O líbio Ahmed Hasan, de 37 anos, que tem nacionalidade brasileira, foi detido na Turquia sob acusação de tráfico de drogas. As etiquetas de duas das bagagens dele, embarcadas no Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, Grande São Paulo, foram usadas para transportar 43 kg de droga do Brasil à Turquia, segundo revelou reportagem do Fantástico, exibida na noite de domingo.
Imagens obtidas pelo programa da TV Globo mostram a apreensão de duas bagagens com 43 kg de cocaína. Ambas foram embarcadas em Guarulhos, em nome de Malak Hasan, mulher de Ahmed, que é acusado de tráfico de drogas injustamente, segundo aponta a Polícia Federal do Brasil.
Ahmed Hasan e sua família embarcaram em São Paulo em 22 de outubro do ano passado com destino a Istambul. Ao desembarcarem na Turquia, seguiram normalmente para a casa, sem serem interceptados pela polícia. “Nós pegamos toda a nossa bagagem, nossos passaportes foram carimbados e entramos normalmente no país”, disse Hasan em entrevista ao Fantástico.
Impedido de viajar
A família só ficou alguns dias na Turquia e seguiu para a Líbia, onde se estabeleceu. Em maio deste ano, ao retornar sozinho à Turquia em uma viagem de trabalho, Ahmed Hasan foi preso no aeroporto. Agora responde ao processo em liberdade, mas não tem autorização para deixar a Turquia.
“Ela (uma advogada turca) disse que eu estava sendo acusado de tráfico internacional de drogas”, afirmou Hasan na entrevista. “Eu me assustei, quase morri. Foi um choque enorme para mim.”
Na verdade, as malas com as drogas etiquetadas com o nome da mulher de Hasan só saíram de Guarulhos em direção à Turquia em 26 de outubro de 2022, quatro dias após a partida da família.
“Alguém retirou essa etiqueta, mas, em vez de usar no próprio dia, guardou para usar alguns dias depois, no voo onde foi a droga efetivamente”, afirmou o delegado Felipe Lavareda, da Polícia Federal.
De acordo com o Fantástico, a concessionária que administra o aeroporto de Guarulhos disse que as companhias aéreas são as responsáveis pelo manuseio da bagagem. A empresa não se manifestou.
A família de Hasan procurou no Brasil a advogada Luna Provázio, que defendeu as brasileiras Jeanne Paollini e Katyna Baía, que planejaram férias na Alemanha, mas acabaram detidas por quase quarenta dias no país depois de terem suas bagagens trocadas por malas com cocaína.
Elas finalmente foram libertadas em abril deste ano, depois que ficou comprovado por imagens de câmeras de segurança, que as etiquetas de suas bagagens foram usadas em outras malas para transportar drogas.
Ação da PF prendeu 17 por esquema em Cumbica
Uma operação da Polícia Federal, em julho, levou à prisão de 17 pessoas de uma quadrilha que traficava cocaína a partir do Aeroporto de Cumbica, trocando etiquetas de bagagens. Na época, a PF informou ter identificado seis chefes do grupo criminoso, conhecidos pelos apelidos de Vovô, Brutus, Charles, Man, Bahia e Carolina. Os investigados dividiam tarefas, segundo a PF. Alguns eram responsáveis pela logística do tráfico, outros são apontados como “mentores intelectuais do crime” e há até quem é classificado, pela própria quadrilha, como “chefão do esquema” no caso que levou as goianas Jeanne Paollini e Katyna Baía a ficarem 38 dias presas injustamente na Alemanha, sob acusação de tráfico de cocaína para o país europeu.
A PF destaca que o grupo sob suspeita está ligado não só à remessa de 40 quilos de cocaína que causou a prisão das brasileiras. A investigação mostra que o grupo foi responsável ainda pelo tráfico de 43 quilos de cocaína para Lisboa, em 23 de outubro de 2022, além de mais 43 de cocaína para Paris, em 3 de março, somando nessas três operações envio de 126 quilos da droga à Europa, sempre seguindo a estratégia de troca de etiquetas de bagagens no aeroporto de Guarulhos.
Estadão Conteúdo
