conflito, investidores estrangeiros colocaram aqui R$ 3,7 bilhões.

Além de a taxa básica de juros, a Selic, estar em um patamar alto, o que atrai capital, o fato de o País estar longe do conflito, um rebalanceamento do portfólio de investidores interessados em emergentes e a alta no preço das commodities têm impulsionado o Brasil no mercado financeiro.

“Estamos nos beneficiando desse cenário que já havia desde o começo do ano e que agora foi intensificado pelas commodities, que subiram mais ainda, e por essa questão de segurança geográfica”, diz Alexandre Maluf, estrategista da XP.

Para Maluf, se o conflito se aprofundar, os investidores devem passar a fugir dos emergentes. O gestor de moedas da ACE Capital, Daniel Tatsumi, no entanto, é um pouco mais cético em relação a esse movimento. “Acho que não deve ter uma grande fuga de recursos para os EUA, por exemplo, porque o juro lá ainda está muito baixo e a tendência é de que a subida da taxa seja lenta.”

Brasil pode atrair mais recursos

A retirada da Rússia de índices de referência de investimentos de mercados emergentes pode favorecer o Brasil ainda mais nas próximas semanas. Na noite de quarta-feira, a fornecedora global de índices de ativos MSCI anunciou que a Rússia deixará de fazer parte do índice MSCI Emerging Markets para ser classificada como um mercado independente. A mudança passa a valer a partir do dia 9 e foi decidida porque já não há mais acessibilidade e capacidade de investimento no mercado russo.

Na prática, essa alteração impede empresas russas de ter acesso a uma parte relevante dos fundos de investimentos. A tendência é de que os recursos que seriam aportados na Rússia sejam distribuídos entre outros mercados emergentes, como o Brasil.

Outra fornecedora de índices do mercado de ações, a FTSE Russel decidiu retirar a Rússia de todos os seus índices de renda variável. Segundo apurou o Estadão, investidores globais, como a BlackRock, vêm pressionando para a remoção do país desses índices. De acordo com uma fonte, a retirada da Rússia de outros índices deverá ocorrer em ritmo maior a partir da próxima semana.

Segundo cálculos do Itaú, apenas com a mudança feita pela MSCI, US$ 27,1 bilhões poderiam deixar a Rússia. Considerando que o Brasil tem um peso de 4,97% no índice, ele poderia receber US$ 1,34 bilhão desse total. Juntas, as Bolsas de toda a América Latina ficariam com US$ 2,12 bilhões.

Essa saída de recursos, porém, está travada por enquanto. Isso porque o mercado de ações russo está fechado desde segunda-feira, e as sanções adotadas contra o País tornam as transações financeiras bastantes difíceis.

Ainda assim, o fundo soberano norueguês, por exemplo, que possui US$ 1,3 trilhão sob gestão, já anunciou que venderá seus ativos russos, compostos por ações de 47 empresas, com um valor aproximado de US$ 2,83 bilhões.

Futuro

Por enquanto, conforme analistas, é mais certo que a América Latina e o Brasil reconquistem importância nos índices que balizam investimentos nos mercados emergentes e nas carteiras de fundos dedicados a esses países.

Levantamento recente do BTG Pactual mostra que os fundos que apenas compram ativos de países emergentes tinham, em 2021, 5% do total no Brasil, na mínima histórica, sendo que o máximo foi de 16,9% em 2009. Se forem considerado os fundos globais, que são aqueles que podem investir em todo o mundo, a fatia que o Brasil ocupa é de apenas 0,23% – já foi de 1,9%, também em 2009. No fundo dedicado aos Brics, a participação chega hoje a 10,6%, longe do pico de 35% observado em 2010.

Já no índice de emergentes da MSCI, a China tem um peso 12,7% superior à média dos últimos 22 anos, enquanto o Brasil e o México recuaram em 5,1% e 3,2% em suas respectivas participações, de acordo com o Itaú. A Rússia representava 1,47%, tendo perdido espaço desde a última revisão do índice em fevereiro, quando detinha 3,41%.

Estadão Conteúdo

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