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Filha de imigrantes, criança negra é chamada de ‘cocô’ e leva cuspida no rosto em escola privada de Curitiba, denunciam pais

Em uma escola privada de Curitiba, pais de uma criança de 4 anos afirmam que a filha foi chamada de “cocô” e que levou uma cuspida no rosto

Redação Jornal de Brasília

14/04/2022 8h13

Foto: Arquivo pessoal

Em uma escola privada de Curitiba, o Sesc Educação Infantil, pais de uma criança de 4 anos afirmam que a filha foi chamada de “cocô” e que levou uma cuspida no rosto de um menino da mesma idade.

Imigrantes haitianos que estão há dez anos no Brasil, denunciam que a filha, Mary Kayne Belotte Elysse, sofreu racismo e defendem que o colégio não toma providências. Tudo isso aconteceu em apenas dois meses de aulas, os primeiros da vida letiva dela.

A escola, em nota, afirma que “nunca houve nenhum ato de preconceito ou discriminação dentro da entidade”. Também diz que é “contrária à intolerância e assume o compromisso de apurar situações de preconceito, discriminação e assédio” e que “adotou internamente diversas medidas para averiguação da veracidade dos fatos” no caso da filha dos imigrantes.

“Na primeira semana, o menino já chamou minha filha de cocô. A gente conversou com ela para incentivá-la a continuar estudando, que aquilo ia passar, mas, na semana seguinte, ele colocou o braço na frente dela e acabou que ela quebrou o punho” conta a mãe, Frandeline Belotte.

Sobre este outro episódio, os pais da menina afirmam que o mesmo menino fez Mary tropeçar enquanto ela subia no escorregador e, com a queda, a menina quebrou o pulso.

A escola diz que câmeras de segurança apontam que a menina caiu sozinha. Questionada se nega que a menina tenha sido cuspida, a escola não respondeu.

Belotte diz que, após o episódio da queda do escorregador, foi até a escola com o marido. Segundo ela, a pedagoga e a professora afirmaram que conversariam com a mãe do menino.

“Elas não me contaram, mas minha filha me disse que a mãe do menino trabalha na escola. A Mary Kayne ficou 15 dias afastada por causa do machucado e, quando voltou, essa mesma criança cuspiu na cara dela. Ele tem preconceito contra a minha filha e a professora só passa a mão na cabeça dele. Não fez nada, não tomou nenhuma providência” afirma a mãe.

Após ser cuspida no rosto, caso que os pais contam ter acontecido na segunda-feira da semana passada, a criança reclamou com a professora que, segundo ela, apenas afirmou que conversaria novamente com a mãe do menino.

Os pais denunciaram o caso ao Ministério Público e também ao Conselho Tutelar. Eles afirmam que aguardam a liberação do laudo médico da lesão da filha para registrarem um boletim de ocorrência. O casal também decidiu abrir mão da bolsa de estudo da criança e matricular a filha numa escola pública da capital paranaense.

” Minha filha não gosta mais de ir para a escola. É de cortar o coração” afirma o pai da criança.

Na carta em que ele comunica o desligamento da criança da escola, Elysee afirma que a filha “sofria de ataques (racismo e preconceitos e agressão física) no seio de sua instituição educativa, de forma recidiva semanalmente sem que sua instituição não tomasse nenhuma providência necessária contra isso”.

O pai da menina, Reginald Elysee, afirma que a filha perdeu a vontade de ir a escola e chora todas as vezes que chega perto do portão da escola.

Ainda em nota, o Sesc/PR afirmou que “qualquer problema comportamental e inerente ao desenvolvimento socioeducacional das crianças são tratados com as pedagogas e a entidade não é conveniente, jamais, com comportamentos inadequados, adotando as medidas possíveis para promover o convívio social e harmonioso”.

Seely e Belotte vieram para o Brasil em 2010, após o terremoto que dizimou o país natal do casal. Além de poeta, ele é aluno de doutorado em Educação na UFPR. Ela é professora, mas no Brasil trabalha como vendedora de uma loja de vestidos.

“Sofro racismo quase todo dia. Quando veem que a pessoa é negra e haitiana, você não é nada para elas” conta Belotte.

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