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Brasil

Reforço de vacina anti-Covid pode ser indicado para mais vulneráveis

A preocupação cresceu com a disseminação da variante delta, mais transmissível que o coronavírus original e já dominante na Europa

Redação Jornal de Brasília

26/07/2021 13h36

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Foto: Breno Esaki/Agência Saúde-DF

FolhaPress

Os níveis de anticorpos contra o coronavírus após a vacinação completa com AstraZeneca e Pfizer começam a cair três semanas após a segunda dose e a redução se mantém até a décima semana, indica o Virus Watch, mais abrangente estudo de coorte sobre Covid-19 do Reino Unido. Isso, porém, ocorre em graus diferentes de acordo com sexo, idade e condições clínicas da pessoa.

Conduzido por pesquisadores da Universidade College London (UCL) e por clínicos dos hospitais Royal Free, o trabalho acompanha no longo prazo mais de 40 mil participantes na Inglaterra e no País de Gales. Segundo os autores, embora a redução dos anticorpos já tenha sido detectada em outras pesquisas, elucidar lacunas sobre o tempo de proteção da vacina em diferentes grupos da população é importante para discutir a necessidade de doses de reforço contra Covid-19.

A preocupação cresceu com a disseminação da variante delta, mais transmissível que o coronavírus original e já dominante na Europa. No Reino Unido, o Comitê Conjunto de Vacinação e Imunização recomendou que um programa de reforço seja iniciado a partir de setembro, para evitar novo surto no inverno.

No artigo publicado nesta semana na revista Lancet, os autores da UCL levantam um problema ético –iniciar uma rodada ampla de aplicação de doses de reforço em países ricos enquanto os mais pobres ainda patinam para proteger suas populações.

O estudo da UCL mostra, por exemplo, que a queda no número de anticorpos varia de acordo com as características das pessoas imunizadas, sendo mais preocupante entre os clinicamente vulneráveis –que incluem pacientes transplantados, com doenças respiratórias e em terapia contra o câncer, entre outros. “Dados sobre disparidades nos níveis de pico de anticorpos e taxas de declínio podem, portanto, informar a implantação de reforço direcionada e equitativa”, escrevem.

É a persistência da proteção oferecida que precisa ser levada em conta para decidir sobre o reforço vacinal, segundo especialistas britânicos, e não os dados de eficácia dos imunizantes, como argumentou na última sexta (23) o secretário da Saúde do estado de São Paulo, Jean Gorinchteyn, ao descartar a aplicação de doses de reforço para qualquer faixa etária. O estudo sobre os níveis de anticorpos no longo prazo são só parte da resposta, porém, afirmam os pesquisadores do Virus Watch.

Falta estabelecer os limiares mínimos de anticorpos para proteger o organismo humano contra a doença e saber se as barreiras oferecidas por outro mecanismo de defesa –as células T– são suficientes para compensar a redução observada no estudo. “Evidências sugerem que os anticorpos são particularmente importantes para bloquear a infecção e prevenir a transmissão do vírus, enquanto as células T podem ser particularmente relevantes para prevenir doenças graves e morte”, afirma Eleanor Riley, professora de imunologia e doenças infecciosas da Universidade de Edimburgo.

Manter concentrações de anticorpos suficientes para reduzir a transmissão, portanto, é importante para limitar a quantidade de vírus circulante, embora a queda desses níveis possa não ser preocupante em relação à proteção contra doença grave.

De acordo com Riley, que não participa do Virus Watch, outra informação relevante é a rapidez com que as concentrações de anticorpos podem aumentar novamente se a pessoa for infectada (a chamada resposta de memória). A professora considera que ainda não há evidências suficientes para bancar cientificamente a terceira dose da vacina, ou seja, para decidir se o custo de fazer o reforço compensa o risco de não fazê-lo.

ENTENDA O ESTUDO

Para estimar quando os níveis de anticorpos começam a cair, os pesquisadores fizeram dois tipos de testes sorológicos em 605 adultos. O primeiro, identificado como S, detecta o total de anticorpos para uma subunidade (S1) da proteína S (de “spike”, ou espícula), usada pelo Sars-Cov-2 para entrar na célula humana.

O segundo, ensaio N, tem como alvo os anticorpos totais para uma proteína (do nucleocapsídeo de comprimento total), que indica se houve infecção anterior pelo coronavírus. As medições indicaram que voluntários que haviam contraído Covid-19 tinham nível de anticorpos equivalente a sete vezes o dos que não se infectaram. As amostras foram coletadas de 14 a 154 dias após a segunda dose de imunizante.

Os pesquisadores examinaram os níveis de anticorpos em cinco intervalos diferentes: de 14 a 20 dias, de 21 a 41, de 42 a 55, de 56 a 29 e a partir de 70 dias após a imunização completa. O estudo mostrou que, 70 dias após a vacinação, imunizados com a AstraZeneca tinham um quinto dos anticorpos apresentados entre 21 e 40 dias. No caso da Pfizer, o nível baixou para a metade.

Eleanor Riley, da Universidade de Edimburgo, diz que a redução maior com AstraZeneca pode ter como causa o fato de que vacinas de vetor viral tendem a induzir resposta de anticorpos mais baixa, mas respostas de células T mais fortes, enquanto as vacinas de mRNA, como a da Pfizer, buscam induzir altas concentrações de anticorpos.

A pesquisa revelou disparidade nos níveis de anticorpos em voluntários com vulnerabilidade clínica, que pode se explicar pelo fato de que esse grupo é bastante heterogêneo. Mas eles consideram “motivo de preocupação” níveis muito mais baixos de anticorpos 70 dias após a segunda dose, em pessoas clinicamente vulneráveis que tomaram o fármaco da AstraZeneca.

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