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Conheça o TCP, facção que domina o Complexo de Israel e alvo de operação policial no RJ

Hoje, o TCP (Terceiro Comando Puro) é quem domina os dois bairros, além da comunidade das Cinco Bocas, em Brás de Pina, e Cidade Alta e Pica-Pau, em Cordovil

Redação Jornal de Brasília

10/06/2025 13h21

Foto: Reprodução

Foto: Reprodução

YURI EIRAS
FOLHAPRESS

Foi na década de 1980 que traficantes de Vigário Geral e Parada de Lucas, bairros da zona norte do Rio de Janeiro, ordenaram a proibição: moradores de uma comunidade não poderiam passar para a outra.
Separadas pela avenida Brasil, Vigário e Lucas eram palcos de confrontos cotidianos. A primeira era dominada pelo Comando Vermelho; a segunda, pelo Terceiro Comando. A divisão entre as duas facções, mostram livros e relatos de moradores locais, separou famílias e amigos por mais de uma década.

Hoje, o TCP (Terceiro Comando Puro) é quem domina os dois bairros, além da comunidade das Cinco Bocas, em Brás de Pina, e Cidade Alta e Pica-Pau, em Cordovil. Toda a região está, segundo a polícia, sob o controle de Álvaro Malaquias Santa Rosa, o Peixão, o traficante mais procurado do Rio e um dos alvos da operação da Polícia Civil desta terça-feira (10), que visa prender suspeitos, entre eles alguns investigados por criar um núcleo especializado em abater aeronaves e montar barricadas.

Duas pessoas -o passageiro de um ônibus e o motorista de outro ônibus- foram baleados na ação desta terça.

Peixão tem atualmente nove mandados de prisão abertos no BNMP (Banco Nacional de Mandados de Prisão). O mais recente deles, de abril, é por homicídio.

Vigário e Parada de Lucas estão hoje sob o mesmo domínio, mas agora quase isolados do resto da cidade, com barricadas, seteiras e pontos de observação dos traficantes, numa região em que a própria polícia atua com dificuldades.

Em outubro de 2024, três pessoas que passavam pela avenida Brasil morreram baleadas. A polícia afirmou à época que os traficantes deram tiros em direção à via.

O Terceiro Comando nasceu na década de 1980, depois da criação do Comando Vermelho. Enquanto a facção mais antiga dominou comunidades ao redor de bairros de classe média, como Botafogo e Tijuca, o TC se expandiu no subúrbio da zona norte, especialmente ao redor da baía de Guanabara.

Na década de 1990, as principais comunidades do Terceiro Comando eram Acari e Parada de Lucas, onde José Roberto da Silva Filho, o Robertinho de Lucas, morto em 2005, exercia domínio similar ao de Peixão atualmente, segundo policiais aposentados ouvidos pela reportagem.

Em 1995, Robertinho de Lucas passou a ocupar comunidades vizinhas, como a Cidade Alta e Kelson’s, todas perto da avenida Brasil. Em Lucas, Robertinho mandou construir um parque aquático e teria ordenado a pintura de casas com a mesma cor, para confundir a polícia.

No início da década de 2000, com a criação de uma terceira facção no estado, o ADA (Amigos dos Amigos), o Terceiro Comando se fragmentou. Anotações policiais da época mostram que parte dos líderes defendia a união com o ADA contra o CV, inimigo em comum; outros defendiam a independência. Foi nesta época que a facção começou a se identificar como TCP (Terceiro Comando Puro).

Dados do Mapa dos Grupos Armados, criado pelo Geni-UFF (Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos) e do Fogo Cruzado, apontam que, em 2021, o TCP dominava 8,7% de todo o território da região metropolitana do Rio com presença de algum grupo armado; outros 46% pertenciam às milícias e 43% ao CV. De 2008 a 2023, o TCP cresceu 79% seu domínio territorial.

O levantamento analisou denúncias coletadas por meio do Disque Denúncia.

Em março deste ano, policiais militares retiraram uma estrela de Davi de neon que ficava no alto de uma caixa d’água na Cidade Alta. O símbolo, visível para quem passava na avenida Brasil, representava o domínio de Peixão.

A estrela fora instalada durante a pandemia, quando Peixão criou o Complexo de Israel, onde traficantes autointitulados evangélicos atuam. Eles proíbem os moradores de praticar outras crenças em seus territórios, expulsando aqueles que não seguem sua fé.

De acordo com a polícia, Malaquias chama sua quadrilha de Tropa de Arão, em alusão ao irmão de Moisés, profeta bíblico. Ainda na Bíblia, Arão foi o responsável pela construção de um bezerro de ouro para adoração e fez festas, sendo descrito como um profeta que cometia erros, mas tinha o coração voltado para Deus.

Um relatório de inteligência da Polícia Civil afirma que o Complexo de Israel desde a pandemia expandiu seus territórios para 36 ruas consideradas antes somente residenciais, sem a presença do tráfico, na zona norte carioca. Nelas há remoção constante de barricadas.

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