RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS)
O impacto do fechamento do Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, é “devastador” ou “extremamente forte” para atividades econômicas no Rio Grande do Sul, avalia Luiz Afonso Senna, professor da Escola de Engenharia da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e doutor na área de transportes.
O terminal interrompeu pousos e decolagens na sexta-feira (3), em razão das inundações causadas pelas tempestades que devastam o estado.
A concessionária Fraport Brasil, responsável pelo aeroporto, indicou na segunda (6) que ainda não há uma data prevista para a reabertura, mas companhias aéreas como Latam e Gol já anunciaram a suspensão de voos até 30 de maio na capital gaúcha. O Salgado Filho está alagado.
“Na realidade, o impacto é devastador, é extremamente forte na economia e em atividades em geral. O Salgado Filho é um hub, o último grande aeroporto do país com mais conexões”, afirma Senna, em referência à localização próxima de países como Argentina, Chile e Uruguai.
Segundo o especialista, em termos econômicos, um dos efeitos mais dramáticos do fechamento do terminal é o prejuízo a atividades turísticas no Rio Grande do Sul.
Ele cita a barreira à chegada de visitantes que, após o desembarque em Porto Alegre, costumam se deslocar a municípios da serra gaúcha, como Gramado e Canela.
Senna diz que o fechamento do aeroporto, se durar cerca de um mês, coloca em xeque uma parcela importante da receita do turismo no ano.
Outro reflexo negativo, aponta o professor, é a interrupção do fluxo aéreo de insumos e de parte das exportações em setores como a indústria gaúcha.
“O impacto econômico não se restringe a Porto Alegre. Afeta a indústria, as várias cadeias produtivas do estado”, declara.
O professor ressalta que o fechamento do Salgado Filho também prejudica o fluxo de especialistas na área de saúde que chegam e saem da capital gaúcha pelo aeroporto. A cidade é conhecida por reunir instituições relevantes no setor.
De acordo com Senna, aeroportos regionais, com infraestrutura reduzida, passaram a registrar fluxo maior de aeronaves nos últimos dias, mas em razão principalmente da chegada de doações e equipes de apoio ao estado. Ele cita os terminais de cidades como Passo Fundo e Caxias do Sul.
“São aeroportos menores, e a capacidade de atendimento [a passageiros] é mais limitada. Não são aeroportos internacionais, como o Salgado Filho. Os aviões de pousos e decolagens são mais limitados”, afirma.
O especialista diz não ver um grande risco de sobrecarga de passageiros em aeroportos como o de Florianópolis (SC) a partir do fechamento do Salgado Filho.
Com os impactos da enchente histórica em Porto Alegre, uma opção que passou a ser cogitada por viajantes é o deslocamento rodoviário até a capital catarinense, de onde é possível pegar voos para outras regiões.
Para Senna, esse caminho tende a ser buscado somente por pessoas com necessidade extrema de viagens em meio ao desastre no Rio Grande do Sul.
Além de fechar o Salgado Filho, a tragédia climática também provocou estragos em rodovias e arrancou pontes no interior do estado.
“Acredito que uma parte pequena de pessoas, com necessidade absurda de viajar, vai procurar Florianópolis ou, eventualmente, Curitiba. Não acho que a gente vai ver filas monstruosas em Florianópolis, por exemplo”, afirma.
A concessionária Zurich Airport Brasil, que administra o aeroporto da capital catarinense, declara que, do ponto de vista de infraestrutura, o terminal tem capacidade para atender o dobro da demanda atual.
Para esta terça (7), estavam previstos dois voos extras de Florianópolis a Viracopos, no estado de São Paulo. Eles são operados pela Azul para passageiros que saíram de Porto Alegre e que decidiram se deslocar por Santa Catarina, diz a Zurich.
A concessionária afirma, ainda, que as companhias aéreas estão reforçando o efetivo para auxiliar no atendimento aos passageiros e disponibilizando ônibus diariamente de Florianópolis para Porto Alegre.
Segundo a Zurich, a Latam e a Gol oferecem dois ônibus por dia, e a Azul, uma viagem diária. Mais detalhes podem ser obtidos diretamente com cada companhia.
Em nota, a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) diz que monitora os impactos da situação atual. A agência afirma que está trabalhando para identificar alternativas que podem ser oferecidas aos passageiros afetados por voos com destino ou origem no Rio Grande do Sul.
O órgão também cita a adoção de medidas de apoio às operações de ajuda humanitária ao estado. Uma delas é a isenção de tarifas aeroportuárias para os operadores aéreos voluntários que realizam voos exclusivamente de ajuda ao estado. A medida vale inicialmente até 15 de maio de 2024, mas pode ser prorrogada a depender da manutenção da emergência local.