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Brasil

Mortandade de botos em 2º lago na Amazônia leva a nova operação de emergência

O órgão do governo federal já detectou 70 óbitos desses golfinhos de água doce na região do lago Coari, em Coari (AM)

Redação Jornal de Brasília

09/11/2023 17h04

Tefé (AM) 30/09/2023 – Uma pesquisadora fazem medição e coleta de tecidos de botos mortos em lago no município de Tefé, no Amazonas. Para o ICMBio, há indícios de que a seca prolongada e a temperatura elevada na região possa ter causado as mortes Foto: MIGUEL MONTEIRO/INSTITUTO MAMIRAUÁ

VINICIUS SASSINE

MANAUS, AM (FOLHAPRESS)

O ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) colocou em campo uma nova operação de emergência ambiental diante de uma nova leva de mortandade de botos vermelhos -os botos cor de rosa- e tucuxis -uma espécie com menor porte-, em uma região amazônica distinta da primeira leva.

O órgão do governo federal já detectou 70 óbitos desses golfinhos de água doce na região do lago Coari, em Coari (AM), num período inferior a um mês.

O novo caso de mortes massivas de botos e tucuxis é mais uma consequência da seca extrema e histórica nessa porção da Amazônia, com chuvas esparsas, atrasadas, irregulares e em menor volume, rios com baixas nunca vistas e temperaturas elevadas, que provocam superaquecimento das águas de lagos habitados pelas espécies.

Em Tefé (AM), 154 botos e tucuxis morreram no lago Tefé entre 23 de setembro e 20 de outubro, o que também levou a uma operação de emergência ambiental por parte do ICMBio, em atuação conjunta com o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá.

Num único dia, quando os termômetros na água da enseada de Papucu registraram 39,1ºC, morreram 70 animais. A enseada fica no lago Tefé. Rica em peixes, é um destino natural de botos e tucuxis. O agravamento da estiagem levou equipes do ICMBio e do Instituto Mamirauá a afugentarem golfinhos da enseada para poços mais profundos e frios do lago.

Tefé e Coari ficam no médio rio Solimões. A dinâmica das mortes dos golfinhos é semelhante nos lagos nas duas cidades, segundo pesquisadores e servidores envolvidos nas ações.

No caso de Tefé, onde já foi encerrada a operação de emergência ambiental, a hipótese mais provável para os óbitos é o superaquecimento da água. Até agora, foram registradas as mortes de 224 animais nas duas regiões.

Tanto pesquisadores do Instituto Mamirauá quanto servidores do ICMBio suspeitam que a mortandade de botos e tucuxis pode estar se repetindo em outros lagos de outras regiões, em cenários ainda não detectados. O entendimento das equipes envolvidas é que é necessário fazer sobrevoos de áreas para verificação de realidades ainda despercebidas.

Equipe do ICMBio que esteve em Tefé está agora em Coari. Também participam das ações pesquisadores do Instituto Mamirauá e da UFAM (Universidade Federal do Amazonas).

Segundo a UFAM, a temperatura do lago Coari não se elevou tanto quanto a do lago Tefé. Mas houve identificação da maior concentração de uma alga associada à radiação solar. A alga pode ser tóxica para peixes, e pesquisadores tentam compreender se pode existir alguma consequência a mamíferos aquáticos. Carcaças foram recolhidas e há análises de material em curso.

Depois de baixas históricas, o nível dos rios no Amazonas voltou a subir, num cenário de estabilidade, ainda que o ritmo de cheia seja lento. Há inclusive repiques de vazantes, como do rio Negro em Manaus.

O rio chegou a atingir 12,70 m em 26 de outubro, o menor nível já registrado em 121 anos de medição pelo Porto de Manaus. O curso d’água passou a ganhar corpo desde então, e chegou a 13,22 m no último dia 7 -um valor ainda inferior à segunda pior marca da história, 13,63 m, em 24 de outubro de 2010. Nesta quarta (8) e quinta (9), houve queda do nível do rio de 2 cm por dia.

A seca extrema é causada por uma conjunção de fatores: incidência do El Niño, que é um aquecimento acima da média no oceano Pacífico, aquecimento do Atlântico Tropical Norte, degradação e desmatamento da floresta e efeitos das mudanças climáticas.

Os óbitos de botos e tucuxis envolvem machos, fêmeas, filhotes, jovens e adultos. Nunca houve algo parecido, segundo pesquisadores que atuam com mamíferos aquáticos na Amazônia.

Pesquisadores notaram que parte dos animais tinha o estômago vazio, apesar da abundância de peixes. É provável que tenham necessitado de um gasto maior de energia para regulação da temperatura corpórea. Esse processo pode ter provocado aumento de pressão sanguínea e alteração cerebral.

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