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Teatro precisa ir para a rua e denunciar governo insano, diz diretor de teatro

“Penso que podemos fazer teatro na rua, e denunciar as situações que estamos vivendo, as situações de um governo enlouquecido”

Redação Jornal de Brasília

07/06/2021 17h49

Foto: TV Brasil

Felipe Tusco / Agência UniCEUB

Após temporada na internet com a peça WC – A paisagem vista da latrina, o diretor de teatro Alexandre Ribondi, da companhia Casa dos Quatro, entende que é necessário que a arte dramática encontre outros caminhos para chegar ao público. O espetáculo apresentou uma sátira aos acontecimentos bizarros que fizeram parte do cenário político de nosso país e teve apoio da FAC-DF (Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal).

“Penso que podemos fazer teatro na rua, e denunciar as situações que estamos vivendo, as situações de um governo enlouquecido e insano, que promove a morte e a doença. Eu acho que o teatro deve sair de si mesmo, nós temos que fazer em outros palcos mais abertos, mais amplos”, afirma o diretor capixaba e radicado em Brasília.

Talvez seja a hora de pensarmos melhor o que podemos fazer sobre isso, do teatro sair do espaço teatro e ir para às ruas, ao ar livre, onde o vento sopra, e o contágio é menos evidente. 

No espetáculo, WC – Wagner Cardoso (vivido por Fernando Oliveira) é um político pertencente a um clã familiar, está desesperado porque perdeu uma mochila no banheiro da Câmara dos Deputados. Com isso, ele acaba indo de encontro com Ubiratã Lima (Marcelo Pelúcio).  As personagens entram em um conflito que faz analogia à frustração da população brasileira. 

O diretor Alexandre Ribondi se surpreendeu com a montagem do espetáculo em um cenário muito diferente. “Tinha uma equipe filmando, gravando, transmitindo, e eu, como diretor, acompanhando sentado lá na minha velha poltrona. Aí surgiu um novo problema ou um novo desafio que é apresentar ou fazer teatro para o vídeo. Isso seria quase como uma blasfêmia, pois teatro tem a ver com comunhão, compartilhar, estar junto, é como uma missa.

Agora estou descobrindo coisas em mim que eu não sabia. Eu consegui dirigir imagens para vídeo, por exemplo. Nunca pensei que isso fosse possível.

Não há previsão do espetáculo voltar a ser encenado, a não ser que surja novo patrocínio. “Apesar de todos os pesares, apesar de todas nossas lutas e batalhas de artistas da cidades, das dificuldades que a pandemia trouxe, ainda assim, com os esforços da galera técnica (…) nós conseguimos receber os recursos para realizar o espetáculo”, afirma o ator Marcelo Pelúcio .

Atores encenaram peça que critica modo de fazer política (Foto: Divulgação)

Fazer política

Alexandre Ribondi diz que a crítica ao modus operandi dos políticos brasileiros é uma forma de fazer política também. “Fazer política não é só se candidatar, ser eleito e entrar no Congresso Nacional. Fazer política é o que estamos fazendo com essa peça. É uma política dinâmica, é uma política sem títulos, é uma política sem possibilidade de desvio de verba”, considera.

Então, o que eu penso é: as pessoas que assistem a esse espetáculo e gostam, estão aprendendo a gostar de política, estão que fazer política é acompanhar de perto o que os políticos fazem. 

Para o ator Fernando Oliveira, passar essa realidade no teatro e contá-la de uma forma que não estamos tão acostumados a ver  é o mais provocante na peça. “Ela parte de coisas que são comuns e hoje em dia não está tão receptiva. Mas, na história, o que acontece é chocante”.  Marcelo Pelúcio aponta que o teatro deve fazer a crítica, mas sem necessariamente apresentar uma visão de ódio da política. “É uma reflexão”. 

Outro motivo de preocupação dos artistas é com as manifestações de ódio em redes sociais. “Esse desejo de morte e vingança sempre acompanhou a humanidade, desde o seu início. Nós sempre andamos de mãos dadas com a vida e a morte”, afirma Alexandre Ribondi.

“Esse ódio não me atemoriza, porque foi no teatro que eu aprendi a não ter medo”, diz ator Fernando Oliveira

Nesse período de pandemia, a companhia Casa dos Quatro tem uma renda que permite o pagamento do aluguel. “As outras necessidades, que é nos pagar, e pagar água e luz, é suprida pela Lei Aldir Blanc. “Recebemos agora o FAC – Fundo de Apoio à Cultura – para montar o espetáculo do WC. Daqui pra frente, não sabemos. Estamos procurando novos acontecimentos. Na Casa dos Quatro, estamos buscando novas parcerias, novos trabalhos, para que entre uma renda fixa. É quando a palavra resistência ganha uma força enorme”, explica.

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