Menu
Brasil

Funk ajuda comércio da periferia na pandemia

Uma das primeiras ações para atrair clientes foi mandar mensagens nas redes sociais para diversos famosos em busca de divulgação dos lanches

Redação Jornal de Brasília

26/06/2021 14h01

Foto: Agência Brasil

São Paulo, SP

Na favela de Paraisópolis, zona sul de São Paulo, o casal Sabrina Neves, 21, e Junior Ribeiro, 25, montou uma hamburgueria em junho passado. Uma das primeiras ações para atrair clientes foi mandar mensagens nas redes sociais para diversos famosos em busca de divulgação dos lanches.

Em meio à pandemia, com comércios sendo fechados e outros prejuízos sofridos pela comunidade, o rapper Kaire Jorge, filho de Mano Brown, respondeu e fez a divulgação de um dos lanches. Na sequência, foi a vez de o DJ Murilo indicar o local. Depois disso, outros MCs seguiram a onda.

A negociação é simples. Em troca de um lanche, a indicação do comércio que enviou. “A gente vai arriscando mandar mensagens para vários artistas do momento, e os do funk sempre acabam respondendo mais rápido. Eles são os que estão dando mais visibilidade”, afirma Sabrina.

A pandemia tornou mais difícil enviar os lanches aos funkeiros, mas isso não impediu a divulgação. “Da maneira que eles podiam, faziam para chamar clientes para a gente”, afirma Sabrina. “Algumas vezes eles divulgavam sem nenhum lanche em troca, para ajudar mesmo, diante da crise.”

A dona da lanchonete diz que cada divulgação resulta, no mínimo, em 200 novos seguidores. Além do engajamento nas redes sociais, conta que ganhou cerca de 30 novos clientes. Nomes como Lays Ohara, Juliana Andrade e Carla Beatriz são lembrados quando o assunto são as parcerias com funkeiros para erguer comércios locais nas periferias.

Essa movimentação pró-economia desmistifica alguns estereótipos que costumam marcar o funk, entre eles a associação com a violência. Essa imagem é alimentada principalmente por causa dos embates com a polícia que ocorrem durante bailes funks, como o que vitimou nove jovens de 14 a 23 anos em dezembro de 2019, em Paraisópolis.

Os bailes da favela sempre impulsionaram a economia nas periferias. Por noite, comerciantes estimavam ganho de R$ 2.000 em Paraisópolis, no baile da dz7, por exemplo, antes da pandemia. Agora, os funkeiros têm usado a influência nas redes para apoiar parceiros do comércio. Para os donos desses pequenos negócios, a ajuda é hoje uma das formas mais eficientes de se conectar com outros públicos. “O funk mexe com toda a estrutura do comércio de periferia. Desde moda, questão estética, penteados e óculos”, afirma Rúbia Mara da Silva Oliveira, 31.

Ela mora em Cidade Tiradentes, extremo leste da cidade, e criou a Evidência Paralella há oito anos, empresa de comunicação para artistas do segmento. Rúbia diz que um exemplo simples dessa estreita conexão com o funk e bons resultados financeiros está nos salões de beleza. Todas as vezes em que há divulgação de alguma funkeira, as manicures bombam, pois caprichar no visual das unhas é uma das das marcas dessas cantoras que costumam ser referência para jovens.

No caso do público masculino, barbearias então entre os serviços mais beneficiados. Aí a variação é grande: trançados, cortes desenhados e tinturas são reproduzidas na cabeça dos rapazes. Segundo a empresária, alguns bens também estabelecem ligação e relevância com esse universo, como um modelo de carro ou celular. Com os smartphones, houve um passo além, já que a popularização desses aparelhos permitiu que os jovens do funk alcançassem um público maior, mesmo sem aparições na televisão. “Quem nasceu agora ou quem começou de dez anos para cá busca ser famoso na rua”, afirma.

Para o comércio que procura funkeiros para divulgação, o movimento é o mesmo. “Um dono de um estabelecimento pode fazer mais barulho dentro do seu comércio com um post do que se fosse em qualquer outra mídia”, diz Guilherme Pierri, 35, responsável pela Digital Favela. A plataforma oferece gerenciamento de influenciadores das periferias e os conecta a marcas. “O funk está em todas as favelas do Brasil.”

Com mais de 152 mil seguidores nas redes sociais, Guilherme Cavalcante Chaves, 21, faz parte do NGKS, grupo de meninos funkeiros conhecidos por criar o Passinho dos Maloka. Morador do Capão Redondo, na zona sul, ele já indicou marcas de roupas e barbearias. “Você divulga o mano, o trampo dele, para o pessoal, posta nos seus stories, manda para os fãs e assim vai”, diz.

Para o dançarino, todo o mundo ganha com as publicações: os comércios o ajudam com roupas e outros produtos, os comerciantes ganham clientes e visibilidade sem gastar dinheiro e os seguidores têm indicações de serviços e comércios locais que podem frequentar. “Tem resultado logo depois que a gente publica”, diz Pierri.

Jonas Faustino, 19, barbeiro também do Capão Redondo, diz que a parceria com influenciadores dobrou o número dos seguidores de seu salão nas redes sociais em cerca de três meses. “Eles fazem a divulgação do meu espaço, do meu trabalho para os seguidores deles.” Faustino começou a pensar na divulgação depois da dica do próprio pai. “Era para crescer meu perfil e ter mais acesso à minha barbearia”, diz.

A rotina diária dos funkeiros, as parcerias que eles fecham, o bom humor e o número de seguidores são itens que o barbeiro elenca como essenciais para entender a influência dessas pessoas no bairro. Entre alguns exemplos que já foram ao salão estão MC Donda e Mano Pará, ambos da zona sul da capital paulista. Para ter um corte ou algum serviço grátis na barbearia, Jonas ressalta que “os influenciadores têm que demonstrar talento e futuro dentro do universo funk”.

As informações são da Folhapress

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado