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Entretenimento

Jornalista Márcio Moreira desengaveta composições e celebra parceria com Roberto Menescal

Com a chegada da pandemia e assustado com o agravamento da situação no Brasil, Márcio lembrou de uma paixão que estava guardada

Redação Jornal de Brasília

07/06/2021 15h42

Maria Luiza Oliveira de Castro e Fernanda Bittar / Agência UniCEUB

Músico-jornalista. Esse pode ser definido o estado de espírito de Márcio Moreira, de 33 anos, que descobriu nas palavras, em diferentes formas, um caminho de afirmação profissional. Ele explica que a música sempre esteve no fundo dos acontecimentos de sua vida, mas agora ele finalmente conseguiu transformá-la na protagonista. Nascido e criado em Belém (PA), o artista atualmente trabalha como analista de marketing da Som Livre. Mas a novidade em sua vida veio nesses dias de crise da pandemia.

Flores

Foi no ano passado que Márcio decidiu começar a gravar suas canções por ele mesmo. Com a chegada da pandemia e assustado com o agravamento da situação no Brasil, lembrou de uma paixão que estava guardada. “Eu percebi que eu tinha um monte de canções engavetadas”. E tudo ficou urgente e acelerado. ‘Vai que eu pego esse negócio e morro e minhas canções vão ficar guardadas’, ninguém vais saber que elas existem”, conta. Os planos viraram frutos, aliás, flores.

“As cores das flores” é uma parceria com Roberto Menescal e a ideia veio de uma notícia. Ao ler em um jornal que o artista cultivava bromélias, decidiu escrever um poema sobre isso.

“Eu li uma notícia que ele também cultivava bromélias na casa dele, tinha mais de 200 espécies, e eu achei super poético, o cara que já faz canções, que inventou a bossa nova, se dedica ao cultivo de plantas, e ai eu escrevi um poema chamado “As cores das flores” e mandei para ele […] Então eu fiquei brincando com a coisa do poeta, do artista Roberto Menescal e do jardineiro Roberto Menescal”, explica.

E deu certo. Depois disso, Márcio conta que ficou surpreso ao receber o poema musicado, como uma bossa linda, e no fim o poema foi gravado e eles lançaram como uma canção.


Toda flor floresce da sede de uma terra funda

Seja no raso de um vaso

Ou na vastidão profunda

Todo o amor floresce da fome

De uma alma que é funda também

Onde a paixão não dá pé

Onde o querer que se quer

Desemboca em alguém

Eu sou mais das flores, que se despedem ao despertar

Do que dos amores que às vezes partem sem falar

Mesmo que as cores das flores

Não durem tanto quanto o aroma do amor

Vez em quando eu teimo em plantar

Um jardim feito do teu olhar

Eu sou mais uma planta que ao menos encanta e não causa dor

Toda flor floresce da sede de uma terra funda

Seja no raso de um vaso

Ou na vastidão profunda

Todo o amor floresce da fome

De uma alma que é funda também

Onde a paixão não dá pé

Onde o querer que se quer

Desemboca em alguém

Eu sou mais das flores, que se despedem ao despertar

Do que dos amores que às vezes partem sem falar

Mesmo que as cores das flores

Não durem tanto quanto o aroma do amor

Vez em quando eu teimo em plantar

Um jardim feito do teu olhar

Eu sou mais uma planta que ao menos encanta e não causa dor.


O início no mundo da música 

Sua carreira como músico teve início quando ele saiu da televisão e resolveu se aventurar  em Belo Horizonte, onde começou a fazer um trabalho de assessoria de imprensa, além de mestrado e doutorado. E aos poucos sua função de jornalista forneceu recursos para ele se manter enquanto estudava, o que o tornou um especialista em jornalismo e cultura. Márcio acrescenta que sempre sonhou em ser um compositor e que o seu objetivo de vida era que uma grande voz o gravasse, assim, ele já estaria super realizado e feliz. 

Já que sua infância foi  cercada de arte, Moreira foi se apaixonando por ela aos poucos, primeiro como ator, logo depois pela dança contemporânea, e quando adulto percebeu que a música seria a arte que ele poderia fazer sozinho, com mais tranquilidade. 

Confira trecho de entrevista com artista

“A gente vira adulto aí tem faculdade, depois tem trabalho, aí a gente se muda e não tem mais os amigos tão próximos, eu não podia depender de um grupo, de um elenco para montar uma peça, de uma companhia para fazer um grupo de dança. Então eu entendi que a música era uma coisa que eu podia fazer solitariamente, eu podia continuar produzindo assim”, relata o artista. 

A música na urgência 

Mesmo trabalhando como analista de marketing da Som Livre e tendo um contato direto com diversos artistas, o início de sua carreira musical não foi imediato. 

Quando questionado sobre as inspirações para suas músicas, Márcio relatou que para ele, a composição é um exercício. Explicou que busca não depender de fatores externos para compor suas canções e que acontecimentos e datas normalmente não o inspiram.

Como se fosse um hobby

Moreira afirma que seu trabalho como músico é separada de seu trabalho como analista de marketing da Som Livre. “Então minha carreira é como se fosse um hobby paralelo a minha profissão” explica. Ele conta que se lança de maneira independente e que seus lançamentos são todos focados no mercado da indústria independente e afirma que até as participações especiais do projeto são artistas que não são exclusivos da Som Livre, e que de preferência, não os tenha conhecido na Som Livre.

E agora, Márcio conta que é um sonho poder viver e poder pagar suas contas com a música, tanto a sua  pessoas quanto a dos outros.

“Então o Erasmo Carlos ouvindo uma canção minha e falar ‘poxa Márcio que legal saber que tem um artista que cuida de mim’, tem o Ney Matogrosso gravando a minha canção (Blues de Acabar) como aconteceu esse ano, e ver minha música na voz dele são realmente coisas que eu não tinha nem como planejar como menino ali em Belém do  Pará que aquilo pudesse vir a acontecer, só Deus mesmo” conta.

“Apaixonado pela palavra” 

Márcio conta que sempre esteve cercado de arte, seja a música, o teatro, a dança ou a poesia. Seus pais sempre foram muito apaixonados pela arte, principalmente pela música. Moreira conta que o lançamento de um novo disco de alguma artista sempre era um grande evento na sua casa, onde todos se arrumavam e sentavam para jantar algo diferente e ouvir o novo disco do início ao fim. 

Além disso, a escola em que estudava também incentivava o contato com a arte. Lá, eram realizadas diversas atividades extracurriculares, como grupos de teatro, dança e música.

“Eu participava de tudo, arte sempre foi a minha assim, minha mãe sempre foi uma mulher muito artística, ela fez teatro na adolescência. Então, eu comecei toda essa história com o teatro, eu comecei a fazer teatro, que também era um lugar onde eu podia contar histórias”, contou. 

Ele também relatou que a base da formação do seu grupo de teatro era a poesia, seus diretores diziam que antes de se tornar um ator, um bailarino ou um músico, eles deveriam ter um olhar de poeta. Assim, Márcio começou a desenvolver habilidades de poesia. “Naturalmente uma coisa puxa a outra, comecei a escrever poesia, já tinha alguns amigos que tocavam, eles começaram a musicar as minhas coisas”, explicou. 

A carreira como jornalista

Márcio conta que encontrou no jornalismo a possibilidade de unir a palavra com uma profissão, ele desejava ter uma troca com as pessoas e afirma que o jornalismo possibilitou isso.

“Minha maior ambição era o desejo de contar histórias e o jornalismo me veio como essa grande possibilidade de ser um contador de histórias”. 

Moreira conta que quando se formou existia um preconceito com o telejornalismo. Segundo ele, os jornalistas realmente desejam ter seus textos publicados em um jornal impresso de circulação estadual, pelo menos. “Só que a vida acabou me levando para o rádio, do rádio para TV e aí eu comecei a aprender a contar histórias lincando imagens com texto, que também virou uma paixão grande, aí eu quebrei esse preconceito com a televisão e fiquei um bom tempo trabalhando com isso” explica o artista.  Na TV, Márcio trabalhava na TV Globo, em Belém, e sempre acabava com as pautas de artes, realizando a cobertura de eventos e shows. 

Confira trecho de entrevista

Paixão

Moreira acredita que para todas as profissões, o mais importante é a paixão, e que se não há essa paixão e esse ímpeto de poder dar voz à alguma coisa, e se torna somente uma burocracia para cumprir tabela e pagar um salário no final do mês, a infelicidade é quase certa. O artista afirma que não há como estar apaixonado 24 horas por dia e 30 dias por mês, e que assim como toda paixão às vezes ela está mais quente e às vezes pode dar uma esfriada, sendo importante o frio na barriga dessa paixão. 

“Eu diria que a paixão precisa ser o combustível das nossas escolhas, não à toa hoje eu trabalho com música e jornalismo, porque são as coisas que sempre me moveram por mais que eu estivesse relutante de chegar nesse lugar.” 

Moreira contou que escreve e gosta de músicas de gêneros diferentes, e que considera importante essa metamorfose rítmica e que atualmente está escrevendo em duas colunas, uma sobre música cristã e outra secular, Márcio afirma que existe um preconceito e estereótipo em relação a música gospel. E um dos ímpeto desta coluna é desmistificar a música gospel, “Trato música como música”, afirmou, e logo emendou que a palavra não tem preconceito.

O palestrante contou que mesmo achando muita responsabilidade ser compositor, tinha um ímpeto de construir outras formas de narrativa e pode realizar isso escrevendo canções, “Sempre amei a canção”, relatou. Quando escrevia suas músicas, ele sempre pensava nas vozes e sonhava em tê-las gravadas por uma grande voz, o que se realizou quando Ney Matogrosso gravou uma de suas canções.  

Quando perguntado acerca de suas inspirações, o artista citou o poema do autor Carlos Drummond de Andrade, “ Procura da poesia”, onde não deve haver somente um acontecimento para ter as inspirações. Em seguida, Márcio abordou sobre como há alguns poetas que colocam a poesia em um lugar inalcançável, e que muitas vezes essa fala pode ser precipitada, já que todos podem ser poetas e que esse lugar (da poesia), é para todos. E afirma, que mesmo sendo médicos, arquitetos, todos têm um olhar de poeta irreversível. 

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