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Brasil

Pessoas trans conquistam redes com temas que variam de artes à política

Influenciadores mostram que, embora falem de questões relacionadas ao movimento trans, dominam área de interesse e atraem novos seguidores

Redação Jornal de Brasília

27/01/2024 15h33

HAVOLENE VALINHOS
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Direitos humanos, política, artes, viagens, cultura. Pessoas trans têm ganhado cada vez mais destaque e seguidores em redes sociais como protagonistas de seus campos de interesse e atuação, sem deixar de falar de temas do movimento.

O pernambucano Dante Olivier, 27, por exemplo, classifica-se como multiartista. “Essa é a única expressão de acolhida que eu me senti contemplado porque atuo, desenho, pinto, danço.”

Atualmente, o seu perfil no TikTok tem 1,6 milhão de seguidores e no Instagram, quase 300 mil. Ele conta que sempre gostou de dançar e fez cursos na área”, especialmente o k-pop, estilo musical originado na Coreia do Sul.

Foi durante a pandemia que ele começou a expor seus talentos e opiniões nas redes. “A internet foi um lugar de escape. Vinha de uma rotina intensa de ensaio, acabado de ser contratado para dar aula de dança numa escola de arte em Recife e participado da série ‘Chão de Estrelas’, de Hilton Lacerda, que está na Globoplay. Era muito difícil ficar parado em casa.”

Olivier diz que começou a postar no TikTok com o intuito de testar coisas novas sem a pressão de ter como plateia colegas com quem atuou no cinema ou em outros trabalhos e que o seguiam no Instagram.
“O TikTok me permitiu testar coisas que não fazia por causa do perfeccionismo. Como dançarino, passava meses ensaiando a mesma coreografia para sair perfeito, mas como fui fazendo as coisas e não estava muito preocupado, começou a dar certo. Então, depois levei isso para o Instagram também”, diz.

Outra influenciadora que vem ocupando seu espaço é a historiadora e apresentadora Giovanna Heliodoro, 27, criadora do Transpreta, que tem 259 mil seguidores no Instagram.

Ela se destaca por criar conteúdos informativos em relação à curiosidade histórica. “Tudo tem um eixo temático. Então, por exemplo, em novembro falo sobre fatos importantes ligados à raça.”

Giovanna afirma que sempre se dedicou aos estudos e à leitura. “O meu desejo de cursar história surge da minha curiosidade. Quando eu era criança, eu me perguntava sobre a origem da minha família, de onde meus avós vieram, mas, assim como a maioria das pessoas pretas, a minha história foi apagada dos livros didáticos.”

A apresentadora conta que estudou em escola pública e foi a primeira pessoa de sua família a conquistar uma graduação. “Meus pais sempre disseram que a única herança que poderiam me deixar era a educação.”

A historiadora afirma que o seu maior objetivo com o perfil no Instagram é que as pessoas reconheçam a própria história. “Com o tempo fui descobrindo mais sobre a história do Brasil, das pessoas LGBTQIA+, da minha família e de tantas outras pessoas a minha volta. De alguma forma quero dar luz àquilo que se vive por muito tempo na escuridão. Isso é uma missão para mim.”

Falando sobre direitos e política, Robeyoncé Lima, 35, reúne 48,5 mil seguidores no Instagram.
A influenciadora é formada em direito pela UFPE (Universidade Federal de Pernambuco). Em 2018, elegeu-se em mandado coletivo para a Assembleia Legislativa do Estado. Na última eleição, tornou-se primeira suplente na chapa (Psol-Rede), na cadeira do deputado federal Túlio Gadêlha.

A influenciadora diz que optou por cursar direito para entender os próprios direitos, mas percebeu que também poderia ajudar outras pessoas.

Ela conta que advoga muito em casos que envolvem direitos humanos: enfrentamento ao racismo, machismo, Lgbtqifobia, xenofobia. “Essas pautas de direito antidiscriminatório são as que mais chamam a minha atenção na atuação política e no direito”, diz.

Embora não tenha atualmente um gabinete político, Robeyoncé diz atuar em movimentos sociais para lutar por direitos da comunidade LGBTQIA+, mulheres negras, rede de mulheres antiproibicionistas, e outras manifestações.

“Sou uma mulher trans negra, ativista política e advogada. A rede social acaba tendo um desdobramento também desse ativismo, para divulgar nossa luta diária.”

CONTEÚDO TAMBÉM SOBRE MOVIMENTO TRANS

Dante Olivier diz que há dez anos, quando fez a transição, falava quase o tempo todo sobre o tema, era convidado para dar entrevistas, palestras, rodas de conversa.

“Eu tinha uns 19 anos. Comecei a falar sobre isso porque me sentia muito carente de informação, de debate. Mas depois de uns dois anos percebi que estava respondendo as mesmas coisas, as pessoas pedindo para eu reviver transfobias.”

Porém, quando começa a ter destaque na internet, ele diz que retoma o assunto, mas de forma pontual, pois os seguidores precisavam de informações.
“Hoje está cheio de referências na internet, mas também quero mostrar outras possibilidades de ser trans, trazer informação por meio da minha arte para as pessoas, ocupar esse espaço de uma pessoa trans no entretenimento.”

Giovanna Heliodoro conta que, ao criar o canal Transpreta, em 2017, existiam pessoas trans produzindo conteúdo na internet, mas não conseguia se identificar com elas. “No início, surjo na internet com um perfil para compartilhar minha vivência e de outras pessoas trans.”

Mas os rumos foram mudando e, em 2020, Giovanna concluiu a formação em história pela PUC de Minas e começou a incluir outros temas ao seu conteúdo. “As pessoas já esperavam que eu falasse sobre pautas identitárias. Então eu tento fugir um pouco, mas não abandonar esses temas que são tão relevantes para mim.”

Para Robeyoncé Lima, apesar de ser importante falar sobre pautas identitárias não é só esse o foco de seu conteúdo.

“Embora essa seja a pauta que mais faz a gente se destacar, seja do lado positivo ou negativo. Eu digo lado negativo porque o Brasil é o país que mais mata pessoas trans no mundo, mas pelo positivo o Dia da Visibilidade Trans é importante para que as pessoas vejam a nossa luta no cotidiano, inclusive pelo próprio direito à vida, pois até esse direito nos é negado.”

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