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Brasil

Exército vai cortar distribuição de água no semiárido de MG em plena seca

Em Minas 127 municípios já decretaram estado de emergência este ano por conta da seca, nos vales do Jequitinhonha e do Mucuri

Redação Jornal de Brasília

26/08/2021 6h54

Leonardo Augusto
FolhaPress

Exatamente num momento de forte seca, o Exército Brasileiro vai cortar o fornecimento de água potável por caminhões-pipa para municípios do Vale do Jequitinhonha e do norte de Minas Gerais -regiões que fazem parte do chamado semiárido do estado e que já sofrem normalmente com a falta d’água.

Em Minas 127 municípios já decretaram estado de emergência este ano por conta da seca, todos localizados ou na região norte ou nos vales do Jequitinhonha e do Mucuri, segundo dados desta quarta-feira (25). Há quatro meses, no fim de abril, 74 cidades estavam nessa situação.

Prefeitos receberam um comunicado, ao qual a Folha de S.Paulo teve acesso, emitido pelo 55º Batalhão de Infantaria do Exército, baseado em Montes Claros, uma das principais cidades do norte de Minas, informando sobre a suspensão do fornecimento de água.

Os caminhões-pipa atendem principalmente comunidades afastadas das sedes dos municípios. O documento, de caráter urgentíssimo, é assinado pelo comandante do batalhão, o coronel Hidelgard Borba de Vasconcelos.

A justificativa do cancelamento é falta de dinheiro. O texto de 12 de agosto afirma que a paralisação no fornecimento do serviço ocorrerá em a partir de 20 de setembro -o Exército disse que o serviço continuará suspenso até dezembro.

O programa de distribuição de água potável do Exército, batizado de Operação-Pipa, foi criado há mais de 20 anos e chega a nove estados: além de Minas Gerais, atende ainda a Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe.

Em Minas, conforme informações do site do Exército, cinco municípios participam do programa, sendo que todos estão entre os que já decretaram estado de emergência pela falta d’água. A lista inclui Espinosa, Francisco Sá, Jaíba e Manga (na região norte) e Itaobim (no Vale do Jequitinhonha).

Ao todo, 13 veículos participavam da distribuição de água na região, que beneficiava uma população de 11.916 moradores.

“Não sei o que vou fazer. A prefeitura não tem estrutura para levar essa água às comunidades”, afirma o prefeito de Manga, Anastácio Guedes Saraiva (PT). No município, segundo o Exército, 4.592 pessoas dependem dos caminhões-pipa.

O prefeito afirma que está tentando reunir outros chefes do Poder Executivo das cidades que terão o fornecimento de água suspenso para pressionar os militares a manterem as entregas.

O comunicado sobre o fim do serviço já foi feito também à prefeitura de Espinosa, onde, ainda segundo o Exército, a água dos caminhões-pipa atendem a 1.970 pessoas.

TUDO SECO

O cenário de falta d’água no semiárido mineiro piora a cada ano, afirma Paulo Sérgio Vieira Magalhães, presidente da Associação de Moradores da Comunidade de Palmito, no município de Montes Claros, que também já declarou situação de emergência pela seca.

A comunidade, onde moram cem famílias, é atendida por dois rios, o Ressaca e o das Irmãs. O problema é que nenhum deles é perene -ou seja, a água só corre no período das chuvas, que cada vez é menor, segundo Magalhães.

“Não tem chovido. Com isso, os rios não seguram mais água. Há dez anos encerrava-se o período de chuvas e eles corriam até agosto. Atualmente chove e nenhum dura mais que dois meses”, relata. O período normal de chuvas na região começa em outubro e vai até março.

Outro problema que vem sendo enfrentado pela população é em relação aos poços artesianos, que também estão secando. “As famílias dependem exclusivamente dos caminhões-pipa”, diz o representante dos moradores de Palmital.

Em relação à comunidade, no entanto, o fornecimento de água via caminhões-pipa é feito pela prefeitura de Montes Claros que mantém o fornecimento sem interrupções.

No entanto, a água é repassada para consumo humano. Animais domésticos também a usam, mas plantações, por exemplo, ficam prejudicadas. “Quando os rios corriam por mais tempo, bombas retiravam água e levavam para irrigar hortas, por exemplo”, afirma Magalhães.

EXÉRCITO DIZ QUE CUIDA APENAS DA EXECUÇÃO DO PROGRAMA

A reportagem entrou em contato com o Exército para saber sua posição sobre o fim do fornecimento de água potável via caminhões-pipa em cidades do semiárido de Minas.

Em nota, os militares afirmaram que a Operação-Pipa foi criada por uma cooperação técnica e financeira entre os ministérios do Desenvolvimento Regional e da Defesa.

“O seu objetivo principal é promover o abastecimento de água potável para o consumo humano na região do Nordeste e no norte de Minas Gerais. Nesse contexto, o Exército Brasileiro é responsável apenas pelas ações que envolvem a execução das Operações”.

Também em nota, o Ministério do Desenvolvimento Regional afirma que há recursos suficientes para manter a operação apenas até o final do mês de agosto, “quando o montante aprovado na Lei Orçamentária Anual (LOA) 2021 será utilizado em sua integralidade”.

O texto diz ainda que a pasta “busca alternativas no âmbito do Governo Federal para garantir a execução da Operação e evitar prejuízos”.

Segundo a pasta, os valores repassados a cada ano para o programa mudam dependendo das demandas dos municípios, “respaldadas no reconhecimento federal da situação de emergência por seca ou estiagem -que tem relação com a sazonalidade climática (ocorrência de chuvas)”.

Em junho, o valor repassado foi de R$ 55,3 milhões.

O Ministério da Defesa ainda não se posicionou sobre o corte no fornecimento de água para as cidades do semiárido mineiro.

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