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Brasil teve custos de R$ 1,3 bi relacionados ao câncer de pulmão em 2019

Segundo dados da Saúde e da ANS referentes aos anos de 2015 a 2019, aproximadamente 80% dos custos são relacionados a mortes precoces

Redação Jornal de Brasília

28/08/2023 23h58

Atualizada 29/08/2023 6h08

Imagem: Agência Brasil

ANA BOTTALLO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O Brasil gastou, em 2019, R$ 1,3 bilhão com custos diretos e indiretos relacionados ao câncer de pulmão, de acordo com estudo divulgado na noite desta segunda (28).

Segundo dados levantados do Ministério da Saúde e da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) referentes aos anos de 2015 a 2019, aproximadamente 80% dos custos são relacionados a mortes precoces, gerando assim uma alta perda de produtividade no país.

Embora seja considerado o quarto tipo de câncer mais prevalente do país (atrás, respectivamente, de câncer de mama, próstata e cólon e reto), o câncer de pulmão tem uma alta letalidade: em 2015, provocou 26,5 mil mortes, passando para 29,3 mil em 2019, com crescimento médio de 2,54% ao ano. Já os cânceres de próstata e mama causam, anualmente, menos de 20 mil mortes cada um.

O alto custo indireto relacionado ao câncer de pulmão, de R$ 1 bilhão, supera o de câncer de próstata (R$ 800 milhões), e fica próximo ao do câncer de mama (R$ 1,381 bilhão), que também tem alta mortalidade.

O estudo foi liderado pelo Insper e patrocinado pela AstraZeneca. Os resultados foram apresentados em evento nesta segunda (28) no Centro Britânico Brasileiro, na zona oeste de São Paulo.

No evento foi lançado também o primeiro consenso médico para o rastreamento do câncer de pulmão no país, desenvolvido pelo Colégio Brasileiro de Radiologia, pela SBPT (Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia) e pela SBCT (Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica).

Para avaliar o impacto econômico do câncer de pulmão no Brasil, os pesquisadores utilizaram dados de atendimentos ambulatoriais e hospitalares disponíveis nas plataformas SIH (Sistema de Informações Hospitalares) e SIA (Sistema de Informações Ambulatoriais), do DataSUS, e de atendimentos no serviço privado, obtidos pela TISS (Troca de Informação em Saúde Suplementar), da ANS.

Em seguida, dividiram os custos em indiretos, que podem ser entendidos como todos os gastos que não têm relação direta com a internação ou com a doença, e diretos, como custos ambulatoriais, hospitalares e de tratamento. Em 2019, os custos indiretos do câncer de pulmão foram de R$ 1,012 bilhão, contra R$ 1,381 bilhão para o câncer de mama, e R$ 164 milhões para o de próstata.

Por outro lado, tanto o câncer de mama quanto o de próstata tiveram gastos maiores relacionados à internação no SUS, de R$ 159 milhões e R$ 106 milhões, enquanto o câncer de pulmão teve gasto de R$ 41,6 milhões. Isto se deve, segundo os autores, ao diagnóstico tardio do câncer de pulmão, já descoberto em estágio avançado e com pouca chance de cura.

Como o gasto relacionado à mortalidade por câncer de pulmão é muito superior ao registrado para internação, os pesquisadores defendem que haja a implementação de um sistema de rastreamento de pacientes, à maneira como é feito hoje para o câncer de mama.

Além do dado quantitativo, a pesquisa realizou uma revisão sistemática (análise com base em estudos já publicados no passado sobre o tema) e um inquérito com especialistas na área para listar quais seriam os principais gargalos no diagnóstico precoce e rastreamento de câncer de pulmão no país.

Para a economista e pesquisadora do Insper Vanessa Boarati, que liderou o estudo, não havia antes dados sobre gastos com câncer de pulmão no país que pudessem fomentar políticas públicas. “Com o objetivo de quantificar os custos econômicos, mapear e classificar as principais barreiras para políticas públicas, o estudo foi feito com o intuito de analisar o que seria necessário para uma política de rastreamento nacional”, disse.

Entre as barreiras encontradas para o diagnóstico precoce de câncer de pulmão estão barreiras no sistema de saúde, que está saturado; de regulação e acesso a novas tecnologias terapêuticas; na promoção de campanhas; e de maior mobilização política e social para alcançar mudanças no cenário atual.

Segundo Carlos Gil, presidente da SBOC (Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica) o câncer de pulmão, pela alta mortalidade, tem grande impacto econômico. “O câncer de pulmão é um problema de saúde pública global e a melhor estratégia para aumentar a chance de cura é o diagnóstico precoce”, afirmou.
“Nesse sentido, as estratégias de rastreamento no Brasil ainda são muito limitadas. O estudo é importante ao tentar levantar os custos desse tipo de câncer no país, com foco no potencial impacto das estratégias de rastreio”, completou o médico.

Como há uma forte relação entre o tabagismo e o câncer de pulmão, o guia lançado nesta segunda (28) recomenda a realização de exame de tomografia de baixa dosagem em fumantes e ex-fumantes com 50 anos ou mais e que tenham fumado mais de 20 maços por ano.

Segundo estimativas do Inca (Instituto Nacional do Câncer), são esperados 32 mil novos casos por ano de câncer de pulmão para o triênio 2023 a 2025. Apesar disso, o Brasil está na rota para redução do tabagismo, como preconizado pela OMS (Organização Mundial da Saúde), tendo atingido todas as medidas recomendadas pelo órgão, segundo relatório divulgado no último mês.

O documento apresentado pelas sociedades médicas faz parte da iniciativa Lung Ambition Alliance, com apoio da farmacêutica AstraZeneca, e procura implementar um programa nacional de rastreamento e diagnóstico precoce do câncer de pulmão.

“Esse levantamento inédito é parte de uma estratégia em prol de melhorias significativas no cuidado dos pacientes com câncer de pulmão, incluindo a expectativa de dobrar a taxa relativa de sobrevida em cinco anos que é, atualmente, de 18%, para 36%”, afirmou o diretor-geral da AstraZeneca no Brasil, Olavo Corrêa.

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