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Brasil

Grampo aponta fraude em contratações na Saúde do Estado do Rio; governador é citado

“Hoje, o governador do Rio propôs sigilo em todos os documentos de contratação de emergência lá”, afirma um dos suspeitos

Redação Jornal de Brasília

21/05/2020 10h25

A força-tarefa da Lava-Jato apurou uma conversa telefônica entre dois acusados de atuar em contratações fraudulentas na área da saúde, durante o estado de emergência ocasionado pela pandemia do novo coronavírus. Na interceptação, realizado em 9 abril, o Governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, é citado. O suspeito acusado de atuar como operador financeiro do esquema, Luiz Roberto Martins, conversa com Elcy dos Santos, ex-diretor da Organização Social (OS) IDR, sobre as denúncias de compras superfaturadas. No grampo é possível ouvir elcy afirmar que Witzel determinou sigilo sobre todos os contratos emergenciais firmados pelo estado durante a pandemia.

O jornal O Globo teve acesso às gravações. “Hoje, o governador do Rio propôs sigilo em todos os documentos de contratação de emergência lá”, explica Elcy. Em seguida, Luiz Roberto pergunta: “Pediu sigilo?”. Elcy reforça: “Impôs sigilo, não pediu, não! Impôs! Naqueles contratos que fizeram de emergência com o governo do estado, impôs sigilo”.

As autoridades apuraram que, no período em que as denúncias começaram a ganhar repercussão, o acesso público aos contratos foi restringido. Naquela época, Witzel justificou o ato afirmando que um servidor da Secretaria de Saúde havia cometido um erro. O governador também afirmou que teria iniciado uma sindicância para apurar o fato. Pouco tempo depois, o sistema foi aberto novamente. 

Ainda durante o grampo, é possível ouvir Luiz Roberto afirmar que algumas pessoas no estado estão requisitando notas fiscais de R$ 250 mil para respiradores que custam R$ 32 mil. Em seguida ele diz: “Depois todo mundo vai preso, depois de passar isso aí, nós vamos ter uma nova Lava-Jato”.

Roberto também comenta sobre a contratação para o fornecimento de 1.400 leitos em hospitais de campanha do Rio. O suspeito enfatiza que a Iabas, outra OS, foi a contratada para a realização do serviço. “Você sabe que fizeram agora um chamamento para a construção de 1.400 leitos de campanha. Você sabe quem foi escolhido? O Iabas. Você sabe por quanto? Oitocentos e cinquenta milhões de reais”, relata. Nesse momento, Elcy fica surpreso com a informação e lembra que a OS recebeu R$ 1,5 bilhão em contratos na gestão do ex-prefeito do Rio Eduardo Paes. O ex-diretor da IDR sugere que o Iabas está sendo ajudada a “voltar por cima”. 

Dois dias após da ligação, o subsecretário de Saúde daquele período, Gabriell Carvalho dos Santos, foi exonerado por Witzel. Após a deflagração de uma operação de combate a corrupção, Gabriell foi preso acusado de atuar em um esquema de compra de respiradores, com dispensa de licitação, a preços superfaturados. O caso está sendo investigado pelo Superior Tribunal de Justiça, devido ao foro privilegiado do governador Wilson Witzel.

Ontem, o governo do estado do Rio informou, por meio de nota, que todos os 66 contratos emergenciais firmados pela Secretaria de Saúde estão sob análise. Desse total, 44 foram cancelados. O ex-prefeito Eduardo Paes respondeu às acusações afirmando que todas as contratações foram feitas conforme determina a legislação, por chamamento público, ou seja, com licitação, e que o Iabas passou pelo mesmo processo.

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