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Brasil

Marquinhos Trad, ex-prefeito de Campo Grande, é investigado sob suspeita de assédio sexual

Videira reconhece a mensagem e diz que também pedirá investigação sobre a autenticidade do vídeo em que a mulher diz que recebeu oferta

FolhaPress

25/07/2022 18h03

Foto: Reprodução

Gustavo Fioratti
São Paulo, SP

O ex-prefeito de Campo Grande Marquinhos Trad (PSD), pré-candidato ao Governo de Mato Grosso do Sul, é alvo de um inquérito policial sob suspeita de abuso sexual contra ao menos quatro mulheres, que prestaram queixa contra o político. Não havia denúncia no Ministério Público até a manhã desta segunda (25).

A investigação ocorre desde o início do mês e aponta suspeitas de assédio, tentativa de estupro e improbidade administrativa. O ex-prefeito, por meio de sua defesa, nega as acusações e diz ser vítima de uma tentativa de ataque contra sua candidatura ao estado.

“A gente percebe que esse grupo por trás dessa tratativa é um grupo que está atrás nas pesquisas, em relação às eleições no Mato Grosso do Sul. Em razão da visibilidade que ele [Trad] tem, isso tem sido muito explorado pela mídia. A todo momento aparecem notícias de informações do inquérito a que sequer nós, que somos advogadas dele, temos acesso”, diz Rejane Alves de Arruda, uma das advogadas de Trad.

Nenhuma das mulheres ouvidas tinha relação trabalhista com Trad. Para Arruda, o fato de não haver relação hierárquica entre o prefeito e as mulheres que depuseram prejudica a tese de assédio sexual.

Os relatos apontam para fatos que teriam ocorrido nos últimos dois anos, alguns deles dentro do próprio gabinete da prefeitura. Segundo as mulheres ouvidas pela Delegacia de Proteção e Defesa da Mulher, o ex-prefeito teria feito promessas de oportunidade de trabalho e de inserção em programas sociais em troca de favores sexuais.

Uma das mulheres diz que Trad colocou as mãos em seus seios sem seu consentimento e tentou fazer com que ela tocasse em seu órgão genital.

As advogadas de Trad dizem que ele reconhece relações sexuais consentidas com duas das mulheres, mas nega que as tenha agredido ou cometido algum abuso. A defesa também nega que qualquer dessas relações reconhecidas por ele tenha ocorrido dentro do gabinete da prefeitura.

Outras mulheres estão sendo ouvidas no inquérito que, atualmente, faz menção a outros quatro depoimentos. As advogadas de Trad dizem que, até a tarde de sexta (22), não tiveram acesso aos quatro novos relatos e questionam a existência deles.

Trad, ainda segundo suas advogadas, diz que não conhece duas mulheres que prestaram depoimento. Uma delas afirmou que não conheceu Trad, apenas participou de uma festa onde estavam pessoas do entorno do ex-prefeito.

A defesa quer a abertura de uma nova investigação sobre um vídeo em que uma quinta mulher aparece dizendo que teria recebido oferta de R$ 150 mil para engrossar o coro de denúncias, mas teria recusado o dinheiro.

No vídeo, que mostra pessoas sem identificação e com os rostos borrados, a mulher afirma que a oferta foi feita por Carlos Alberto de Assis, diretor-presidente da Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos na gestão Reinaldo Azambuja (PSDB). O atual governador apoia um rival de Trad na disputa.

Questionado pela reportagem, Assis diz “desconhecer o assunto”. “Não mantive qualquer tratativa financeira com quem quer que seja”, diz. “Em razão do envolvimento indevido do meu nome neste caso estou registrando um boletim de ocorrência para que a polícia apure os fatos e puna os responsáveis por esta armação. Sou vítima de ameaças e proliferação de fake news.”

Em episódio recente, Trad também discutiu com o atual secretário de Justiça e Segurança Pública de Mato Grosso do Sul, Antonio Carlos Videira, após criticar ações de policiais durante uma reintegração de posse que resultou na morte de um indígena. Trad disse, na ocasião, que “a Justiça precisa punir os responsáveis por esta barbárie”, em comentário sobre a morte de Vitor Fernandes, 42 anos, da etnia guarani kaiowá, em operação realizada em Amambai em 24 de junho.

Em uma conversa por aplicativo de mensagens, Videira escreveu a Trad: “Não bata na segurança pública que tudo pode continuar bem”, fato que deve ser reportado pela defesa do ex-prefeito como uma ameaça.

Videira reconhece a mensagem e diz que também pedirá investigação sobre a autenticidade do vídeo em que a mulher diz que recebeu oferta para caluniar Trad.

“Não ameacei o ex-prefeito, apenas o informei sobre a verdade por trás do episódio do conflito com os índios e enviei a ele diversos documentos de lideranças daquela aldeia pedindo apoio do MPF, da Funai e da Sejusp [Secretaria de Justiça e Segurança Pública] para com aquela comunidade”, diz Videira.

Procurado, o diretório regional do PSDB em Mato Grosso do Sul disse apenas que esse é “um caso de polícia, e não um caso político”.

A denúncia contra Trad foi motivo de manifestações contra o ex-prefeito. Uma delas é uma carta de repúdio assinada por mais de dez grupos em defesa dos direitos das mulheres. “Nós, mulheres dos partidos políticos do campo da esquerda e progressista, sindicatos, coletivos, movimentos sociais e feministas, denunciamos historicamente o machismo patriarcal que impõe à sociedade relações sociais e de poder baseadas na desigualdade de gênero e no menosprezo da vida das mulheres. Esse modelo tem em sua máxima expressão, a violência contra a mulher e o feminicídio”.

A carta ainda cobra da Justiça e do sistema de segurança pública de Mato Grosso do Sul “proteção e atendimento às meninas e mulheres vítimas de violências”.

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