Menu
Entretenimento

Street Cadeirante: dançarinas do DF revelam conexão do ritmo com a alma

O filme irá mostrar o desempenho do Street Cadeirante durante a pandemia e será exibido em duas sessões na Funarte e no Cine Drive-in

Redação Jornal de Brasília

15/09/2021 18h01

Foto: Divulgação

Arthur Ribeiro e Bruna Rossi
(Jornal de Brasília / Agência de Notícias UniCEUB)

A dança sempre esteve presente na vida dela. Desde criança, adorava ir em casas de show se movimentar no ritmo do forró, do axé, da lambada. Conforme chegou à vida adulta, a prática se manteve presente em seu cotidiano, indo acompanhada de seu marido. Ao ter sua primeira gravidez, não foi a gestação e o barrigão que fizeram esse costume ser interrompido, estava sempre nas festas dançando. Com tantas adaptações para seguir no hábito de dançar, que é presente em sua vida desde muito jovem, não seria a cadeira de rodas que iria fazê-la parar. Julliana Lindsem, de 34 anos, fica orgulhosa de ser chamada de bailarina.

Julliana irá estrelar, junto de outras dançarinas, a obra “Rodas em Dança”, especial em comemoração ao Dia Nacional da Luta da Pessoa com Deficiência, celebrado no próximo dia 21 deste mês. O filme irá mostrar o desempenho do Street Cadeirante durante a pandemia e será exibido em duas sessões, uma delas no dia 29 de setembro, nas redes sociais da Funarte, e a outra no dia 30 do mesmo mês, no Cine Drive-in. O espetáculo em questão foi premiado no Festival Funarte Acessibilidança Virtual.

Confira o trailer do espetáculo

O Street Cadeirante, por sua vez, é um projeto de dança voltado para pessoas em cadeira de rodas. A idealizadora da companhia é a jornalista Carla Maia, que dançava na banda da escola onde estudava e, mesmo após ficar cadeirante, sempre manteve o sonho de voltar a dançar. Carla, conforme conta Julliana, começou a fazer aulas de street dance junto com andantes em um instituto, e foi de lá que surgiu a ideia, já que imaginava as salas repletas de cadeirantes dançando. A jornalista então levou seu pensamento ao professor Wesley Messias e para Juliana Castro, a dona do instituto. Ambos gostaram muito da ideia, e daí surgiu a parceria, com Wesley sendo coreógrafo e diretor artístico do projeto por dois anos e o Instituto Juliana Castro sendo a primeira casa do Street Cadeirante.

Efeitos da pandemia

Assim como as dançarinas tiveram que se adaptar ao novo estilo de dança, os ensaios também tiveram que se adequar ao cenário da pandemia. As duas aulas por semana são realizadas, por enquanto, por meios virtuais e contam com pessoas de diversos locais, como os participantes do Chile, do Paraguai e de Portugal, além dos próprios brasilienses. Os poucos ensaios presenciais foram quando houveram apresentações ou gravação de clipe, mas sempre mantendo todos os protocolos de segurança. 

Apesar da falta do contato ocasionada pelo vírus da Covid-19, Julliana consegue enxergar pontos positivos. “É muito gratificante para nós, nessa pandemia em que muita gente não está fazendo nada porque as atividade pararam. Ver que as pessoas têm essa oportunidade de estar dançando, de ter professores tops para estar nos ensaiando coreografias maravilhosas. Tem sido muito bom para a gente expandir o projeto dessa forma”.

Na vida de Lindsem, o Street Cadeirante vai muito além de um passatempo. Para quem dança desde criança e superou obstáculos para seguir dançando, é uma relação de gratidão e de pertencimento que faz bem. “É até difícil saber a minha parte favorita, porque gosto de tudo, desde os ensaios, as apresentações, estar com os bailarinos, o Street Cadeirante se transformou em muita coisa na minha vida, então acho que estar no projeto é a minha parte favorita”. Para ela, a dança é um equilíbrio entre mente, corpo e alma. 

“A dança, para mim, completa a vida de qualquer pessoa, não só das mulheres, mas de todo mundo, acredito que se todos dançassem um pouquinho para sentir essa vibração seriam mais felizes, como eu sou, como eu tenho sido”. Julliana diz também que se encontra na dança. “Cada movimento novo, cada percepção diferente que a gente não conhece e vai se descobrindo, acho isso muito importante para o bem-estar e para autoestima”, ressaltou a bailarina.

E como a dança também é um espetáculo, há de ter o respeitável público, que, no caso do grupo para cadeirantes, sempre tiveram uma excelente relação. Com recepções calorosas nas apresentações, demonstrações de carinho nas redes sociais e até mesmo no dia-a-dia, como conta Julianna, que disse já ter sido perguntada na rua se era integrante do projeto e recebeu diversos elogios por isso.

Acidente

Ana Fiche é mais uma das dançarinas do Street Cadeirante. Aos 51 anos, a servidora pública aposentada também criou um laço afetivo com o grupo. Após sofrer um grave acidente de carro em janeiro de 2019 que a deixou paraplégica, ela conheceu Carla Maia no Hospital Sarah, que a chamou para participar de uma aula sem compromisso. 

Dessa situação, surgiu uma paixão inexplicável e que mudou a vida de Ana. “Me apaixonei pelo projeto e fui convidada a participar do grupo. Aceitei de imediato e nem imagino como seriam meus dias sem a dança”, compartilhou. Para ela, o grande ponto positivo do grupo é a troca de experiências com os colegas, o que, em suas palavras, é algo maravilhoso. Somado a isso, a dançarina diz que a dança estabelece uma conexão com a alma, que diverte e encanta.

A dança liberta

Outra participante do Street Cadeirante é Mariana Guedes, que, assim como suas colegas, também caiu nas graças do projeto. Ela explica que a dança extrapola os limites de ser apenas uma diversão ou uma atividade física, mas também tem o impacto do autoconhecimento para as pessoas, sentimento que se mantém desde seu primeiro ensaio na companhia. “Dançar as músicas que eu gosto, com as pessoas que eu gosto e descobrir novos movimentos do meu corpo, é tudo. A dança liberta e nos faz feliz, não sei mais viver sem”.

Além da questão do conhecimento próprio, Mariana ressalta a importância da dança também nas relações interpessoais, até porque isso contribui para uma das suas partes favoritas do projeto, que seriam as apresentações e clipes, pois é um bom momento no qual pode conviver com os amigos. 

Estar sob uma cadeira de rodas certamente mudou a vida dessas três dançarinas, assim como o Street Cadeirante, que trouxe mais uma nova mudança. O principal fator em comum entre as três, além de serem todas mulheres, é o quanto a dança trouxe um acalento, um abrigo, uma diversão que é mais do que ser somente uma atividade física, mas também serve como alimento para a mente, o corpo e a alma, algo que dizem não viver mais sem, que todos deveriam experimentar.

Convite aos novos integrantes

As integrantes querem divulgar cada vez mais o grupo para que novas e novos dançarinos  queiram participar, sejam homens ou mulheres. “É só nos deixar uma mensagem via direct no @Streetcadeirante e que sejam muito bem-vindos, vamos adorar conhecer novas pessoas e trazer mais integrantes para o grupo”, diz Juliana. “O que precisa é apenas a vontade de dançar e interagir com outros deficientes, de ambos os sexos. Basta acessar o link na bio do Instagram do grupo e preencher o formulário das aulas on-line”, completou Ana.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado