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Brasil

Imigrante paraguaia e cinco filhos dormem em rodoviária de Fortaleza

Sua meta é voltar com os filhos para Capiatá, cidade que fica nos arredores de Assunção, no Paraguai

Redação Jornal de Brasília

13/10/2023 19h00

Foto: Reprodução

JOÃO PEDRO PITOMBO
SALVADOR, BA (FOLHAPRESS)

Há quatro dias, a artesã Diana Rafaela, 29, repete o ritual ao anoitecer: estende uma manta no chão do terminal rodoviário de Fortaleza e ali se deita para, entre malas e sacolas, dormir emaranhada com os seus cinco filhos.

Durante o dia, faz pulseiras, colares e peças místicas como filtros dos sonhos com cordões e tenta vender a comerciantes e passageiros que percorrem com pressa os saguões da rodoviária da capital cearense.

Sua meta é voltar com os filhos para Capiatá, cidade que fica nos arredores de Assunção, no Paraguai.

Diana emigrou do Paraguai em agosto do ano passado em busca de uma melhor qualidade de vida para a família. Veio para o Brasil de ônibus, acompanhada do marido e dos cinco filhos do casal, um deles recém-nascido.

A vinda para o Brasil foi uma dica de uma amiga, também paraguaia, que havia imigrado para o Maranhão. O estado seria o destino da família, que acabou se estabelecendo em Camocim, cidade do noroeste do Ceará, com as crianças que hoje têm 11, 10, 8, 2 e 1 ano.

O casal alugou uma casa e se sustentava com o dinheiro que ganhava com a venda de artesanato. Mas Diana e o marido se desentenderam após frequentes episódios em que ele teria abusado do álcool.

“Ele estava causando muito problema, não queria trabalhar e começou a ficar violento com a bebida. Ele não chegou agredir, mas preferi me afastar logo e nos separamos”, conta Diana, que afirma ter perdido o contato com o ex-marido.

A separação fez com que ela decidisse voltar para o Paraguai, onde teria o suporte da família para cuidar dos cinco filhos. Conseguiram embarcar há quatro dias para Fortaleza, onde chegaram sem dinheiro para comprar uma nova passagem e rumar de ônibus em direção ao Paraguai.

Na rodoviária, Diana conta que teve o apoio de comerciantes, que trocavam artesanato por lanches para ela e para os filhos. Dormia em uma manta estendida no chão do saguão do terminal, ao lado de uma lanchonete, e se desdobrava para trabalhar ao mesmo tempo que tomava conta dos filhos.

“Trabalhei direto, e sempre em companhia dos meninos, o que deixa tudo mais difícil. Como não conheço as pessoas, não deixo meus filhos com ninguém”, afirmou.

Diz ter conseguido juntar R$ 300 com a venda das bijuterias em três dias, mas acabou tendo a sua bolsa furtada na madrugada desta sexta-feira (13). Além do dinheiro, perdeu os documentos dela e dos filhos.

Sem ter a quem recorrer, acionou veículos de comunicação locais com o apoio dos comerciantes da rodoviária.

Após a publicação das reportagens, recebeu uma oferta de abrigo provisório em uma casa em Fortaleza.

Com a ajuda do conselho tutelar, conseguiu o transporte para ir com os filhos até o local.

Nos próximos dias, pretende trabalhar para reaver o dinheiro perdido e conseguir comprar as passagens para deixar Fortaleza com a família. O objetivo inicial é conseguir chegar ao Paraná, de onde pretende juntar mais dinheiro para cruzar a fronteira voltar a sua cidade no Paraguai.

“Se eu pudesse, ficaria aqui. O Brasil é bom, mas aqui não tenho família, não tenho como conseguir criar cinco filhos. Seria muito difícil”, conta Diana.

Ela ouve um chamado de um dos filhos e pede desculpas para desligar o telefone. Logo voltaria ao trabalho entre cordas e arames, arrodeada dos filhos, em busca da volta para casa.

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