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Moda

Algodão sujo: as gigantes da moda não aprendem

Pesquisa detalhada, que durou um ano, traçou o caminho do algodão desde as plantações brasileiras até as prateleiras europeias

Redação Jornal de Brasília

11/04/2024 7h14

Uma investigação da organização não-governamental Earthsight revelou que o algodão utilizado por grandes marcas de moda como Zara e H&M provém de fazendas na Bahia, associadas a práticas de desmatamento e apropriação ilegal de terras. O estudo, intitulado “Fashion Crimes”, destaca que essas peças de vestuário, apesar de ostentarem certificações de sustentabilidade, escondem um histórico de impactos negativos no meio ambiente e violações dos direitos humanos.

A pesquisa detalhada, que durou um ano, traçou o caminho do algodão desde as plantações brasileiras até as prateleiras europeias, examinando 816 mil toneladas dessa matéria-prima.

O relatório aponta que o algodão analisado beneficiou principalmente oito empresas asiáticas que produziram cerca de 250 milhões de peças de roupa para varejistas, com Zara e H&M entre os principais clientes. As fazendas em questão estão situadas no oeste da Bahia, uma região do Cerrado frequentemente sujeita a desmatamento ilegal para expandir o cultivo de algodão, aumentando as preocupações sobre a sustentabilidade dessa cadeia de suprimentos.

Entre as empresas mencionadas, o grupo SLC Agrícola foi destacado por seu papel significativo na exportação de algodão brasileiro e por seu histórico controverso em termos de impacto ambiental. A Earthsight identificou que a empresa, além de outras, tem estado envolvida em práticas de desmatamento, mesmo após comprometer-se publicamente com políticas de desmatamento zero.

O relatório também aborda a questão da “grilagem verde“, onde terras de comunidades tradicionais são indevidamente registradas como reservas legais por empresas, limitando o acesso dessas comunidades às suas próprias terras. O grupo Horita, atuante no Paraná e na Bahia, é um dos casos examinados sob esta perspectiva.

A investigação conduzida pela Earthsight também desvenda as rotas de exportação do algodão, ligando diretamente as práticas questionáveis no Brasil a renomadas marcas de moda através de intermediários na Ásia. Apesar do selo Better Cotton visar garantir a sustentabilidade na cadeia de produção de algodão, o estudo sugere que essa iniciativa tem falhado em impedir a chegada de algodão associado a abusos ambientais e de direitos humanos ao mercado consumidor.

As marcas envolvidas, incluindo H&M e Zara, expressaram preocupação com as descobertas e prometeram dialogar com a Better Cotton e outras partes interessadas para abordar as questões levantadas pelo relatório. A necessidade de uma regulamentação mais estrita nos mercados europeus é enfatizada como uma medida crítica para desconectar o consumo de impactos negativos, pressionando assim os produtores a adotarem práticas mais sustentáveis.

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