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Brasil

Em meio a empurra-empurra e espera, passageiros sofrem com greve de ônibus em SP

A encarregada hospitalar Cláudia Barbosa, 44, nem sabia direito há quanto tempo estava sentada em um banco no terminal Grajaú

FolhaPress

29/06/2022 17h00

Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

Fábio Pescarini
São Paulo, SP

Com uma bengala e um saquinho com resultados de exames nas mãos, encostado na grade do lado de fora do terminal Vila Nova Cachoeirinha, na zona norte de São Paulo, o aposentado Antônio Augusto dos Santos, 67, olhava a enorme fila à sua frente nos pontos de ônibus da avenida Itaberaba. Surpreendido pela greve de motoristas e cobradores, ele não sabia como iria chegar no médico na avenida Brigadeiro Luiz Antônio, na zona oeste.

O idoso é um dos cerca de 1,5 milhão de passageiros afetados pela paralisação -a categoria reivindica pagamento de Plano de Lucros e Resultados (PLR) e hora de almoço remunerada.

É a segunda greve de motoristas e cobradores em duas semanas na cidade de São Paulo.
Santos não sabia como chegaria na consulta. Uma opção era pegar um micro-ônibus que para nos pontos do terminal e seguir para as estações Santana e Barra Funda do metrô. Depois, teria de buscar outro transporte.

“Mas eu tenho problema no joelho e não dá para enfrentar a multidão”, afirmou ele, que chegou por volta de 6h ao local. A consulta médica estava marcada para as 9h.

Na frente do terminal, que dentro estava vazio e com alertas sonoros sobre a greve de minuto em minuto, fiscais orientavam as pessoas que chegavam lá sobre as opções de micro-ônibus para estações de metrô. Mesmo assim, por volta de 6h, as filas eram longas, e os veículos partiam cheios.

A paralisação afeta principalmente as linhas estruturais, que fazem a ligação até o centro. Há ônibus e micro-ônibus que rodam entre bairros.

O frentista Jackson da Costa, 28, filmou a fila com mais de cem pessoas em frente a dois pontos para provar ao chefe que não iria conseguir chegar às 7h no posto de combustíveis na Casa Verde, também na zona norte.

“Não dá para subir”, afirmava na ligação por vídeo. Ele não fazia ideia de quando conseguiria embarcar.
Cláudia Oliveira Silva Santos, 47, que trabalha em um condomínio no Imirim, na zona norte, também usou o celular para relatar o problema. “Vão mandar um carro me buscar”, disse.

Paulo Gabriel, 19, que trabalha na avenida Paulista, na região central, resolveu dividir com uma amiga a corrida em carro de aplicativo para a estação Santana do metrô. Mesmo assim, a solução pesou no bolso.
“O preço disparou. Vamos pagar R$ 33 e o metrô é logo ali”, afirmou o jovem.

“DÁ MUITA RAIVA”

Por volta das 7h, nos pontos próximos ao Terminal Casa Verde, a situação era pior. Os poucos ônibus que passavam na avenida Engenheiro Caetano Álvares chegavam completamente lotados.

Deise Alexandre, 54, que trabalha em uma escola na Pompeia, zona oeste, estava há 40 minutos no ponto e iria esperar até conseguir embarcar. “Assim que acordei avisei da greve, mas não posso faltar, pois muita gente deixou de ir”, afirmou

O vendedor Ricardo Prates, 34, completou meia hora de espera em vão no empurra-empurra do mesmo ponto de ônibus. “Dá muita raiva”, afirmou ele que precisaria chegar às 8h na concessionária de veículos onde trabalha no centro.

A encarregada hospitalar Cláudia Barbosa, 44, nem sabia direito há quanto tempo estava sentada em um banco no terminal Grajaú, na zona sul de São Paulo, à espera da última condução que a levaria para casa pela manhã.

Normalmente, pega um ônibus para voltar do trabalho, na região central, até o Grajaú, onde embarca em outro coletivo para Rio das Pedras, já na zona sul. Mas nesta quarta-feira precisou enfrentar metrô e trem da linha 9-esmeralda para chegar até ali.

“Em dia normal eu chego em casa às 8h30”, disse ela que só conseguiu entrar no ônibus que finalmente a levaria embora às 9h30.

Para piorar, Barbosa, que sai às 7h após o turno no trabalho, teve de esperar a pessoa que ficaria no seu lugar, atrasada por falta de ônibus. “E ainda tive que pagar uma passagem a mais.”

A auxiliar de limpeza Andrea Henrique se negou a tentar pegar ônibus lotado por causa da Covid-19. “A doença está aí”, afirmou. Ela tentava pedir um carro de aplicativo longe do ponto para tentar ir ao trabalho no Bom Retiro, região central. “Mas já faz cinco minutos que estou aqui e nenhum motorista aceita corrida.”

Uma liminar determina que 80% dos ônibus circulem nos horários de pico. Às 15h desta quarta, o Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região julga o dissídio da categoria e pode colocar fim à greve.

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