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Teatro e Dança

“O teatro pode modificar realidades individuais e coletivas”, diz ator que dá vida a Luiz Gama em espetáculo

“Luiz Gama – Uma voz pela Liberdade” faz parte do 2º Festival Dulcina de Teatro e chega a Brasília neste domingo (13)

Tamires Rodrigues

11/11/2022 5h00

Atualizada 10/11/2022 19h13

Foto: Divulgação/Valmyr Ferreira

“Luiz Gama – Uma voz pela liberdade” conta a história do jornalista, poeta e advogado abolicionista Luiz Gama, que libertou mais de 500 escravos de cativos ilegais pelo Brasil. Protagonizado por Deo Garcez e Soraia Arnoni e dirigido por Ricardo Torres, o espetáculo retrata uma das figuras mais importantes do país contra a escravidão. O espetáculo volta a Brasília neste domingo (13), através do 2º Festival Dulcina.

O roteiro foi idealizado pelo ator Deo Garcez, que também dá vida a Luiz Gama, contextualizando temas do passado para os dias de hoje, em uma conversa que faz o público refletir sobre o que está sendo dito em cena. “A luta de Luiz Gama é necessária, fundamental, permanente, haja vista os casos de racismo que acontecem a cada instante no Brasil”, declara Deo, em entrevista ao Jornal de Brasília.

A peça “Luiz Gama – Uma voz pela liberdade” e dividida em dois momentos: em alguns deles, ele está sentado, lendo, conversando; em outros, se levanta para fazer denúncias sobre a escravidão. “Esse distanciamento a um envolvimento emocional é um recurso proposto pelo diretor Ricardo Torres para fazer com que o público reflita”, conta o ator.

O espetáculo ainda conta com a presença da mãe de Luiz Gama, vivida pela atriz Soraia Arnoni, que também atua como narradora e consciência para o personagem de Luiz. A ideia da personagem de Soraia é incluir o publico na peça pelos questionamentos sobre a vida e o trabalho de Luiz Gama e sobre como era a discriminação do passado é como é na contemporaneidade. “A atriz Soraia Arnoni, que faz o espetáculo comigo, é narradora e faz vários outros personagens como a Luísa Mahin, a própria mãe do Luís Gama, que foi uma das revolucionária de revolta de escravos lá em Salvador e que é uma figura importantíssima historicamente. É a grande inspiração para a ltta de Luiz Gama”, explica Deo.

Foto: Divulgação/Valmyr Ferreira

Confira a entrevista completa com Deo Garcez:

JBr: Como está sendo fazer parte do espetáculo “Luiz Gama – Uma voz pela Liberdade”?

Deo Garcez: Além do imenso prazer de fazer o espetáculo há sete anos, é sobretudo uma missão de vida, do que se refere à recuperação histórica deste homem, Luís Gama, que foi invisibilizado durante tanto tempo e que a gente, através do espetáculo, recupera a importância dele na luta pela abolição, pela liberdade, pela igualdade de direitos, pela justiça. Esse espetáculo tem uma dramaturgia. A ideia inicial é minha e também do diretor Ricardo Torres, que teve uma carreira muito importante em Brasília, é com quem eu tenho trabalhado durante todos esses anos no teatro, sendo dirigido por ele, é uma parceria de longa data. Esse espetáculo, sobretudo, é uma missão de vida.

Eu sempre fui muito inconformado com qualquer tipo de injustiça. E quando refere à questão racial, mais especificamente com relação às consequências da escravidão, eu me auto responsabilizo de estar usando o teatro como instrumento.

Em alguns momentos da peça você sai do personagem e começa uma nova parte do texto fazendo denúncias sobre a escravidão. Como é equilibrar esses dois momentos?

Realmente, temos o momento de absoluta entrega, vivendo o personagem, mas ao mesmo tempo estamos ali fazendo uma denúncia, trazendo para os dias atuais. Quando a gente pensa que a cada 23 minutos um jovem negro assassinado no Brasil, detectamos que é necessário denunciar e conscientizar. A luta pela inclusão e igualdade é um recurso proposto pelo diretor Ricardo Torres. Tem elemento crítico suficiente para compreender essa nossa realidade de hoje, contestá-la e reivindicar um mundo mais justo, mais igualitário e antirracista.

Foto: Divulgação/Valmyr Ferreira

A composição do personagem também traz cenas onde você lê os textos do próprio Luiz Gama. Quando você conheceu o trabalho dele?

Eu o conheci em 2004 através de uma matéria. No mesmo ano, eu sugeri ao Ricardo que um dia nós fizéssemos a história desse herói negro tão invisibilizado da nossa história fia oficial do livro de dados dos bancos e escolares. Em 2015, meu amigo Humberto Adami, que é a presidente da Comissão Nacional da Verdade da Escravidão Negra no Brasil, me sugeriu que escrevesse a história de Luiz Gama. Temos feito até hoje.

Durante vários momentos da peça, eu falo textos na primeira pessoa do próprio Luiz Gama, textos que ele mesmo escreveu ou falou na época dele. Então, eu vivo na primeira pessoa. Em outros momentos, eu sou também alguns pequenos personagens, assim como da mesma forma a atriz Soraia Arnoni, que faz o espetáculo comigo, ela é narradora e faz vários outros personagens, como a Luísa Mahin, a própria mãe do Luís Gama, que foi uma das revolucionária de revolta de escravos lá em Salvador e que é uma figura importantíssima historicamente. É a grande inspiração para a luta de Luiz Gama.

Mesmo abordando a discriminação do passo, a peça também fala sobre a discriminação atual. Qual a importância de fazer essa reflexão?

Tem uma importância fundamental. Eu sempre vejo o teatro como instrumento não somente de diversão e entretenimento, mas também de reflexão e de modificação de realidades individuais e coletivas. No nosso caso, eesse espetáculo é um mecanismo de luta antirracista, de luta por igualdade, inclusão, reparação e justiça. Isso pra mim é um prato cheio, porque eu sempre entendi que a arte tem esse papel de transformar realidades, no melhor sentido.

Foto: Divulgação/Valmyr Ferreira

A peça faz parte do Festival Dulcina. Como é voltar para Brasília trazendo este projeto?

Felicidade imensa. Eu fui aluno da Dulcina, fiz bacharelado e licenciatura. O Ricardo foi aluno e professor, me deu aula de indumentário, figurino. Voltar a Brasília com o espetáculo tem um sabor especial exatamente por esse motivo, além da importância dela no teatro brasileiro, em Brasília, na minha formação e na de tantos outros atores amigos. É a terceira vez que a gente vai a Brasília, é bom registrar isso. Nós também já fomos convidados por outros festivais com o espetáculo. Isso nos glorifica, nos deixa super agradecidos.

Serviço
“Luiz Gama – Uma voz pela liberdade”
2º Festival Dulcina de Teatro
Domingo, 13 de novembro
A partir das 20h
Espaço Cultural Renato Russo – 508 Sul
Ingressos a partir de R$ 10 na Bilheteria Digital

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