NICOLA PAMPLONA
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A Petrobras aprovou em seu novo plano estratégico a retomada dos investimentos em refino no antigo Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro), projeto que foi alvo da Operação Lava Jato e havia sido desidratado pelas gestões anteriores, com foco na produção de diesel.
Segundo o diretor de Refino, Transporte e Comercialização da companhia, Claudio Schlosser, as novas unidades de refino do complexo em Itaboraí, na região metropolitana do Rio de Janeiro, só entram em operação após 2028.
Vão produzir diesel a partir do petróleo e a partir de matérias-primas vegetais, uma das apostas da estatal para reduzir sua pegada de carbono nos próximos anos. A empresa não detalhou, porém, qual é o valor do investimento previsto.
A Petrobras já havia anunciado estudos para retomar o refino no Comperj, que foi rebatizado de GasLub no governo Jair Bolsonaro. Nesta segunda-feira (27), porém, confirmou que os projetos fazem parte do orçamento de cerca de R$ 500 bilhões aprovado para os próximos cinco anos.
A área de refino da Petrobras terá quase R$ 85 bilhões no período, alta de 77% em relação ao último plano de negócios aprovado sob Bolsonaro. Os investimentos em ampliação da capacidade de produção de combustíveis devem receber R$ 45 bilhões.
O objetivo é ampliar em 290 mil barris por dia a capacidade de produção de diesel S-10, além de produzir 34 mil barris por dia de combustíveis com base em matérias-primas renováveis. Outro projeto ícone da Lava Jato, a Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, também contribuirá para esse aumento.
Na região do antigo Comperj há hoje obras para a conclusão da unidade de tratamento de gás que receberá a produção dos maiores campos do pré-sal através de um sistema de gasodutos batizado de Rota 3, com início de operações previsto para 2024.
As obras da refinaria estão paradas desde 2015 e o polo petroquímico nunca saiu do papel. O projeto foi lançado com estardalhaço no segundo governo Lula, em 2008, com previsão de início de operações em 2012 e gastos de US$ 6,5 bilhões (cerca de R$ 15 bilhões, ao câmbio da época).
Os planos da estatal para o antigo Comperj preveem ainda a construção de uma usina térmica, para transformar em energia o gás do pré-sal que chegará ao complexo a partir de 2024.
A retomada dos investimentos na área ajuda a cumprir promessa de campanha de Lula, que suspendeu as vendas de ativos da Petrobras e quer ampliar a capacidade nacional de produção de combustíveis.
Nesta segunda, Schlosser defendeu que o atendimento ao mercado brasileiro é a melhor maneira de monetizar a produção de petróleo da Petrobras. “Manter a Petrobras integrada é um imperativo forte do plano [de investimentos]”, afirmou.
A empresa projeta que o consumo de diesel no país continuará subindo até 2030. Já o mercado de gasolina tende a se estabilizar, com a substituição do derivado de petróleo pelo etanol. Esse cenário, diz o executivo, libera frações de petróleo da gasolina para uso na indústria petroquímica.
Em teleconferência com analistas para detalhar o novo plano de investimentos, a direção da Petrobras disse que todos os investimentos programados têm retorno econômico. Na área de refino, por exemplo, a taxa interna de retorno é de 14%. Na exploração e produção, seu principal negócio, é de 23%.
O plano de negócios da Petrobras prevê ainda elevar em quatro vezes a produção de biocombustíveis, outro segmento abandonado em gestões anteriores, como parte da retomada dos investimentos em energias renováveis.
A área de transição energética da empresa terá cerca de R$ 56 bilhões nos próximos cinco anos. Deste total, R$ 27 bilhões serão destinados a geração de energia renovável em parques eólicos ou solares e produção de hidrogênio.