Menu
Música

Rapper Joiaa luta por representatividade do Norte na cena musical brasileira

Cantor, bacharel em Direito, funcionário em órgão público, produtor de eventos, membro do selo formado por artistas do Norte, o Aposse92, o rapper Joiaa é um talento nato presente na cena musical nortista

Redação Jornal de Brasília

03/05/2023 16h39

Foto: Demi Brasil (@phdemi) / Divulgação

Nathália Queiroz
Jornal de Brasília/Agência Ceub

Cantor, bacharel em Direito, funcionário em órgão público, produtor de eventos, membro do selo formado por artistas do Norte, o Aposse92, o rapper Joiaa é um talento nato presente na cena musical nortista e tem ganhado cada vez mais destaque pelo seu trabalho e engajamento na valorização da cultura local.

Joiaa iniciou sua carreira como rapper na adolescência, quando começou a produzir e divulgar suas músicas nas redes sociais e em eventos locais. Desde então, tem se dedicado à produção musical e cultural, colaborando com outros artistas e buscando ampliar a visibilidade do Norte no cenário artístico.

Agência Ceub – Você começou a dar os primeiros passos no rap desde cedo, ainda adolescente. Como foi o começo da sua carreira no rap em Manaus?

Joiaa: Eu comecei gravando em casa e na casa de amigos meus, assim como faço até hoje. Mostrei meu trabalho para amigos da escola e, como todo início, não era muito bom. (risos) Mas foi assim que dei o “start”. Depois de cerca de um ano, comecei a ter contato com um movimento de bancas de rap em Belo Horizonte, a 031 e a GetSick, e estabeleci conexões com eles em Manaus, principalmente pela internet (Orkut, na época).

Abri uma filial de uma das bancas de lá, em Manaus, a 031, e, com o início do movimento, minha música começou a alavancar. Naquela época, não tinha YouTube, então a divulgação era feita por meio do 4shares, links para download, existiam os MC’s da banca e as pessoas responsáveis pela divulgação na banca. Foi um começo contrário do que habitualmente é. Nesse começo, tinham muitas pessoas divulgando meu trabalho, o que me ajudou a alcançar muitos jovens na faixa dos 14 aos 16 anos. No começo, não tínhamos experiência em palco, mas nos esforçávamos para entregar o nosso melhor. Isso tudo aconteceu por volta de 2010/2011, há cerca de 13 anos atrás. Loucura!

A sua caminhada fazendo parte da Flynow e Vapor deve ter te proporcionado experiências memoráveis. O que você leva com você dessa época?

A Flynow foi basicamente uma continuação da banca, mas agora como um grupo. E o que mais me marcou foi quando começamos a nos profissionalizar um pouco mais. Realizamos um show na Virada Cultural e fomos a terceira banda mais votada para tocar, então o movimento da banca ainda era muito forte, mesmo que agora como um grupo, e a galera abraçava muito a nossa ideia. Já com a Vapor, foi após a Flynow.

Durou menos tempo, de 2016 até 2018, mais ou menos, e foi um grupo que marcou em todos os lançamentos a questão da profissionalização. A gente não fez álbuns, só “singles”, com clipes com uma qualidade muito boa de áudio e visual, o que era novidade na época. Tudo o que apresentamos naquela época era muito bom para o que tínhamos à disposição, sabe? Fizemos feat com a Anne Jezini, gravamos o clipe de “Outra Noite” que contou com a participação de várias modelos, inclusive a Mariana Castilho, e conseguimos movimentar as coisas, fazendo muito com pouco, graças ao apoio dos amigos.

Você faz parte da Aposse92, de onde veio a ideia de montar o grupo? Como vocês lidam com a expectativa de serem aposta para o cenário do rap no norte e o que vocês estão fazendo para expandir o alcance da música de vocês?

A Aposse92 é um grupo liderado pelo rapper Kurt Sutil, que é um rapper nortista em ascensão em todo o Brasil. Ele inclusive irá participar do novo projeto do Haikaiss, tem som com o Victor Xamã e tal. Nasceu no intuito de ser um coletivo que consegue divulgar o trabalho individual de cada um dos integrantes e também realizar trabalhos em conjunto.

É muito marcado pelo estilo, pelo conceito e pelas linhas ferrenhas, sendo que a maioria dos membros faz parte de uma zona periférica de Manaus, na zona leste. A APosse92 é um movimento tão forte que realiza tudo, desde o processo de gravação, até o processo de mixagem, masterização, edição e direção de videoclipes. Atualmente, o Kurt faz parte da empresa ONErpm, os demais integrantes da Aposse92, ainda não, mas isso acaba agregando ao grupo e ainda mais nos lançamentos da própria Aposse92, ainda que essa seja uma conquista individual dele.

O rap é um gênero musical que tem estado em ascensão no Brasil. Como você avalia a cena de rap em Manaus, dá pra comparar com outras cidades brasileiras?

No quesito qualidade, pessoas, artistas, profissionais trabalhando, eu acredito que sim. Dá sim pra gente comparar, a gente tem um potencial pra exportar muitos artistas daqui, pra onde o rap tá mais em evidência, como no Sudeste. A gente tem um potencial artístico muito grande, não só no rap, mas nos diversos nichos musicais, porém ainda falta aquele olhar pro Norte, sabe? Ainda falta uma atenção maior pra cá, principalmente do Sudeste, com o que tá acontecendo aqui. É impossível ignorar o que está acontecendo no Norte.

Assim como 2016 o rap “Sulicidio” foi pro Nordeste um divisor de águas, com a atenção ao Baco, do Diomedes, do Jovem Dex, do Matuê e outros, ainda falta recebermos a devida atenção, pois o Norte é ainda mais invisibilizado do que o Nordeste, talvez por questões geográficas ou falta de investimento dos empresários. Ainda falta o olhar dos investidores.

É comum ver investimentos concentrados no eixo sudeste-sul, deixando outras regiões, como o Norte, desvalorizadas e com menos oportunidades. No entanto, aqui temos muitas pessoas talentosas, com boas produções e disposição para fazer acontecer. É uma questão de dar mais visibilidade e oportunidades para essa região.

Como surgiu a ideia de criar o evento O Bailinn? O que o torna diferente de outros eventos de rap em Manaus?

O Bailinn nasceu da necessidade que sentíamos, principalmente eu, de não conseguir fazer shows e querer encontrar uma forma de apresentar nossos shows ao público. Mesmo já tendo lançamentos solo como Joiaa, ainda faltava a realização de shows, o que era muito precário ou desvalorizado por produtores. Então, nasceu da ideia de criar um baile pequeno para 200 ou 300 pessoas, onde poderíamos apresentar nossos shows e também incluir outros artistas como o Kurt, DJ LF e o grupo de rap JDV BDN, além de trazer mais variedade musical.

O objetivo era cobrar um preço justo e condizente com o “rolê”, mas não deixar de entregar qualidade, mesmo que fosse o básico, como um sub no som para bater o grave, que é o que faz diferença no rap. O que torna

O Bailinn diferente é a sua mescla de estilos musicais como o rap, funk, brasilidades, trap, entre outros, mas também um baile representativo, onde o respeito impera, onde as pessoas podem se sentir bem e vestir como quiser, um baile que a galera se dedica pra ir bem vestida, estilosa.

Você é bacharel em Direito. Como tem equilibrado sua carreira no rap com sua formação profissional? Elas se influenciam de alguma forma?

Por muitas vezes eu ficava acuado em relação a essa questão, por ser bacharel em direito e trabalhar em um órgão público. Fico um pouco apreensivo de que isso possa gerar algum problema ou conflito, mas acredito que é possível conciliar.

Nos tempos atuais, a mente das pessoas está muito aberta em todos os nichos possíveis, apesar de sabermos que ainda existem muitas pessoas fechadas.

Na maioria das vezes, as pessoas têm a mente aberta, e isso é uma forma de mostrar para outros jovens, como eu, que estão no corre da música, que também é possível ter outro trabalho enquanto ainda não conseguem se manter apenas com a música.

Sabemos que é difícil se manter apenas com a música, então, eu, por exemplo, mesmo produzindo eventos, não consigo me manter apenas com isso, preciso do meu trabalho estável para bancar meus sonhos. Conciliar o trabalho com a produção de eventos, música, gravação e shows é possível, e sempre faço questão de mostrar isso nas redes sociais.

Mostrar que tenho uma dupla personalidade no sentido de ter dois, três trabalhos diferentes, como artista, produtor e residente jurídico no órgão público. Apesar de o meio jurídico ter muito preconceito, acredito que estamos quebrando essas barreiras para mostrar que somos tão capazes quanto qualquer pessoa mais formal e engomada. Passar em uma prova e ocupar esses espaços, nós também podemos.”

Quais são seus planos futuros como artista? Você tem algum projeto específico que gostaria de realizar?

Essa foi foda. Vamos lá. Meus planos como artista são os seguintes: continuar fazendo meus shows aqui e expandir para uma zona macro, alcançando outros estados. Isso a gente tem feito de forma “trabalho formiguinha”.

Por exemplo, o Victor Xamã, grande artista do Norte, fez um projeto chamado “Coletânea à Parte”, onde ele reuniu artistas destaques do Norte em um álbum que deu toda a produção e tal, tudo para divulgar e difundir o trabalho da galera daqui.

Eu fui um dos escolhidos e isso fez com que eu alcançasse algumas pessoas do Pará, de Curitiba e de vários lugares do Brasil. Acredito que minha principal proposta para minha carreira é expandir e difundir meu som para outros estados, alcançando mais pessoas e conquistando novos ares, mas principalmente conquistar mais pessoas daqui.

Porque acredito que a gente conquista aqui para conquistar fora, e depois que a gente chegar ao máximo de conquistas no Norte, temos que chegar ao máximo de conquistas fora daqui.

Sobre projetos, tenho um EP colaborativo com o rapper Vário$, que integra o QUA$IMORTO, e com o Zink, que é um novo rapper da cena manauara que acredito muito no trabalho dele. Fizemos um EP colaborativo chamado “174 waves”, que é a BR daqui que vai para o interior de Presidente Figueiredo. É um EP que vai sair agora em maio e, em breve, depois do EP, começo a produção do meu álbum solo. Quero produzir um álbum solo para o começo de 2024, no máximo.”

Acredita que em algum momento vai ter que decidir entre suas profissões?

Sobre decisões, acredito que sempre conseguirei conciliar, mas há momentos em que a produção e os shows acabam conflitando. Se você produz e canta, o evento exige o melhor de ti e, se você faz um show no seu evento, está exigindo o melhor de si no seu show.

Às vezes, há conflitos. Devo desacelerar o ritmo entre um e outro. E sobre a profissão de formação, acredito que talvez em algum momento tenha que dar uma desacelerada para poder conquistar novas coisas. Por exemplo, atualmente eu produzo, canto, trabalho em uma residência jurídica e ainda faço pós-graduação (risos).

Estou dividindo minha atenção em muitas coisas, então talvez em algum momento, se eu estiver estudando para um concurso ou algo do tipo, talvez precise diminuir um pouco o ritmo, mas isso não significa que vou parar. Talvez eu apenas fique um pouco mais afastado das redes sociais.”

Qual conselho você daria para jovens que estão começando na cena de rap em Manaus ou em outras cidades brasileiras?

Primeiramente, não deixe de se profissionalizar na sua área, independentemente do seu sonho. Busque as melhores alternativas para se aprimorar.

Mas se o seu sonho é a música, foque. Entendeu? Mas é aquela coisa, se a sua necessidade falar mais alto enquanto você ainda está no corre pra ter o seu crescimento musical, como na realidade de 99% por cento dos brasileiros, no momento que você estiver construindo sua carreira, não deixe de trabalhar pra poder investir no seu sonho.

Se você não tiver um financiador, um investidor, não deixe de trabalhar para investir no seu sonho. O sonho deve estar sempre vivo e alimentado, mas para isso precisamos de investimento. Por isso, é importante investir no seu trabalho até que ele comece a dar retorno.

Eu levei 11 anos para conseguir monetizar meu sonho. Produzir eventos de rap foi uma forma que encontrei de monetizar e movimentar dinheiro e a cena musical. Primeiro, movimentei o meu trabalho, segundo, movimentei a cena e, terceiro, movimentei dinheiro. Isso me permitiu continuar investindo e acreditando no meu sonho, que é o primeiro propósito de tudo.

Não deixe de trabalhar, não deixe de estudar, não deixe de se aprimorar enquanto segue o seu sonho. É o percurso, é o caminho.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado