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Brasil

Mulheres protagonizam construção de casas na periferia

A formação exige das participantes uma dedicação intensa, com as mulheres sendo separadas em pequenas turmas

Redação Jornal de Brasília

22/02/2023 8h20

Foto: Reprodução/Facebook Arquitetura da Periferia

Bem mais do que conseguir um novo título acadêmico, o ingresso da arquiteta Carina Guedes, de 38 anos, no mestrado em 2013 tinha o objetivo de sanar um incômodo. A inquietação tinha raiz na visão tradicional de que a Arquitetura era uma área muito restrita a pessoas com maior poder aquisitivo, sendo pouco acessível às demandas sociais. O desejo de destoar dessa percepção elitista impulsionou o seu engajamento em uma pesquisa voltada para necessidades habitacionais, que foi o embrião para desenvolver um projeto de empoderamento feminino na periferia via construção civil.

Na época, dentro da comunidade Dandara, uma ocupação em Belo Horizonte (MG), Carina formou o primeiro grupo de mulheres a quem passou a dar orientação sobre construções e reformas. Nascia, assim, o projeto Arquitetura na Periferia, que atualmente já contabiliza mais de 60 casas requalificadas pelas mãos de mais de 100 mulheres capacitadas pela iniciativa. Além da capital mineira, turmas em São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná também já receberam as atividades da organização.

A formação exige das participantes uma dedicação intensa. As mulheres são separadas em pequenas turmas, nas quais participam de encontros semanais durante seis meses. Carina detalha que, na primeira fase das orientações, as integrantes aprendem a desenhar e ler plantas residenciais, tirar medidas da casa e planejar reformas. Elas também aprendem métodos de cálculo para determinar a quantidade de tijolo, cimento e areia que irão precisar nos projetos.

Após essa fase, o curso também oferece uma oficina de finanças pessoais, chegando ao fim com a etapa “mão na massa”, em que as alunas têm lições de como, de fato, construir e reformar. Para financiar as obras, é fornecido um empréstimo sem juros que varia entre R$ 300 e R$ 1.500, para que elas possam conduzir com mais autonomia os trabalhos. “O projeto não é assistencialista, mas dá as ferramentas para que elas próprias consigam se organizar. Em muitos casos, elas não se sentem no lugar de resolver aquilo por serem mulheres, e isso é uma coisa que as afeta demais porque, no dia a dia, quem cuida da casa são elas”, pontua a arquiteta.

Após 10 anos de um projeto que saiu da universidade para a periferia, Carina enxerga que o trabalho idealizado por ela contribui para promover a moradia digna como direito e afirma que esta demanda é uma luta feminina. “No começo, a ideia era levar a Arquitetura onde a Arquitetura não chegava. Hoje, para mim, é uma questão de ver a mulher saindo do lugar do ‘eu não posso, não consigo, não dou conta’. A gente acaba sendo esse movimento”, diz.

Estadão Conteúdo

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