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Brasil

Superdotação: crianças neuroatípicas precisam de ensino inclusivo, apontam especialistas

A especialista explica que os superdotados são indivíduos que demonstram um nível excepcional de habilidades ou talentos

Redação Jornal de Brasília

10/08/2023 16h26

Foto: Divulgação

Isabela Domanico e Maria Tereza Castro
Jornal de Brasília/Agência de Notícias CEUB

Quando o pequeno Filippo de Castro Morgado tinha dois anos de idade, os pais perceberam que havia algo de diferente nele. “Pippo”, como é apelidado, montava quebra-cabeças com rapidez e tinha agilidade para ordenar cores de forma lógica.

Ainda nessa faixa etária, eles notaram que, mesmo sem muito estímulo, o filho aprendeu rapidamente o alfabeto, a ler placas de carros e até algumas palavras em inglês, sem ter influência bilíngue em casa. Quando completou três anos, já falava e entendia o idioma estrangeiro.

A família já desconfiava, mas a superdotação foi confirmada em laudo. Aos quatro anos, a idade cognitiva de Filippo era de sete anos.

O que é superdotação?

A neuropsicóloga Tereza Pita explica que os superdotados são indivíduos que demonstram um nível excepcional de habilidades ou talentos em uma ou mais áreas específicas. Essas habilidades podem abranger vários campos como intelectual, acadêmico, artístico, musical, atlético e criativo.

Assim como Filippo, as crianças superdotadas costumam apresentar sinais como aprendizado rápido de forma natural, habilidades motoras avançadas e facilidade de adquirir vocabulário novo e complexo. Porém, a psicóloga orienta que esses indícios não garantem que uma criança seja superdotada. “A avaliação adequada envolve observação por parte dos pais, professores e profissionais qualificados”.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, aproximadamente 5% da população mundial possui superdotação. Segundo o Censo Escolar do ano passado, 26.815 crianças possuíam laudo de superdotação ou altas habilidades.

Mas, especialistas apontam que esse número pode estar subestimado em função de que nem todos os pais têm condições de fazer o exame.

Barreiras no ensino

A mãe de Filippo, Roberta Castro, recorda que ele entrou na primeira escola aos três anos. O menino não se adaptou às aulas, pois os professores ensinavam só o que ele já sabia. Isso fez com que ele não quisesse ir para a escola. “Aquilo ficou chato e cansativo pra ele, na escola ele só queria brincar no parquinho, não queria fazer as atividades, só ficar desenhando com giz no chão”.

Durante a pandemia de Covid-19, os pais de Filippo viram a necessidade de matriculá-lo em uma escola. E foi assim que começou a busca por uma escola inclusiva e bilíngue que estaria disposta a receber Filippo.

Por recomendação de uma amiga, Roberta encontrou uma escola em São Paulo, a Camino School, e marcou uma reunião com a diretora. “A diretora me disse que eles não tinham experiência com alunos superdotados, porém a escola é diversa. Ela disse: ‘Se você topar, a gente pode ir juntas aprender a lidar com essa questão. E pra mim vai ser muito legal’”, relatou a jornalista.

Escola inclusiva

A escola fundada em 2020 é trilíngue e já ganhou prêmios internacionais como uma das mais inovadoras do mundo. De acordo com a neuropsicopedagoga e diretora de desenvolvimento da criança, Renata Trefiglio, a busca por uma escola inclusiva surgiu da importância de oferecer oportunidades educacionais para todos os alunos, independentemente de suas diferenças e necessidades.

“Uma de nossas bases curriculares é a proposta do Desenho Universal da Aprendizagem (DUA) onde diferentes formas de reconhecimento, ação e expressão do conteúdo são oferecidas e incentivadas – essa é uma forma de garantir a inclusão de todos os alunos”, explica a neuropsicopedagoga.

A escola foi uma boa alternativa para Filippo. Depois dele, a unidade de ensino recebeu mais quatro alunos com superdotação e três que ainda investigam.

A mãe do menino, Roberta Castro, relata que, em um grupo de WhatsApp que tem com mães de crianças superdotadas de todo o Brasil, a principal preocupação é o ensino. “A escola é onde eles passam a maior parte do dia, onde socializam. Se não gostar do ambiente escolar, a criança até finge que está doente para não ir pra escola.”

Segundo a neuropsicopedagoga Renata Trefiglio, as peculiaridades na educação dos superdotados envolvem considerações específicas para atender às suas necessidades intelectuais, emocionais e sociais únicas. “Isso permitirá que desenvolvam todo o seu potencial intelectual, emocional e social, garantindo uma experiência educacional mais significativa e gratificante”, afirma.

Apoio

Roberta e outras mães de crianças superdotadas têm um grupo que começou com a necessidade de prestar apoio umas às outras e compartilhar o que elas sabiam sobre a superdotação. O grupo que começou com 12 famílias de São Paulo, hoje já tem mais de 500 famílias de todo o Brasil.

A jornalista diz que sentiu a falta desse grupo de pessoas orientando quando recebeu o laudo. Esse grupo hoje é uma referência para a comunidade dos pais de superdotados.

Hoje, não existem políticas públicas para as crianças superdotadas no Brasil. “Tem muita mãe fazendo rifa para conseguir levantar dinheiro para pagar o laudo. Essa é a nossa realidade. A gente não tem bolsa porque a superdotação não tem um CID (Código Internacional de Doença)” diz Roberta.

Para saber mais sobre o projeto Crescer Feliz AH/SD de acolhimento, informações estão disponíveis no Instagram.

O que fazer se descobrir a superdotação?

Após diagnóstico, a neuropsicóloga Tereza Pita aponta os próximos passos a seguir:

  • Conversar com profissionais especializados. A colaboração entre pais, educadores e profissionais especializados é fundamental.
  • Entender melhor as necessidades específicas.
  • Ajudar na preparação de um plano educacional individualizado enriquecido.
  • Prestar apoio emocional e social.
  • Promover um equilíbrio saudável entre atividades acadêmicas e outras atividades, como esportes, arte, música e tempo livre.
  • Reavaliar periodicamente.

Dia Internacional da Superdotação

Desde 2011, 10 de agosto é o Dia Internacional da Superdotação. A data, criada pelo Conselho Mundial das Crianças Superdotadas e Talentosas, tem como objetivo aumentar a visibilidade de crianças superdotadas e conscientizar sobre suas necessidades de aprendizagem e sociais/emocionais.

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